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REGINA CASÉ CRITICA MAU USO DA CLASSE C



Em entrevista à edição de aniversário do Meio & Mensagem, a apresentadora Regina Casé criticou a maneira como o mercado de mídia e publicitário se apropria da classe C e da cultura popular. Para ela, as empresas muitas vezes abordam esse grupo apenas como uma nova fatia de mercado e isso não leva, necessariamente, a uma percepção mais realista dessas pessoas. “Me preocupa que isto não seja feito de uma maneira genuína”, afirma Regina. “Não pode ser feito apenas para correr atrás de uma nova fatia do mercado. Se o Brasil cresce como um todo, ele não só fica mais saudável, como também outras fatias vão começar a participar do mercado. A gente vai ter um mercado mais saudável, teremos uma televisão mais real e mais complexa, com mais diversidade, que vai mostrar mais Brasis, mais pessoas, o que é saudável para todo mundo”, diz.
Há três décadas, Regina Casé utiliza a televisão para dialogar com as classes populares. Seus programas – Um pé de que, Brasil Legal, Programa Legal, Central da Periferia e, mais recentemente, com o Esquenta, veiculado aos domingos na TV Globo, com nova temporada garantida em 2013 – anteciparam o fenômeno mais recente da comunicação dirigida para a nova C e sua intimidade com esse grupo lhe dá expertise para criticar o mercado. “É uma relação de respeito e confiança que vem sendo construída há quase 30 anos. Eu não vou a uma favela que foi pacificada para pegar só a pacificação. Nesta mesma favela, já tínhamos ido muitas vezes quando ela era barra pesada. E nunca fui à favela com segurança”, conta.
Leia trechos da entrevista com Regina Casé, que pode ser lida na íntegra na edição desta semana do Meio & Mensagem.
MEIO & MENSAGEM ›› Você acha que abriu espaço para a periferia aparecer na TV ou isso acabou acontecendo?
REGINA CASÉ ›› Sim, mas não foi intencional. Por exemplo, o programa Central da Periferia era intencional, a gente tinha um manifesto, uma coluna semanal no Globo falando sobre cada aspecto deste grande movimento que estava acontecendo no Brasil. Quando eu leio uma matéria agora sobre a chegada da classe D na C fico impressionada por que isso revela uma porção de aspectos e eram coisas que constavam no manifesto da Central da Periferia e que a gente estava mostrando: como tinha gente se divertindo, produzindo CD e DVD e ganhando dinheiro com isso; como o cara que mora na periferia de São Paulo compra o carro dele lá, ele já não vem para o meio, para comprar. Ele já tá comprando a produção que existe ali, o comércio que existe ali. Mas acho que uma coisa que mostra realmente uma grande mudança que aconteceu é que antes, uma menina da favela, mesmo que fosse negra ou nordestina, o que às vezes é quase a mesma coisa, tinha como sonho um galã branco, loiro, de olho azul, da novela. Todos os galãs eram assim, não existia o Lázaro Ramos, não existia nada. A roupa que ela queria era a roupa igual a da filha da patroa, enquanto o namorado que ela queria, o príncipe encantado, era o filho da patroa. Hoje em dia nem que você dê para ela, de graça, um príncipe assim ela não quer. Ela quer o negão maravilhoso, que é o Tiaguinho do Exaltasamba. Ela quer o jogador de futebol mais bonito, o rapper da comunidade dela, e quer se vestir como as “nens” da comunidade. Não quer se vestir que nem uma patricinha filha da patroa da mãe dela. Esta é uma mudança, revolucionária e gigantesca a que a gente assistiu. E eu procurei participar o mais de perto possível e incentivar, com todos programas que a gente vem fazendo: Minha Periferia, Central da Periferia, o Brasil Legal, o Programa Legal e, agora, com o Esquenta.
Fonte: Meio e Mensagem

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