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Aterro é utilizado irregularmente em Abatiá

Material deveria ser destinado a aterros privados; carcaças de animais também foram jogadas no local

Fotos: Luiz Guilherme Bannwart
Município alega não ter recursos para adequar aterro
Catadores sustentam família com material recolhido no local
Abatiá - Uma denúncia anônima recebida pela FOLHA no início desta semana revela a destinação irregular de rejeitos ao aterro sanitário de Abatiá (Norte Pioneiro). Com pouco menos de cinco hectares, a área recebe diariamente lixo coletado no município, exceto o que é separado para reciclagem. O problema é que o material é depositado em valas abertas no terreno sem qualquer tipo de preparo técnico e ambiental. Além de ser acondicionado de forma irregular, o lixo também é queimado, e a fumaça altamente tóxica que polui o meio ambiente compromete a saúde dos catadores e funcionários municipais que trabalham no local.

Como se não bastasse, três vezes por semana os funcionários do matadouro municipal descartavam várias carcaças de animais no aterro. O problema foi reconhecido pela prefeitura, que justificou as irregularidades alegando que o município não possui recursos para adequar o aterro sanitário conforme as exigências impostas pelos órgãos ambientais.

De acordo com o técnico em agropecuária Leonardo Carlos Martins Junior, que responde pela Secretaria Municipal de Agricultura e do Meio Ambiente de Abatiá, um projeto de reciclagem e destinação do lixo coletado na cidade chegou a ser concluído e estava pronto para ser executado. No entanto, com o anúncio da prorrogação do prazo estipulado pelo governo federal aos municípios para se adequarem às exigências ambientais relacionadas aos aterros sanitários, as prioridades no governo municipal mudaram, e os recursos que seriam destinados ao projeto foram aplicados em outras áreas.

"O modelo é de baixo custo, funcional e o mais importante de tudo é que atenderia todos os critérios ambientais e sociais. Teríamos uma associação de catadores ainda mais fortalecida e os rejeitos separados dos recicláveis seriam destinados a um aterro privado em Assaí. Porém, o prazo para os municípios adequarem os aterros foi prorrogado e projeto foi, infelizmente, engavetado. Somos um município com pouco mais de 7 mil habitantes e de poucos recursos. Diante da situação, à época, decidimos então aplicar o dinheiro do projeto em outras prioridades, e tudo continuou como estava", explicou.

Ainda conforme Martins Junior, o município não dispõe de maquinários suficientes para atender o aterro e faltam fiscais para controlar quem e o que entra no local. Entretanto, ele deixou claro que o matadouro municipal é administrado por uma associação de pecuaristas "que sabe de suas responsabilidades". "Temos apenas um trator e um caminhão para atender toda a população. Infelizmente não temos maquinário suficiente para fazer algo melhor do que está sendo feito no aterro. Existe a associação de catadores que prepara e negocia os recicláveis, o restante do lixo não temos onde destinar e realmente é depositado no terreno. Como não concordamos com o modelo de consórcio, onde várias cidades operam um aterro sanitário em conjunto, estamos negociando o recolhimento do lixo com uma empresa privada de Assaí para resolver o problema. Quanto às carcaças de animais que estão sendo depositadas no aterro, a associação que administra o matadouro sabe que a prefeitura repudia o ato que é totalmente de sua responsabilidade", concluiu.

O presidente da associação que administra o Matadouro Municipal, Adenir Pinheiro da Costa, admitiu que toda semana cerca de 10 carcaças de animais são descartadas no aterro municipal. No entanto, o pecuarista informou que a medida foi suspensa no início desta semana após a entidade ter sido notificada. "Depois que recebemos a notificação o descarte foi suspenso. Já contratamos uma empresa que vai recolher as carcaças durante a semana diretamente no matadouro. Somos em 18 associados, todos preocupados com as consequências do problema, afinal, a população de Abatiá depende do abate local", destacou.

CATADORES
O fechamento do aterro municipal de Abatiá por conta das irregularidades pode deixar ao menos 11 famílias desamparadas financeiramente, conforme explicou a presidente da Associação dos Catadores de Recicláveis, Simone Pereira da Silva. "Somos em 11 catadores e todos sustentam suas famílias daqui. Trabalhamos de segunda-feira a sábado, das 7 às 17 horas, para processarmos, em média, 21 toneladas de material reciclável no mês, que nos proporciona um salário mensal em torno de R$ 1 mil. A prefeitura nos ajuda com alguns equipamentos e suas manutenções, e nossa contrapartida é evitar materiais poluentes. Se o aterro for fechado perderemos nossa fonte de renda. É preciso diálogo para resolver os problemas, pois do contrário as consequências serão drásticas", avaliou.
Luiz Guilherme Bannwart
Especial para a FOLHA DE LONDRINA
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