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EDUCAÇÃO INTEGRAL - A passos lentos

Plano Estadual de Educação determina que até 2024 60% dos alunos da rede estadual sejam matriculados em tempo integral. Até o ano passado, número não chegava a 4%

Na Escola Estadual Tiradentes, em Londrina, os estudantes chegam à escola às 7h30 e só vão embora às 16 horas. Para tranquilidade dos pais, fazem quatro refeições diárias no colégio, cursam todas as disciplinas do tronco comum e ainda têm aulas de inglês e espanhol, recebem educação musical, praticam esportes, estudam narrativas históricas e escolhem atividades complementares. A escola é a única estadual de Londrina que oferece a modalidade de educação em tempo integral, o que implica na permanência dos alunos na instituição de ensino por pelo menos sete horas.

O Plano Estadual de Educação (PEE) aprovado no mês passado prevê que uma realidade parecida com a dos alunos da Escola Tiradentes faça parte da rotina da maioria dos estudantes. O documento estabelece que, até 2024, pelo menos 60% dos alunos da rede estadual sejam matriculados em tempo integral em 65% das escolas públicas. A meta, hoje, ainda parece bem distante de ser atingida.

Na rede estadual do Paraná, em 2014, apenas 3,68% dos alunos da rede estavam em tempo integral, conforme levantamento da Secretaria Estadual de Educação (Seed). Considerando também os dados das redes municipais, em 2013 o Estado tinha 13% dos alunos da educação básica estudando na modalidade integral, número um pouco melhor que a média nacional do mesmo ano: 12%. A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas brasileiras, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da Educação Básica.

O diretor do Departamento de Educação Básica da SEED, Cassiano Ogliari, esclareceu que a meta poderá ser revista quando ocorrerem as revisões do PEE, a cada dois anos. "De qualquer forma, a secretaria vai tentar cumprir o que está previsto", disse. Atualmente, o órgão elabora um "instrumento de diagnóstico" junto às escolas que já oferecem educação em tempo integral. O objetivo é perceber os benefícios e dificuldades desta modalidade. "A partir do diagnóstico, vamos reformular os macrocampos da educação integral. A intenção é ampliar a jornada com qualidade, superando o conceito de conteúdos e oferecendo também formação humana, artística e para o mercado de trabalho", diz.

Além da educação em tempo integral como é oferecida na Escola Tiradentes, o estado tem outras políticas de ampliação da jornada. Uma delas atende o programa Mais Educação, do Governo Federal, com atividades diárias de três horas a mais em período de contraturno. Além disso, algumas escolas oferecem aulas extras duas vezes na semana, com carga horária de quatro horas semanais, o que não atende às determinações da lei em relação ao tempo integral.

Ogliari informou que a SEED conta com a liberação de recursos pelo governo federal para conseguir cumprir a meta. "Nós já pagamos os professores que ficam com os alunos do programa Mais Educação, enquanto que nos outros estados a função é exercida por monitores. Esperamos apoio do governo federal para que possamos atender mais estudantes", avisa.

Experiência
Na Escola Estadual Tiradentes, a implantação da educação em tempo integral contou com resistência de parte dos alunos, que não viam com bons olhos a permanência no colégio durante a maior parte do dia. Quem conta esta história são as pedagogas Márcia Cora Cavalheiro e Lucy Mara Conceição e o diretor Edson Ricardo de Souza, que acompanharam a mudança desde o início. A escola tinha um histórico de violência e uso de drogas que foi superado graças à mudança no projeto pedagógico. "Hoje, os professores gostam de dar aula aqui", comemoram. Atualmente, são 95 alunos divididos em seis turmas do 6º ao 9º ano.

A experiência de ampliação da jornada começou em 2012, com adesão ao programa Mais Educação, que oferecia oficinas em contraturno. Como funcionou, foi implantado o modelo atual, com ampliação do currículo para 14 disciplinas e também as atividades dos chamados componentes curriculares, que incluem recreação e lazer, iniciação esportiva, meio ambiente, artes visuais, expressão corporal e jornal escolar. Para ser aprovados, os alunos precisam ter conceito médio em todas as disciplinas da grade.

Os benefícios são percebidos também no índice de reprovação, que caiu de 7,8% em 2009 para 2,9% em 2014. "Realizamos uma recuperação paralela bem eficiente", disseram os representantes da escola. Os gestores relatam que, no início, os alunos não entenderam que seriam beneficiados. "Eles achavam que estavam sendo discriminados e enfrentamos muita indisciplina. Muitos acabaram saindo da escola", revelam.

Hoje, por outro lado, a escola é procurada por muitas famílias que gostam da ideia de educação integral. "A indisciplina ainda existe, como em todas as escolas. Mas não há mais violência ou uso de drogas. Percebemos que os alunos estão mais preparados. Muitos que saem da escola após concluírem o 9ºano voltam para nos visitar. É um sinal que gostavam de ficar aqui."

Lis Sayuri
Lis Sayuri

A Escola Estadual Tiradentes, em Londrina, conseguiu superar problemas com violência e uso de drogas graças à mudança no projeto pedagógico: atividades extras incluem recreação e lazer, iniciação esportiva, meio ambiente, artes visuais, expressão corporal e jornal escolar

Saulo Ohara
Saulo Ohara




FOLHA DE LONDRINA
Carolina Avansini
Reportagem Local
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