[Fechar]

Últimas notícias

Encontro debate superlotação nas delegacias

4º DP registrou fuga em massa no domingo; 64 escaparam e somente 27 foram recapturados

Fotos: Celso Pacheco
Fugitivos serraram grades para ter acesso ao pátio e ganhar as ruas
Carceragens com quatro vezes mais presos do que a capacidade e policiais civis com acúmulo de função. Estes e outros problemas serão discutidos em uma reunião, marcada para 11 horas de hoje, com representantes da Vara de Execuções Penais, dos distritos policiais de Londrina e do Departamento de Execução Penal (Depen) na 10ª Subdivisão da Polícia Civil em Londrina. O encontro foi marcado após a fuga de 64 presos que estavam na carceragem do 4º Distrito Policial, na Avenida Dez de Dezembro, na zona sul de Londrina. Na noite do último domingo, o único policial civil de plantão foi rendido por quatro detentos que serraram a grade para ter acesso ao pátio. Conforme o delegado-chefe da 10ª SDP, Sebastião Ramos dos Santos Neto, os homens pediram medicamentos. Armado, um deles agrediu o policial a coronhadas.

No momento da fuga, havia 114 detentos dividindo o espaço destinado a 24 homens. Com celas superlotadas, boa parte do grupo ocupava o corredor da carceragem. Os presos invadiram o cartório da unidade e levaram cinco armas (um revólver calibre 32, uma pistola 9 mm, uma pistola .40, duas espingardas calibre 12 e uma espingarda de pressão), 20 quilos de maconha e um colete à prova de balas. Os materiais faziam parte de investigações conduzidas pelos policiais. Os detentos fugiram a pé, renderam motoristas que passavam pela avenida e roubaram veículos.

Até o final da tarde de ontem, 27 homens haviam sido recapturados e 37 estavam foragidos. Um revólver calibre 38, duas espingardas, o colete à prova de balas e parte da droga foram encontrados pelas equipes da polícia. Segundo o delegado, a arma utilizada para render o policial estaria relacionada à prisão de um rapaz e a apreensão de dois adolescentes realizada no último sábado. "No dia anterior, eles estavam tentando passar celulares e maconha para dentro da cadeia. Antes de serem presos, devem ter colocado a arma para dentro", afirmou.

A arma não foi encontrada mesmo após uma revista feita nas celas. Com o trio, foram apreendidos 14 celulares e 500 gramas de maconha. Mesmo com uma das grades danificadas e uma porta arrombada, os presos recapturados retornaram para o 4º DP. que deve passar por reforma. O policial ferido recebeu assistência médica.

Há um mês, dois homens que estavam na carceragem do 4º DP tiveram acesso ao pátio por meio de um buraco aberto na parede de uma das celas. Eles conseguiram fugir pelos fundos da unidade que abrigava 115 detentos. Outros três tentaram escapar. Na última semana, detentos do 5º DP, na zona norte de Londrina, ameaçaram explodir uma bomba dentro da carceragem em razão da superlotação. O local com capacidade para 24 presos estava com 120 homens. O material foi recolhido e, conforme o delegado chefe, foi confirmado que se tratava de uma bomba de dinamite. Na ocasião, dez presos foram transferidos para outras unidades e outros dez devem ser realocados nesta semana. No 3º Distrito Policial, na zona oeste da cidade, 80 detentas ocupam as 36 vagas nas celas.

O juiz da Vara de Execuções Penais em Londrina, Katsujo Nakadomari, destacou que 750 presos provisórios estão nas carceragens das delegacias e presídios de Londrina. "Desses 750, 40% são presos provisórios na Penitenciária Estadual de Londrina (PEL) 1. Eles deveriam estar nos distritos, mas, diante da situação, eu sou obrigado a recepcioná-los para que a situação não fique pior do que está hoje", desabafou. Para Nakadomari, uma das soluções paliativas seria intensificar o uso de tornozeleiras eletrônicas que já beneficiam 350 detentos de Londrina e região. "Na verdade, nós precisamos de uma Casa de Custódia, de um Cadeião que possa receber de 300 a 400 presos provisórios para resolver o problema de Londrina a médio prazo", afirmou.

O delegado-geral adjunto da Polícia Civil do Paraná, Naylor Robert de Lima, lamentou a fuga registrada no domingo, mas defendeu que o governo do Estado tem adotado medidas para reduzir o número de presos nas delegacias do Paraná. "Em Curitiba praticamente zeramos o número de presos em delegacias. A intenção é que isso se estenda para a Região Metropolitana de Curitiba e avance para o interior do Estado. A gente vai tentar achar uma solução imediata em um programa para os presos de Londrina", explicou. Uma equipe de policiais civis do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) veio a Londrina para auxiliar a busca pelos foragidos e agilizar o andamento dos inquéritos policiais.



NOVO CIT
O pátio do 4º DP vai abrigar o Centro Integrado de Triagem (CIT), hoje em funcionamento na 10ª Subdivisão Policial. As obras começaram há 15 dias e a expectativa é que o novo espaço comece a funcionar em dois meses. Santos Neto negou que a construção feita por detentos do regime semiaberto tenha favorecido a fuga. "São presos que estão trabalhando ali, mas que não teve, de forma nenhuma, nós temos certeza absoluta, que não tem nada a ver com a fuga. Isso é só especulação", garantiu. A estrutura administrativa do 4ª distrito será transferida para outro local e o imóvel atual abrigará a carceragem e o novo CIT destinado aos presos provisórios. Hoje o Centro Integrado de Triagem possui três celas com capacidade para nove detentos. No entanto, o número de presos sempre ultrapassa a capacidade máxima. Os detalhes da obra não foram revelados.
Viviani Costa
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
UA-102978914-2