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HPV aumenta incidência de câncer de boca e garganta entre jovens

Estudo atual aponta que em casos de câncer de amídala a incidência do vírus cresceu de 25%, registrados há 20 anos, para 80%

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Médicos detectaram que 32% dos casos de câncer de boca em jovens adultos eram em portadores do vírus
São Paulo - Se há 20 anos os registros de câncer de boca e garganta eram quase que exclusivamente entre pessoas acima dos 50 anos. Atualmente, um dado chama a atenção dos oncologistas: cada vez mais jovens - adultos até 40 anos - têm apresentado tumores malignos nessas partes do corpo. "A média etária de pessoas com câncer nessas áreas tem caído. Hoje em dia, atinge cerca de 30% a 40% de pessoas que não são tabagistas nem etilistas, e são mais jovens", afirma o oncologista Luiz Paulo Kowalski, diretor do Núcleo de Cabeça e Pescoço do Hospital A. C. Camargo.

De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), os cânceres de cavidade oral e orofaríngeo estão entre os dez tipos de maior incidência em homens brasileiros. E, mesmo que o cigarro e o álcool ainda sejam suas principais causas, eles costumam exigir uma exposição prolongada para o desenvolvimento de um tumor - entre 15 e 30 anos de consumo. Por isso, um outro fator de risco tem sido considerado pelos pesquisadores: o papiloma vírus, popularmente conhecido como HPV, que tem a capacidade de desenvolver um câncer em menos tempo.

"Com a queda do consumo do tabaco, esperávamos diminuir a incidência e a mortalidade do câncer, mas houve uma mudança de perfil. Está caindo o número de cânceres relacionados ao tabaco, devido às campanhas de controle, mas estão aumentando os casos relacionados ao HPV." Pesquisadores apontam que, até 2030, o número de casos relacionados ao vírus deve superar os casos ligados ao tabaco nos Estados Unidos.

Um estudo atual, feito com orientação da bióloga e geneticista Sílvia Regina Rogatto, do A.C. Camargo e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), aponta que em casos de câncer de amídala a incidência do HPV cresceu de 25%, registrados há 20 anos, para 80%.

Em uma outra pesquisa, comandada por Kowalski, os médicos detectaram que 32% dos casos de câncer de boca em jovens adultos eram em portadores do vírus. Em pacientes acima de 50 anos, a presença do vírus foi detectada em apenas 8%.

CONTAMINAÇÃO
O estudo feito por Silvia e sua equipe em pacientes do A. C. Camargo, na capital paulista, e no Hospital do Câncer de Barretos, no interior do Estado, descobriu que 80% dos pacientes da capital são positivos para a presença do vírus enquanto os voluntários de Barretos correspondem a 15%.

"A presença em grandes capitais é mais evidente, pois os hábitos costumam ser um pouco diferentes", analisa o Kowalski. Mas não se deve relacionar a transmissão exclusivamente à atividade sexual. "O vírus pode ser transmitido por saliva, com um beijo, por exemplo. Antigamente não era educado beber no copo de ninguém, hoje já é uma coisa normal."

Estima-se que entre 25% e 50% das mulheres e 50% dos homens estejam infectados pelo HPV em todo mundo. Mas a maioria das infecções é transitória, sendo combatida espontaneamente pelo sistema imune. De acordo com pesquisas feitas entre homens norte-americanos, mexicanos e brasileiros, ao menos 2% da população adulta tem o vírus HPV e não apresenta nenhum sintoma.

SINTOMAS
Existem papilomas que são como verrugas que podem aparecer na garganta ou na boca. Quem apresenta alguma ferida deve observar se ela está demorando a cicatrizar. Porém, mesmo quando o tumor maligno já se desenvolveu, pode não haver lesão visível. Em outros casos, pessoas que tiveram infecção podem não ter anticorpos elevados também. "A infecção pode ser silenciosa", conta o médico.

No geral, cânceres de boca e garganta podem apresentar os seguintes sintomas: dor constante, nódulo, dificuldade para mastigar, rouquidão, dor na língua e mau hálito persistente. "Quanto mais precoce o diagnóstico, melhor, pois o tratamento não é tão agressivo e as chances de recuperação são maiores. Uma lesão que durar mais de 15 dias é porque tem algo errado."

Os tumores ligados ao HPV tem uma taxa de cura maior do que os associados a tabaco e ao álcool. "Eles respondem melhor ao tratamento, tanto com cirurgia, que geralmente é seguido de radioterapia, quanto na associação de radioterapia e quimioterapia."
Raquel Brandão
Agência Estado-FOLHA DE LONDRINA
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