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Luta diária pra não padecer diante do frio e da chuva

Resistência em áreas ocupadas de Londrina é marcada por muito sofrimento. Crianças, adultos e idosos são alvos de todo o tipo de adversidade

Ricardo Chicarelli
Pelo menos 66 famílias ocupam terreno no Jardim Califórnia, na zona leste
Se o frio castiga quem tem agasalho, cobertor e moradia digna, imagina a quem vive dentro de barracos de madeiras encharcados, com lonas furadas, remendados com cacos de telha e restos de construção? Moradias que são invadidas pelo vento gelado e vulneráveis ao clima instável. Tudo cercado por muita lama. Essa é a realidade de centenas de famílias que sobrevivem em assentamentos de Londrina. Crianças são as que mais sofrem. Problemas respiratórios são comuns entre elas.

"A gente dorme abraçado. Eu, marido e três filhos. Para diminuir o frio, todos numa só cama", conta Francisca dos Santos, de 23 anos, tremendo de frio com o filho nos braços enquanto dava entrevista na última terça.

Natural da cidade de Codó (MA), ela conta que conheceu o frio há dois anos. "No Maranhão é calor o ano todo. O frio eu conheci em Londrina, há dois anos, quando cheguei em busca de uma vida melhor", conta ela. "Sofremos demais. Mesmo assim continuaremos em Londrina", afirma Francisca, explicando que vive com o benefício federal do Bolsa Família e com a renda dos "bicos" que o marido faz como servente de pedreiro. "Meus filhos têm problemas respiratórios. O caçula tem muita falta de ar. Sofremos junto com eles. Preciso muito de um inalador elétrico", desabafa a jovem no assentamento localizado na Rua Pitágoras, no Jardim Califórnia, na zona leste de Londrina.

No local há pelo menos 66 famílias, numa área de 8 mil metros quadrados. Além dos adultos e idosos, cerca de 80 crianças: 55 até os 6 anos de idade e 30 crianças acima dos 6.

Segundo Tânia da Silva, de 30 anos, falta tudo no assentamento. "Precisamos de tudo. Não temos blusas, cobertores, calçados, comida, água, lonas para cobrir barracos", detalha ela, que está desempregada e mora no barraco com dois filhos adolescentes. "Apelamos pra Deus, esperamos do povo. Pedimos ajuda ao Cras (Centro de Referência de Assistência Social), mas a colaboração é mínima. A gente vive mesmo com o apoio da comunidade e das igrejas."

Segundo Sandra Nishimura, diretoria de Proteção Social Básica, o CRAS apresentou para famílias as formas de garantia e segurança oferecidas no campo social. Entre outros atendimentos, os moradores atualizaram inscrições no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal. Além do Bolsa Família, as famílias se cadastraram em grupos de geração de trabalho e renda do município.
Paulo Monteiro
Grupo Folha de Londrina
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