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Na Bolívia, Papa critica o desperdício


Juan Carlos Usnayo/AFP
Francisco recebeu do presidente Evo Morales uma imagem de Jesus entalhada em madeira, numa cruz formada por uma foice e martelo
Santa Cruz de La Sierra, Bolívia- Em missa campal para dezenas de milhares de fiéis bolivianos ontem, o papa Francisco criticou a cultura do descarte e pregou a solidariedade para superar as desigualdades e a fome. "É um convite que ressoa com força para nós hoje: ‘Não é necessário que ninguém vá embora, chega de desperdício, deem a eles o que comer’. Jesus continua dizendo isso nesta praça", disse Francisco, em sua homilia, sob o céu azul e temperatura amena. "Jesus mesmo nos dá o exemplo, nos mostra o caminho. Uma atitude em três palavras: tome um pouco do pão e alguns peixes, abençoe-os, divida-os e entregue aos discípulos para distribuir aos demais", continuou, diante da multidão em silêncio. "As mãos que Jesus levanta para abençoar a Deus no céu são as mesmas que distribuem o pão à multidão com fome."

Realizada em um cruzamento aos pés de uma estátua de Cristo, a missa campal começou às 10h (11h em Brasília) e foi marcada por reclamações de fiéis que, mesmo chegando cedo e até acampando, não puderam se aproximar do altar. O motivo foi que o acesso ao entorno do altar estava restrito a portadores de braceletes distribuídos pela Igreja Católica na Bolívia. Foram cerca de 15.000, apenas uma fração do total de fiéis. É a primeira visita de um papa à Bolívia em 27 anos. Na última quarta-feira, Francisco fez uma breve visita a La Paz, onde foi recebido pelo presidente Evo Morales. Em Santa Cruz, o papa participará mais tarde de um encontro com movimentos sociais e hoje visitará um presídio antes de embarcar rumo ao Paraguai.

PRESENTE

O papa Francisco recebeu um presente inusitado do presidente Evo Morales: uma imagem de Jesus Cristo entalhada em madeira, numa cruz formada por uma foice e martelo. A imagem entregue por Evo ao papa é uma reprodução de escultura feita pelo sacerdote espanhol Luis Espinal, assassinado em 1980 por paramilitares por sua ligação com movimentos sociais bolivianos. Francisco visitou o local onde seu cadáver foi encontrado e homenageou o religioso.

O simbolo da foice cruzada com o martelo é um ícone da esquerda desde a Revolução Russa, em 1917. Cada ferramenta representa uma classe de trabalhadores: a foice, os camponeses; o martelo, os operários. A imagem tornou-se o símbolo do Exército Vermelho, da então União Soviética e dos partidos comunistas ao redor do mundo.
Fabiano Maisonnave,
enviado especial Folhapress-FOLHA DE LONDRINA
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