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Ex-deputado Pedro Corrêa isenta filhos de culpa na Lava Jato

Ele foi interrogado pelo juiz Sergio Moro nesta quarta-feira (26).
Fábio Corrêa, Aline Corrêa, Márcia Danzi e Ivan Vernon também falaram.

Fernando Castro, Samuel Nunes e Thais KaniakDo G1 PR
O ex-deputado federal pelo PP Pedro Corrêa, e dois filhos dele, foram interrogados pela Justiça Federal em Curitiba nesta quarta-feira (26). Corrêa foi o primeiro a ser questionado, e optou por permanecer em silêncio sobre as acusações de corrupção e lavagem de dinheiro a que responde. Ele falou apenas para isentar de quaisquer irregularidades os filhos, a nora, e um ex-assessor.
Além de Pedro Corrêa, os filhos Fábio Corrêa e Aline Corrêa também são réus em um processo derivado da 11ª fase da Operação Lava Jato. Na segunda-feira (24), o delator apontado como “braço-direito” do doleiro Alberto Youssef, Rafael Angulo Lopez, relatou ao juiz Sergio Moro ter entregado dinheiro para Pedro, Fábio e Aline.
“Eu quero dizer que essas outras pessoas não têm nenhuma responsabilidade nos fatos, eu assumo a responsabilidade de todos os fatos”, afirmou Pedro Corrêa. Questionado pelo juiz se a declaração era uma confissão, Corrêa negou, mas afirmou que todos apenas seguiam determinações dele. “Não estou dizendo que cometi esses crimes, mas estou dizendo que eles não participaram”, completou.

Fábio Corrêa
Conforme a delação de Lopez, a média de entrega de dinheiro para Pedro Corrêa era entre R$ 150 e 200 mil por mês. Os repasses foram feitos em residências do ex-deputado e no escritório de Youssef mesmo após Corrêa perder o mandato por conta do escândalo do Mensalão, em 2006, segundo o delator. De acordo com Lopez, em algumas oportunidades Fábio e Aline Corrêa foram receber valores no escritório de Youssef.
Questionado pelo juiz sobre estes pagamentos, Fábio Corrêa admitiu que foi ao escritório do doleiro algumas vezes – sozinho ou acompanhando o pai. Conforme a Polícia Federal, ele foi 33 vezes ao local. Fábio disse que não costumava participar das conversas entre Pedro Corrêa e Youssef, mas que imaginava que eles tratavam de assuntos eleitorais ou de interesse do PP.
Nas oportunidades em que foi sozinho, Fábio Corrêa relatou que foi cobrar dívidas de negócios entre Youssef e Pedro Corrêa – sempre a pedido do pai. Ele disse que não sabia o valor exato da dívida, mas que em uma ocasião conseguiu reaver entre R$ 30 e 40 mil de Rarel Ângulo Lopez – valor menor do que o devido. Fábio ainda disse não saber a origem do dinheiro.
Márcia Danzi
A esposa de Fábio Corrêa, Márcia Danzi, também ré do processo pela acusação de ter recebido dinheiro do esquema, afirmou que as entradas de recursos em contas dela eram provenientes de serviço que ela prestou para Pedro Corrêa entre 2009 e 2014. Ela disse ao juiz Sergio Moro que pagava contas pessoais e da fazenda do sogro, e que não sabia a origem do dinheiro que recebia dele para os pagamentos.
“Ele definia os pagamentos e eu efetuava – boletos de ração de animais, compras de cavalos, contas pessoais”, relatou. Márcia Danzi disse que recebia cerca de R$ 1 mil por mês para ajudar o sogro com as contas, e confirmou que o dinheiro enviado passava por contas dela. Danzi ainda confirmou que esteve no escritório de Youssef com o marido, mas que apenas o aguardou na recepção.
Aline Corrêa
Já a filha de Pedro Corrêa, que também foi deputada federal, entre 2007 e 2014, não foi questionada sobre repasses de dinheiro através de Youssef. O nome dela constava como destinatária de recursos em lista que foi apreendida no escritório do doleiro, e elaborada por Rafael Angulo Lopez.
A ex-deputada foi perguntada sobre a contratação de uma funcionária para o gabinete dela, que, segundo a acusação, repassava metade do salário para Pedro e Aline Corrêa. “No meu gabinete ela nunca fez isso, a gente nunca conversou sobre isso, Posso dizer que não teve nenhum repasse no período em que ela trabalhou comigo”, garantiu Aline.
Já sobre a contratação de Reinasci Cambuí, que era empregada doméstica de um ex-assessor de Pedro Corrêa, Ivan Vernon, a ex-deputada admitiu que houve negligência. “Foi um pedido que meu pai me fez, para que eu tivesse uma pessoa trabalhando para mim noPP”, disse Aline Corrêa, que afirmou nunca ter visto Reinasci, e que não sabia que ela era empregada de Vernon.
Ivan Vernon
O ex-assessor de Pedro Corrêa é réu nesta ação penal pelos crimes de lavagem de dinheiro e de peculato, por ser responsável pela operação e beneficiário do dinheiro desviado com a contratação da empregada doméstica para o cargo de secretária parlamentar na Câmara Federal, cuja função ela não exerceu. Antes de chegar ao gabinete de Aline, ela foi nomeada no de Pedro Corrêa, sendo funcionária fantasma entre 2003 e 2012.
A pedido do MPF, os procedimentos contra as funcionárias fantasmas foram arquivados por falta de provas de que elas sabiam do esquema.
No depoimento, Vernon assumiu que intermediou pagamentos de propina a Pedro Corrêa. Segundo ele, o dinheiro entrava na própria conta bancária que mantinha. Corrêa, por sua vez, seria responsável por dizer onde o dinheiro seria usado. O ex-assessor disse que, normalmente, as quantias eram para pagar cartões de crédito do ex-deputado.
Nunca, para mim, passou a menor dúvida de que R$ 4 mil, R$ 5 mil, R$ 8 mil era estranho para um homem para o patrimônio dele"
Ivan Vernon
"Eu tinha o pleno conhecimento do imposto de renda dele, pois quem o entregava na Secretaria-Geral da Casa [Câmara dos Deputados] era eu. Então, era um imposto extremamente substantivo. Era um imposto de renda com uma parte de bens em fazendas, animais, não só isso. Também imobiliário, alugueis de apartamento, substancioso", lembrou o ex-assessor.
Segundo ele, o fato de Pedro Corrêa ter um patrimônio tão grande não dava a impressão de que depósitos pequenos se tratavam de propina. "Nunca, para mim, passou a menor dúvida de que R$ 4 mil, R$ 5 mil, R$ 8 mil era estranho para um homem para o patrimônio dele", disse. Vernon disse ainda que não sabia que o dinheiro depositado na conta dele era de Youssef e de origem ilícita.
O ex-assessor também afirmou que só soube da possibilidade de que os valores eram de propina quando foi deflagrada a Operação Lava Jato. Disse também que nunca se questionou se o que fazia poderia ser errado. "Concordava porque é uma prática comum na Câmara", pontuou.
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