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Leon, um polaco brazense

Padre que vivenciou horrores do nazismo e do apartheid morreu esta semana aos 86 anos, na Polônia; ele dedicou metade da vida à Wenceslau Braz

Divulgação
Por 42 anos padre Leon Lodzinski viveu sua vocação em Wenceslau, tornando-se o cidadão mais ilustre da cidade
Wenceslau Braz - Monsenhor é um título eclesiástico de honra conferido pelo papa a sacerdotes da Igreja Católica. Mas Leon Lodzinski gostava mesmo de dizer que era padre. A honraria, concedida na última década dos seus 60 anos de sacerdócio, em nada mudou o jeito simples do polonês que encontrou no Brasil, especialmente em Wenceslau Braz, cidade em que permaneceu por 42 anos, uma terra para chamar de sua.

No último domingo padre Leon morreu, aos 86 anos, em sua terra natal, na Polônia, para onde havia retornado há sete anos para fazer tratamento contra insuficiência renal. A notícia da morte do sacerdote tornou triste a missa dominical em Wenceslau Braz. As comemorações pelo Dia do Padre deram lugar às homenagens ao, talvez, cidadão mais ilustre da cidade.

Leon Lodzinski nasceu em 1929, em Lomnica, pequeno lugarejo pertencente a Zbaszyn, comuna de 13 mil habitantes situada na Província da Grande Polônia, a cerca de 100 quilômetros da fronteira com a Alemanha. Se a Polônia era o pior lugar do mundo para uma criança naqueles terríveis anos 1930, a região do país mais próxima aos domínios de Hitler era o epicentro do terror.

Por ali, o exército nazista quebrou o Tratado de Versalhes e invadiu a Polônia em 1939, dando início à Segunda Guerra Mundial. Um ano antes, no entanto, cerca de 17 mil judeus poloneses foram expulsos da Alemanha e obrigados a voltar ao país natal. Como eles também foram proibidos de pisar em solo polonês, a maioria dos deportados ficou sem ter para onde ir. A solução foi ocupar uma "terra de ninguém", entre a Alemanha e a Polônia, perto da cidade de Zbaszyn.

Em meio aos horrores da guerra e da perseguição nazista, o filho de Inácio e Inês Lodzinski seguiu a vocação despertada desde a infância e, aos 24 anos, foi ordenado padre pelo bispo Ignacy Swirski, da diocese de Siedlce. Trabalhou por sete anos nas paróquias de Sobienie-Jeziory , Sarnaki e Grebków, mas a inquietude e a vocação missionária falaram mais alto. O padre precisava de novos desafios. Aos 33 anos, idade simbólica para os cristãos, Leon demonstrou vontade de servir em missão na África do Sul. No mesmo ano, em 1962, mudou-se para Cidade do Cabo.

Foi nomeado capelão em uma colônia polonesa que abrigava militares e civis. Durante quase dois anos, ele atuou como sacerdote e ajudou no trabalho em uma pequena escola para crianças polonesas. A chegada de um segundo padre foi a desculpa oficial para ele pedir a transferência para outro país, mas o real motivo era outro: o Apartheid. "Uma das razões para me mudar foi também a segregação racial entre negros e brancos. Os negros não tinham direitos e foram muito maltratados lá, abusados. Por isso que estava tão triste, porque me lembrei dos tempos de ocupação, como os nazistas nos perseguiram", contou recentemente em entrevista à Rádio Católica Podlaquia, da Polônia.
Celso Felizardo
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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