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Maioria de cidades com cursos de medicina no Paraná não atende critérios do CFM

Levantamento do conselho aponta avaliação negativa em quatro dos sete municípios que oferecem ensino médico no Estado

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Nos últimos sete anos foram criadas 616 vagas em cursos de medicina no Paraná; e mais quatro municípios já tiveram faculdades aprovadas pelo MEC
 
O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou ontem uma "radiografia" de 257 escolas médicas em todo o Brasil, sendo que 15 cursos foram avaliados no Paraná. Segundo o levantamento, quatro de sete cidades do Estado com instituições que oferecem vagas em medicina apresentam requisitos que ficam abaixo do recomendado pelo CFM, entre eles, hospitais de ensino, número de leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) por estudante matriculado e número de equipes do Programa Saúde da Família (PSF) para acompanhamento de alunos.

Dos municípios avaliados, apenas Curitiba, Londrina e Ponta Grossa atendem os números considerados mínimos para formação do profissional, conforme o CFM. Segundo a pesquisa, Cascavel e Maringá não possuem o número de leitos preconizado pelo SUS, de pelo menos cinco por aluno, e ainda o atendimento de até três estudantes por cada equipe do PSF. Além disso, Foz do Iguaçu e Francisco Beltrão ainda não apresentam hospitais de ensino para os estudantes em formação. "O Brasil é o vice-campeão mundial de vagas, atrás apenas da Índia, o que significa mais que o dobro do ofertado nos Estados Unidos, que possui uma população maior que a brasileira. A preocupação do conselho é com formação dos novos médicos e com o serviço que vão passar a oferecer. Houve um aumento quantitativo sem qualidade", criticou o secretário geral do Conselho Regional de Medicina (CRM) do Paraná, Maurício Marcondes Ribas.

De acordo com os dados, 616 vagas em cursos de medicina foram criadas no Paraná a partir de 2008. Até então, o Estado tinha 784 cadeiras para os calouros e, atualmente, possui 1.400, o que representa aumento de 78,5% na oferta em sete anos. O número deve subir em breve. O governo federal já autorizou a abertura de novos cursos em Campo Mourão (Noroeste), Guarapuava (Centro), Pato Branco (Sudoeste) e Umuarama (Noroeste), num total de 215 vagas. Segundo o estudo, as quatro cidades no interior também não atendem o exigido pelo conselho em relação a número de leitos por aluno matriculado e hospitais de ensino.

ESTRUTURA

Ribas afirmou que a formação do médico é complexa, com necessidade de infraestrutura para a prática do aluno. "É impossível trabalhar sem um hospital com vocação para a área de ensino. Existem estabelecimentos muito qualificados que não se encaixam nesta área. A prática é muito importante e não dá pra aprender em manequins e bonecos sem leitos com pacientes", criticou.

Para o secretário geral do CRM, a formação médica com qualidade ainda está concentrada nas grandes cidades, pois falta investimento público para incentivo da permanência dos profissionais no interior. "Não existe uma perspectiva de carreira para os médicos, que ainda sofrem com a falta de equipamentos e de outros profissionais que auxiliam no atendimento na área da saúde. Isso tudo afasta os médicos e docentes dos locais mais distantes", opinou.

UNIVERSIDADES PÚBLICAS

A assessoria de imprensa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Cascavel, informou que a graduação oferece 40 vagas, sendo que o Hospital Universitário (HU) possui 206 leitos, o que atende a recomendação do SUS. Sobre o curso de medicina oferecido no campus em Francisco Beltrão, a Unioeste informou que o Hospital Regional do Sudoeste será utilizado na área de ensino a partir do quarto ano do curso com estágios, além do internato e residências nos últimos anos da graduação. A reportagem não conseguiu contato com a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), que começou a ofertar 60 vagas de medicina no ano passado em Foz do Iguaçu. Já a assessoria da Universidade Estadual de Maringá (UEM) garantiu que o curso de medicina atende as recomendações do SUS, mas o número de leitos não foi confirmado por causa de uma ampliação no HU.

PARTICULARES

De acordo com a pesquisa, oito dos 15 cursos avaliados pelo CFM são particulares no Paraná e mais quatro serão abertos em instituições privadas. Sem levar em consideração as 215 novas vagas autorizadas, atualmente, 65% das vagas oferecidas no Estado estão em instituições particulares, com mensalidades entre R$ 3,7 mil e R$ 6 mil. Além disso, dos sete cursos abertos a partir de 2008, cinco foram em universidades particulares em Maringá, Cascavel, Curitiba e Londrina. Procurada pela reportagem, a direção estadual do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná (Sinepe) não se manifestou até o fechamento da edição.
Rafael Fantin
Reportagem local-folha de londrina
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