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Marilândia do Sul se recupera de trauma após chacina

Jovem que matou avós e dois primos na zona rural do município está internado em Maringá

Anderson Coelho
"Era um menino bom, educado e às vezes nervoso também. Usava remédio muito forte", comenta Vivaldi Pereira, irmão de uma das vítimas
Marilândia de Sul - Aos poucos, a água removeu as manchas de sangue, resquícios da chacina que parou a cidade de Marilândia do Sul (Centro-Norte). Na última sexta-feira, Pereira presenciou a cena que chocou até mesmo os policiais de plantão. "Os corpos estavam um em cima do outro. Ali acabou o mundo para mim", contou. O agricultor Vivaldi Pereira é irmão de uma das vítimas, Maria Helena da Silva, morta aos 56 anos pelo neto adolescente após uma discussão em família. "Ele estava com um tipo de jogo na mão e a prima menor queria brincar. Ele mordeu a mão dela e a avó acabou brigando com ele", contou. O fato ocorreu na noite de quinta-feira. Após o desentendimento, o adolescente matou a avó e dois primos, de 11 e 8 anos. Todos moravam juntos na companhia do avô Antônio Geraldo da Silva, de 52 anos, a quarta e última vítima da tragédia.



Na manhã de sexta-feira, Pereira trabalhou na roça como de costume e deixou um pouco de leite para a irmã que morava no sítio vizinho no Distrito de São José, em Marilândia do Sul. O adolescente foi à escola normalmente e, no caminho, comentou com conhecidos que havia matado toda a família. Muitos não acreditaram.

Seo Pereira foi avisado e desde o início da tarde de sexta-feira, quando viu a cena do crime, passou a buscar respostas e uma forma de reconstruir a vida. "Era um menino bom, educado e às vezes nervoso também. Usava remédio muito forte. Eu não consigo ter raiva dele. Tenho medo. Não sei o que ele pode fazer", desabafou. O rapaz foi apreendido na saída da escola com uma arma na mochila. Na manhã de ontem, Pereira lavou os cômodos da casa, queimou o colchão e as cortinas numa tentativa de superar o sofrimento.

O autor do crime tem transtornos psicólogos e, em depoimento, contou aos policiais que estava há dois dias sem tomar os medicamentos controlados. Segundo a família, o tratamento era acompanhado por uma médica de Apucarana. Na unidade básica de saúde do distrito rural de Marilândia do Sul, funcionárias disseram que o psicólogo realiza consultas a cada 15 dias, mas que a família nunca procurou agendar atendimento.

Os familiares não informaram detalhes sobre a doença. Muito abalada, a prima do adolescente contou que o rapaz está em tratamento há alguns anos. "Ele sempre foi muito educado, muito carinhoso. No momento em que você se depara com a verdade, é muito difícil. A mãe estava sempre presente. Todo mês ela estava aqui com ele. Ele nunca foi abandonado pela mãe. Nunca esteve sem tratamento e nunca esteve desamparado. Foi uma surpresa para ela", defendeu Daniele Cristiane da Costa. A mãe trabalha na cidade de Mallet, no Sul do Estado, e o pai mora no Rio Grande do Sul. Aos finais de semana, o adolescente costumava frequentar a casa do lavrador Odair Batista, morador do distrito rural. "Ele tinha tudo o que queria, mas acho que sempre sentiu falta da família reunida. A minha dor maior é de agora não poder ajudar", lamentou.

Marilândia do Sul tem 9 mil habitantes. A cidade pacata estava ainda mais silenciosa ontem. Populares temem falar sobre o assunto. Após abordar alguns moradores e comerciantes da região central, uma moradora concordou em falar com a reportagem sem se identificar. "Foi muito triste. Eu conhecia a família. Quando soube, me tranquei em casa", comentou.
Viviani Costa
Reportagem Local-folha de londrina
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