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O desafio do descarte do lixo reciclável

Pequenos Municípios contam com cooperativas e consórcio para buscar meios de gerir o descarte correto de resíduos; experiência de Ibaiti é considerada modelo

Satisfeito com o trabalho, Julio Pereira é responsável por desmanchar sofás velhos para que madeira, espuma e tecido tenham o destino correto
Fotos: Gustavo Carneiro
Na central de triagem 19 funcionários cuidam da separação do lixo reciclável coletado diariamente em Ibaiti, além de Jaboti, Japira, Tomazina e Pinhalão
Ibaiti - O manejo correto do descarte de resíduos hoje em dia é um desafio também para cidades de menor porte, ainda mais com as reformas da legislação ambiental que tornaram mais rigorosos os padrões de controle e fiscalização. Com aproximadamente 31 mil habitantes, Ibaiti desde o começo do ano retomou parceria com a Cooperativa de Coleta Seletiva Solidária de Ibaiti (Coppersoli), após experiência que não foi bem-sucedida com uma empresa privada de Londrina que ficou responsável pela coleta seletiva durante sete meses.

"Já tínhamos trabalhando em parceria com a cooperativa anteriormente, mas como tivemos alguns problemas de gestão, optamos pela empresa privada. Isso também acabou não dando certo e, após alguns ajustes burocráticos, inclusive com a eleição de uma nova presidente para cooperativa, estamos conseguindo dar um bom andamento ao trabalho", explica a diretora do Departamento do Meio Ambiente, Karla Kuka Martini Delfine. A retomada da parceria com a Coopersoli contou também com capacitação realizada pela Cooperativa de Catadores de Resíduos Sólidos da Região Metropolitana de Londrina (Cooper Região), a antiga Coopersil, que considerou referência o modelo de gestão realizado em Ibaiti.

Localizada em um terreno de aproximadamente 48 mil metros quadrados, afastado da cidade, onde chegou a funcionar um antigo lixão (hoje aterrado), a central de triagem conta com 19 funcionários que são responsáveis pela separação do lixo reciclável que é coletado diariamente pelo caminhão da prefeitura. A área tem licença de operação do Instituto Ambiental do Paraná. Em média, são recebidos mensalmente 20 mil quilos desse material que é coletado em Ibaiti: praticamente a mesma quantidade também é recebida vinda de municípios que fazem parte do Consórcio Intermunicipal de Aterro Sanitário: Jaboti, Japira, Tomazina, Ibaiti e Pinhalão. O lixo comum (rejeitos) de Ibaiti e das outras cidades que fazem parte do consórcio (incluindo Siqueira Campos) são encaminhados para o aterro sanitário de Jaboti, que já está dentro dos padrões determinados por lei. Já o lixo hospitalar de Ibaiti é recolhido por uma empresa especializada de Siqueira Campos.

"O manejo do lixo demanda uma despesa mensal em torno de R$ 150 mil. É um desafio para todo gestor público tratar desse assunto, que tende a ficar mais complexo com o aumento gradativo da população e o consumo", observa o secretário de Obras, Viação e Serviços Urbanos, John Luis Lobo Fernandes. Nesse montante, estão inclusos o custo da manutenção da central de triagem e ainda um subsídio mensal de R$ 13 mil para complementar a remuneração dos cooperados, que são responsáveis pela venda do material reciclado para a indústria. A prefeitura ainda distribui em domicílio sacos específicos para o lixo reciclável.

Com equipamentos de segurança pessoal adequados (como coletes, bonés e luvas), balanças e prensas, sendo parte do material adquirido por meio do programa Ecocidadão, do Governo Estadual, a central também conta com refeitório e banheiros. "Estamos satisfeitos com o trabalho e está dando para tirar uma média mensal de R$ 1.123,00. Está dando para viver", afirma a presidente da Coopersoli, Juliana Aparecida Pereira. Com 27 anos e uma filha de 13 anos, ela estudou até o sexto ano e chegou a trabalhar durante dois anos como recicladora de rua.

Seu pai, Julio Cesar Pereira, 61 anos, durante 11 anos também trabalhou nas ruas coletando reciclável – antes disso sua atividade era de boia-fria. Hoje, ele trabalha na cooperativa e também é responsável por desmanchar sofás velhos descartados pelos moradores para que cada componente – como madeira, espuma e tecido – tenha o destino correto. "É um trabalho mais artesanal que faço agora, mas estou gostando. No começo, parece que as pessoas se preocupavam mais com a reciclagem e o volume que a gente recebia desse material era três vezes maior", observa. Os produtos mais vendidos atualmente são papelão, alumínio e garrafas PET.

A diretora da central de reciclagem, Clemyres Martin de Macedo, confirma que ainda há um certo descuido da população e que é comum as pessoas misturarem ao lixo reciclável fraldas descartáveis e papel higiênico. "Esse tipo de material não é reciclável e falta ainda um incentivo maior na área de educação ambiental para que isso não aconteça", alerta.

Segundo a diretora do Meio Ambiente, o município recentemente conseguiu licença ambiental para a instalação de uma área para descarte de resíduos da construção civil. Por meio de um britador móvel, parte desse material será triturado e usado para pavimentação de estradas rurais e reboco. Em breve, a Ibaiti deverá integrar o projeto "Papa-Pilhas", desenvolvido pelo Sicoob em parceria com a Associação dos Municípios do Norte Pioneiro (Amunorpi), que prevê a coleta e destino correto de pilhas e baterias.
Ana Paula Nascimento
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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