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Pagamentos para Vargas eram doações eleitorais, diz publicitário

Ex-diretor da agência que administrava contas da Caixa e do MS confirma repasses a ex-deputado; Vargas fica calado em interrogatório

Paulo Lisboa
O advogado Marlus Arns, que defende Ricardo Hoffman, protocolou um pedido de soltura de seu cliente na Justiça
Curitiba – O publicitário e ex-diretor da agência Borghi Lowe Ricardo Hoffman afirmou que os pagamentos feitos ao ex-deputado federal André Vargas (sem partido-PR), por meio das empresas LSI Soluções em Serviços Empresariais Ltda. e Limiar Consultoria e Assessoria em Comunicação Ltda., foram doação eleitoral entre 2009 e 2014. Hoffman, que está preso na carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba, foi interrogado ontem na ação penal em que é réu juntamente com Vargas e o irmão Leon Vargas, na Operação Lava Jato. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), as empresas de Vargas seriam de "fachada".

A agência de publicidade, que administrava contas de entidades públicas como a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Saúde, solicitava a empresas subcontratadas a realização de serviços de publicidade legais, entretanto as orientava a realizar pagamentos de comissões devidas - conhecidas como bônus volume (BV), no valor de 10% dos contratos - para contas das empresas Limiar e LSI. Esses valores, segundo os procuradores, chegaram a R$ 1,1 milhão. No processo, Hoffman, André e Leon são acusados dos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e organização criminosa.

A denúncia do (MPF aponta que o publicitário teria oferecido vantagens indevidas a Vargas para que ele fizesse uso do cargo político que ocupava para que a empresa obtivesse sucesso nas licitações. Hoffman, no entanto, fez questão de refutar a acusação, dizendo que os pagamentos feitos a Vargas foram por meio do BV e que as ordens partiram da cúpula da Borghi Lowe.

De acordo com ele, existia uma norma dentro da agência de publicidade de não realizar doações para campanhas eleitorais, entretanto, após uma solicitação feita por Vargas, ainda em 2009, foi decidido pela cúpula da empresa de que o valor do BV seria encaminhado para as contas das empresas do político. O publicitário admitiu que coordenou o repasse dos valores, mas ressaltou que era subordinado na empresa, não tendo poder para decidir sobre tal assunto. Hoffman também destacou que somente cabia a ele informar, via e-mail, o irmão de Vargas, Leon, de que haveria um "crédito" disponível. "Também informava a Borghi Lowe, mas era uma prestação de contas informal, não havia uma planilha", contou.

"Ele (André Vargas) fez um contato com a proposta de conseguir contratos para a agência com clientes privados no Paraná. Nos vendeu esta ideia, mas isso não se mostrou uma realidade e, na sequência, veio o pedido para doações eleitorais. Eu disse que iria verificar com a agência porque não sabia como ela se comportava neste sentido. Levei a questão para o presidente (José Borghi) e o vice-presidente (Valdir Barbosa), e eles disseram que não tinha como fazer doação eleitoral ou para campanha. Que a única maneira seria essa de transferir o bônus de volume auferido em trabalhos de produção. Repassei a informação para o André e ele indicou suas empresas", disse Hoffman.

VARGAS

André Vargas e seu irmão Leon se recusaram a responder as perguntas do magistrado. No entanto, o político aproveitou para manifestar sua indignação sobre as acusações que lhe foram feitas. "Estou reiterando que jamais tive participação em nenhum ato ilícito, jamais intermediei nenhum interesse empresarial em relação a empresas públicas, seja para a Caixa Econômica ou Ministério da Saúde, ou qualquer outro órgão. Lamento muito por estar passando por este momento difícil da minha vida", afirmou.

Os interrogatórios marcam a fase final do processo e, depois de ouvidos os acusados, o magistrado deve conceder os prazos para alegações finais do MPF e das defesas. Em seguida, caso nenhuma nova diligência seja solicitada e autorizada, Moro poderá proferir a sentença.

A advogada de André, Nicole Trauczynski deixou o prédio da Justiça Federal sem falar com a imprensa. Já o defensor de Leon, Alexandre Loper, destacou que seu cliente não cometeu nenhum crime de corrupção ou de lavagem de dinheiro. "Tudo isso vai estar na defesa que será apresentada nos autos. As empresas eram dele (LSI e Limiar), mas as atividades realizadas de forma alguma são decorrentes de corrupção ou representam lavagem de dinheiro. Não eram empresas de fachada", afirmou.

Marlus Arns, advogado de Hoffman, reforçou que seu cliente não era uma pessoa que tinha poder de decisão dentro da Borghi Lowe e que todos os fatos foram esclarecidos no interrogatório. "Ele deixou claro que os fatos narrados no processo não eram de sua responsabilidade. Acreditamos na possibilidade de sua absolvição ou que ele tenha uma pena muita reduzida", destacou. O defensor ainda informou que protocolou um pedido de soltura de seu cliente na Justiça.
Rubens Chueire Jr.
Reportagem Local-folha de londrina
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