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Após mortes de sem-terra, clima é de tensão em Quedas do Iguaçu

Corpos de vítimas de confronto serão enterrados hoje; segurança no município é reforçada


Os corpos dos sem-terra Vilmar Bordim, de 44 anos, e Leomar Bhordak, de 25 anos, mortos em confronto com policiais militares na tarde de quinta-feira, em Quedas do Iguaçu (Centro-Oeste), foram velados na tarde de ontem no Acampamento Dom Tomás Balduíno, onde morreram. Na manhã de hoje, o corpo de Bordim seria levado para Três Barras do Paraná (Oeste) e o de Bhordak para Francisco Beltrão (Sudoeste) para serem enterrados.
A segurança na cidade foi reforçada por equipes especiais das Polícias Militar e Civil. Mesmo com a presença policial, o clima entre os moradores e sem-terra seguia tenso. As aulas nas escolas municipais e estaduais foram suspensas e 7 mil alunos só retornarão na segunda-feira. Ontem, autoridades do governo estadual e de Quedas do Iguaçu agendaram uma reunião na Câmara de Vereadores para discutir o conflito agrário na região.
Para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), os mortos e feridos foram vítimas de emboscada organizada por policiais militares e seguranças da Araupel, madeireira que pleiteia na Justiça a saída dos sem-terra da área de reflorestamento. A versão, no entanto, é contestada pela Polícia Militar, que afirma que os sem-terra iniciaram os disparos contra os militares. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar as circunstâncias do confronto. Na tarde de ontem, peritos colhiam evidências na área do confronto.
Segundo familiares, Bordim era casado e pai de três filhos. Já Bhorbak deixa esposa grávida de nove meses. Quatro dos seis feridos durante o confronto receberam alta do pronto-socorro de Quedas do Iguaçu. Até a noite de ontem, seguiam internados em Cascavel (Oeste), Henrique Souza Pratti, no Hospital Universitário, e Pedro Francelino, no Hospital São Lucas.
Por meio de nota, o MST rechaçou a versão de confronto. Segundo o Movimento, cerca de 25 trabalhadores que estavam a seis quilômetros do acampamento, ainda dentro do perímetro estipulado pela Justiça, foram surpreendidos pelos policiais e seguranças. "Eles alvejaram o veículo onde se encontravam os sem-terra, que para se proteger correram mato adentro em direção ao acampamento, na tentativa de fugir dos disparos que não cessaram", traz a nota.
O MST cobra a investigação, inclusive por meio da Polícia Federal, e punição dos policiais, seguranças e mandantes; segurança e proteção das vidas de todos os trabalhadores acampados e a destinação das áreas, que consideram "griladas" à Reforma Agrária. O superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Nilton Bezerra Guedes, lamentou a tragédia e ressaltou que o confronto poderia ser evitado por se tratar de uma área pública ocupada irregularmente pela Araupel.
A Araupel divulgou nota lamentando o confronto ocorrido, mas defendeu a ação da Polícia Militar . "A Polícia Militar do Estado do Paraná estava na área auxiliando no combate de um incêndio e agiu no estrito cumprimento de seus deveres institucionais para a preservação da ordem pública". A Federação da Agricultura do Paraná (Faep) e outras seis federações do comércio, indústria e cooperativas do Paraná também se posicionaram a favor da ação policial.
Em entrevista coletiva na manhã de ontem, o secretário estadual de Segurança Pública, Wagner Mesquita, reiterou que os policiais foram atacados enquanto atendiam um incêndio florestal. "A relação da titularidade da terra na região não é um assunto que nós possamos fazer muita coisa. Nosso foco foi tratar da segurança pública de Quedas do Iguaçu." Segundo ele, uma força-tarefa foi montada na cidade após avanço na criminalidade, com notícias de crimes como ameaça, porte ilegal de arma de fogo e furtos de gado e madeira. "São crimes que estavam sem a devida apuração. A situação era muito grave no ano passado. Nosso objetivo foi fazer o controle da criminalidade e evitar que houvesse confrontos enquanto o processo judicial se arrasta."
Hoje, às 10 horas, o MST pretende organizar uma grande manifestação no centro de Quedas do Iguaçu pela morte dos dois sem-terra. E há atos previstos em ao menos cinco Estados. (Com Agências)
Celso Felizardo
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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