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Negociações salariais em 2015 foram as piores em 12 anos


Somente 52% dos acordos e convenções fechados no Brasil apresentaram ganho real segundo o Dieese

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Na média nacional, os metalúrgicos tiveram reajuste de apenas 0,08%, mas em Londrina e região, segundo o sindicato, houve ganhos reais expressivos

Os acordos e convenções coletivas de trabalho fechados no País no ano passado tiveram uma média de apenas 0,23% de ganho real - reajustes com índices maiores que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o pior resultado desde o período anterior a 2004. Em 2013, essa média ficou negativa em 2,08%. Os números foram divulgados ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Foram analisados 708 acordos ou convenções, sendo 72 (10%) do Paraná. No ano passado, 52% das negociações terminaram com ganhos reais, 30% com índices iguais à inflação e 18% abaixo da inflação.
Segundo o Dieese, uma possível explicação para a deterioração dos reajustes salariais ao longo de 2015 pode ser encontrada no agravamento do quadro econômico nacional, principalmente no que se refere ao comportamento do nível de atividade, da ocupação e da inflação. "A situação econômica e o nível de emprego são fatores importantes para o sucesso de uma campanha salarial. Outros fatores, como a força da organização sindical e a capacidade de mobilização dos trabalhadores, não podem ser ignorados", afirma o estudo.
As negociações no setor industrial foram as mais impactadas pela crise em 2015. Apenas 45% dos reajustes no setor resultaram em ganhos reais ao salário, 36% foram em valor igual à variação do INPC e 19% ficaram abaixo. No comércio, as negociações coletivas tiveram um resultado um pouco melhor, com aumentos reais em 53% dos casos e perdas reais em quase 15%. Reajustes iguais ao INPC foram observados em 32% das categorias analisadas no setor.
No setor de serviços, notou-se a maior proporção de aumentos reais: cerca de 62% das categorias estudadas registraram ganhos reais aos salários. Por outro lado, perdas reais foram observadas num patamar próximo ao da indústria: 18%. Reajustes iguais ao índice ocorreram em 20% das negociações no setor.
Secretário de comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Paraná, Daniel Mittelbach, diz que as categorias que "tiveram mais capacidade de mobilização e de pressão sobre o patronato conseguiram os melhores reajustes". No Estado, de acordo com ele, há uma união das centrais sindicais por melhores salários que se reflete no piso salarial. "Temos o melhor piso regional do País", declara.
Ele admite que a situação é difícil para os sindicatos e que só vai melhorar com o fim da crise política. "Nossa avaliação é essa. A crise econômica só será superara depois de superada a crise política", afirma. Mesmo assim, na opinião de Mittelbach, 2016 pode ser um ano melhor. "A categoria dos vigilantes, por exemplo, já fechou uma negociação com 1% de ganho real", conta.
Especialmente no setor da indústria metalúrgica, segundo o Dieese, a média de ganho real do ano passado foi insignificante, de apenas 0,08%. Mas, pelo menos na região de Londrina, as negociações tiveram resultados melhores para os trabalhadores. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos (Stimmel), Sebastião Raimundo da Silva, conta que, em 2015, os empregados e empresários fecharam as convenções do ano e outras duas que estavam atrasadas. "Conseguimos ganho real de 3,5% na convenção 2013/2014, de 2% na 2014/2015, e de 1%, na atual", afirma.
Ele acredita que os bons resultados foram obtidos graças à pressão da categoria e também devido ao fato de que os patrões se sentiram pressionados pelo atraso nas convenções. "Seguramos a barra e acabamos conseguindo", ressalta.

Nelson Bortolin
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA
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