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Todos contra a dengue na região

Em Assaí, as ações de limpeza das vias públicas, mutirões junto à comunidade e trabalhos de conscientização nas escolas ajudaram a conter a epidemia de dengue

O ano de 2016 foi difícil para as autoridades de saúde e população de nove municípios do Norte Pioneiro do Paraná, que enfrentaram uma grave epidemia de dengue. As situações mais graves ocorreram em Assaí, Santa Cecília do Pavão e Rancho Alegre. Durante o ano epidemiológico 2015/2016, que se encerrou em agosto, foram confirmados mais de 2 mil casos da doença nas três cidades que, juntas, têm uma população aproximada de 23,7 mil pessoas. Para combater o mosquito Aedes aegypti - e a transmissão do vírus da dengue - foi necessária uma grande mobilização da sociedade civil e dos moradores. Hoje, um ano após o início da epidemia, a situação está controlada.

Em Assaí (16.212 habitantes), que enfrentou a situação mais séria, com 1.377 casos e uma morte confirmada pela doença, o trabalho de conscientização e combate ao mosquito continuou mesmo após o controle da epidemia, segundo o agora ex-secretário municipal de Saúde Cláudio Roberto Prudêncio. A cidade só ficou atrás de Paranaguá entre os municípios de todo o Paraná que tiveram a maior incidência de dengue por habitante. O Ministério da Saúde (MS) considera situação de epidemia uma incidência de 300 casos ou mais para cada 100 mil habitantes. Em Assaí, esta incidência foi de 8.123, ou seja, 27 vezes mais alta.

Prudêncio diz que as autoridades ainda não conseguiram entender as razões da explosão do número de casos, mas afirma que a maioria dos focos do mosquito foi encontrada dentro das casas dos moradores. Segundo o ex-secretário, muitos possuem galinheiros em seus quintais, outros trabalham em cidades vizinhas e passam o dia todo fora, o que dificulta um pouco o trabalho de fiscalização dos agentes de endemias. A cidade também possui hortas comunitárias e não era raro encontrar baldes com água esquecidos há dias. Terrenos vazios cheios de lixo também se tornaram criadouros potenciais do mosquito, assim como sanitários deixados com a tampa aberta, tocos de árvores e até postes de sinalização e iluminação vazados, que foram tampados pela administração pública para evitar o acúmulo de água.

"Foi uma das piores epidemias que Assaí enfrentou", garante. O aumento do número de casos começou em dezembro de 2015 e o pico da epidemia ocorreu entre janeiro e fevereiro de 2016. Além do trabalho de fiscalização e orientação realizado pelos oito agentes de endemias da cidade, foi criado um comitê da dengue, que passou a realizar reuniões em igrejas e escolas. "Também envolvemos os agentes comunitários de saúde no trabalho, além de vários funcionários da prefeitura. O próprio Conselho Municipal de Saúde nos ajudou. Fizemos vários mutirões. Foi um pente fino tão grande que até o cemitério passamos a limpar a cada 15 dias", conta.

O ex-secretário de saúde afirma que o município pediu ajuda da 17ª Regional de Saúde de Londrina, da qual faz parte, para a aplicação do fumacê durante 30 dias. Os moradores da cidade também receberam a vacina contra a dengue. Cláudio Prudêncio diz que o município conseguiu imunizar 70% do público-alvo. As mídias locais foram utilizadas no trabalho de conscientização. "A cada 15 dias íamos até a rádio para dar informações sobre a dengue e reforçar os cuidados", afirma. O esforço deu resultado. Entre os meses de agosto e dezembro de 2016, Assaí confirmou apenas 12 casos de dengue e o índice de infestação pelo mosquito ficou abaixo de 1% - o máximo preconizado pelo MS.

O novo prefeito de Assaí, Acácio Secci (PPS), afirma que já em seu discurso de posse pediu à população que mantivesse o olhar atento e cuidado permanente com potenciais criadouros do Aedes. "Sabemos que o período de janeiro a março é muito quente e chuvoso e é quando os mosquitos se proliferam, mas não basta apenas o poder público se preocupar, cada cidadão deve cuidar do seu quintal", avisa. Segundo ele, todas as ações até então empregadas no controle da dengue continuarão, principalmente as campanhas de conscientização. "Faremos de tudo para evitar uma nova epidemia", garante.

SANTA CECÍLIA DO PAVÃO

Santa Cecília do Pavão, com cerca de 3,5 mil habitantes, também enfrentou a mais grave epidemia de dengue da história do município em 2016, com uma incidência de 7.589 casos/100 mil pessoas. O então secretário de saúde Leandro Francioli diz que a população é formada, em sua maioria, por idosos e que falta conscientização sobre a importância de eliminar possíveis criadouros do mosquito. "Tivemos uma resistência grande. As pessoas não entendem que precisam vistoriar o próprio quintal, acham que a atribuição é do poder público", lamenta.

Segundo ele, a cidade, até então, não tinha agentes de endemias concursados. O trabalho era terceirizado. Mas depois da epidemia, duas pessoas foram contratadas de forma efetiva para atuar no combate e controle da doença.
Para envolver a população, a secretaria municipal de saúde criou um "show de prêmios da dengue". Comerciantes doaram prendas e uma gráfica local deu as cartelas, que eram distribuídas a todos os moradores que limpassem corretamente os seus quintais e não tivessem criadouros do mosquito. Quem fez o dever de casa ganhou o direito de participar. A sociedade civil foi convocada a ajudar. "Reunimos todas as secretarias, igrejas, lideranças, a promotoria para atuar no combate ao mosquito", lembra. O fumacê também foi utilizado. De agosto a dezembro do ano passado, a cidade não confirmou nenhum caso da doença. "A situação agora está estabilizada", garante o ex-secretário.

RANCHO ALEGRE
Trezentos e trinta e dois casos de dengue foram confirmados em Rancho Alegre no ano epidemiológico que se encerrou em agosto de 2016. A cidade de 4 mil habitantes também foi vítima da grave epidemia de dengue instalada no Norte Pioneiro, com uma incidência de 7.343 casos/100 mil pessoas. O coordenador das ações contra a dengue no município, enfermeiro Marcos Aparecido Morelato, diz acreditar que o surto foi causado a partir da chegada de uma pessoa contaminada pelo vírus. "Tivemos um pico elevado e muito rápido de casos. Se o vírus já estivesse circulando aqui, teríamos casos mais frequentes", justifica.

Entre as ações realizadas para combater o avanço da doença estão a limpeza, campanha com os oito agentes do Programa Saúde da Família, que passaram a reforçar o trabalho dos três agentes de endemias, reeducação dos moradores com relação aos criadouros do mosquito, e fiscalização. "Nossos agentes vasculharam quintais, calhas, subiram nos telhados e caixas d’água", conta. Bombas costais foram usadas para fazer o bloqueio do mosquito. "Fico muito contente porque o trabalho foi bem feito. Não existe expectativa de nova epidemia", afirma Morelato. De agosto a dezembro passado, a cidade não confirmou nenhum caso da doença.
Amanda de Santa
Especial para a FOLHA DE LONDRINA

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