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FACES DO PROGRESSO - A vida depois da usina

Obra exigiu investimento de R$ 1 bilhão e vai começar a gerar energia em setembro





Prestes a entrar em operação, Hidrelétrica Mauá, no Tibagi, ainda gera discussões sobre as consequências do empreendimento para a região



Quando se fala na Usina Hidrelétrica Mauá, que está sendo construída no Rio Tibagi entre os municípios de Ortigueira e Telêmaco Borba (Região Centro-Oriental do Paraná), é impossível não se lembrar das várias polêmicas e contestações judiciais que ela motivou. A menos de três meses do início da geração comercial da primeira unidade, previsto para a segunda quinzena de setembro, as discussões ainda estão longe de acabar. Independente de quem está certo ou errado nessas questões, até março de 2013 (data prevista para a conclusão da obra, iniciada em julho de 2008) o empreendimento, incluído no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e de custo superior a R$ 1 bilhão, terá mudado direta ou indiretamente a vida de milhares de pessoas na região. O produtor rural Celso Ricardo Ferreira, de Ortigueira, garante que no caso dele a mudança foi para melhor. ''A gente pensava: 'Esse pessoal de usina vem, desapropria, não paga nada'. Mas para mim pagaram tudo certinho. Não tenho do que reclamar'', garante ele, que trabalha com produção de leite. Ferreira, a esposa e a filha moravam em uma propriedade no Distrito de Lajeado Bonito, às margens do Tibagi. Com a desapropriação, há três anos, a família comprou outra propriedade, na mesma localidade, porém mais distante do rio e mais perto da área urbana de Ortigueira. Ferreira explica que essa mudança permitiu que ele realizasse dois sonhos antigos. ''Como a gente morava perto do rio, o acesso era difícil e o caminhão (da empresa que compra leite da família) não descia até lá. Eu tinha que levar o leite até o tanque do meu pai, a cavalo. Agora que estamos mais para cima, a empresa emprestou um resfriador. Isso melhorou 100%'', relata. ''Outra coisa que melhorou é que fizemos uma casa boa, de madeira. Eu nunca tinha morado em casa de madeira. Sempre morei em casa de sapê.'' Mas nem todos tiveram a mesma sorte. Uma pendência é a indenização dos garimpeiros que trabalhavam na região do Rio Tibagi onde será formado o reservatório da usina. A situação dos trabalhadores foi discutida em uma câmara técnica específica. Até o início de maio, os pleitos de 165 garimpeiros haviam sido aceitos e outros 127 indeferidos. Mesmo entre os que tiveram os pleitos reconhecidos, há insatisfação. Em janeiro, um grupo de aproximadamente 70 garimpeiros que tiveram indenizações aprovadas entrou com ação na Justiça estadual contra o consórcio, porque consideraram os valores baixos. Ainda não houve sentença. ''Eles nos indenizaram pelos anos que trabalhamos, mas nós queríamos receber pelos anos que deixaríamos de trabalhar'', explica Luis Carlos dos Santos, um dos trabalhadores incluídos na ação. ''Eu recebi mais ou menos R$ 16 mil. A indenização mínima era de R$ 7 mil, e a máxima, de R$ 18 mil. Teve gente que trabalhou sete anos e recebeu R$ 7 mil, e gente que trabalhou 30 anos e recebeu R$ 18 mil.'' Santos relata que trabalhava como garimpeiro no Tibagi desde 1978. Ele destaca que, se não houvesse interferência do Ministério Público Federal (MPF), seria ainda mais complicado obter compensações. ''O MPF de Londrina abraçou nossa causa. O consórcio não queria nos reconhecer como garimpeiros. Mas nós tínhamos documentação do Governo Federal comprovando o trabalho. Tem gente que trabalhava no garimpo há 50 anos'', afirma Santos.

Folha de Londrina - 17/06.

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