A internet livre de ataque
Finalmente,
o Marco Civil da Internet pode ser votado – e aprovado – na próxima
semana na Câmara Federal. É muito importante que 2013, um ano tão
expressivo para a política, termine com algum grau concreto de
planejamento social. É nesse sentido que o Marco ganha cada vez mais
urgência e singularidade. A internet não é um produto de mercado.
As
empresas de telecomunicações ficaram de nos enviar os pontos mais
importantes a serem ajustados, de acordo com as suas perspectivas.
Entretanto, enquanto escrevo este artigo, não recebi nenhuma mensagem.
No que diz respeito à neutralidade na rede, teremos de ser impassíveis.
Não se poderá camuflar essa questão, para aprovar um texto chocho, que
nao defina a internet como uma ferramenta social. A ideia é justamente
promover uma legislação abrangente, com os princípios fundamentais do
uso da rede no Brasil.
Vacilar
agora pode significar, no futuro, submeter o acesso às “super-tarifas” –
como as que pagamos nos minutos de telefone celular (uma herança das
privatizações apressadas). A intenção do Marco Civil é proteger o
usuário de distorções como “quem tem dinheiro para pagar um grande
plano, paga menos por minuto”, algo muito comum nos pacotes de
telefonia.
O
Palácio do Planalto contribuiu substancialmente para o recolocar o
Projeto de Lei na agenda nacional. Com o pedido de urgência (o Marco
passou por cinco tentativas de chegar ao plenário, antes desta última),
ele ganhou novas importâncias no contexto em que os Estados Unidos são
acusados de espionar pessoas e instituições no país.
Sob
a bandeira da privacidade digital dos brasileiros, ou até mesmo de uma
resposta às manifestações populares, a aprovação do Marco Civil é a
conclusão de um criterioso trabalho de construção legislativa que ainda
não havia sido aproveitado completamente. Ele servirá para regulações
mais precisas sobre a internet no Brasil, como, por exemplo, a aprovação
do projeto que amplia o alcance da Lei Maria da Penha, que hoje não
atende crimes virtuais contra mulheres.
Foram
reunidos 39 projetos, independentes, ligados à internet, da Câmara e do
Senado, para compor o Marco. Para a compilação, a Câmara realizou sete
audiências públicas e 62 consultas a especialistas, sem contar as cerca
de 160 mil participações de usuários, com ênfase para a 2,3 mil
contribuições oficializadas e consolidadas. A nova legislação recebeu
destaque do Ministério da Justiça pelo “caráter participativo na
construção do texto”.
Surgiram
enfrentamentos sobre liberdade de expressão, direitos autorais e
tipificação criminal. Mas existe um esforço em particular nessa
legislação, na questão da neutralidade e por um Marco Civil
principiológico, contra enunciados tecnológicos – porque seriam
invalidados rapidamente.
(*) João Arruda (PMDB-PR) é deputado federal, presidente da Comissão do Marco Civil da Internet.