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COMO DRIBLAR A DESMOTIVAÇÃO - Dinheiro não é tudo

Para especialistas, um bom salário não é a única forma de motivar os funcionários e pode até gerar acomodação do profissional

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Motivação baseada em dinheiro é paliativa e pode durar pouco tempo
 
No mundo do futebol, é comum os treinadores lançarem mão de atividades motivacionais em suas preleções para mexer com o emocional e o brio de seus jogadores, especialmente em jogos decisivos. Frases de efeito extraídas de best-sellers de autoajuda, vídeos ou histórias de superação são geralmente os recursos utilizados nos vestiários. Há quem diga, porém, que mais do que isso, a premiação em dinheiro prometida pelo clube em caso de vitória, conhecida no meio como "bicho", é o que realmente motiva o jogador a querer comer a bola.

E no mercado corporativo, como manter um funcionário constantemente motivado a produzir os resultados que a empresa espera dele? Até que ponto a desmotivação no ambiente de trabalho pode comprometer o desempenho de toda uma equipe? O senso comum também aponta o fator salarial como determinante para estimular ou arrefecer a disposição de um colaborador. Mas especialistas na área garantem que a remuneração está longe de ser o xis do problema. "A questão salarial com certeza é a desculpa mais comum utilizada pelos funcionários desmotivados. Mas é um grande engano. Na verdade, o dinheiro está entre os mais baixos fatores de motivação", afirma a psicóloga Meiry Kamia, mestre em Administração de Empresas, consultora organizacional e docente em MBA de Gestão de Pessoas.

Ela explica. "A primeira coisa que uma pessoa que recebe um aumento de salário faz é gastar esse dinheiro, seja num financiamento de carro, roupas, academia, ou qualquer outro tipo de necessidade. A questão é que ao final de dois ou três meses, tempo apontado pelas pesquisas de motivação, a pessoa já comprometeu o dinheiro extra recebido e já está com a sensação de falta do fator motivador novamente, querendo mais dinheiro. Sendo assim, a motivação baseada em dinheiro é paliativa, ou seja, durará de dois a três meses", argumenta a psicóloga, ponderando que obviamente a política salarial é um fator importante na relação entre empresa e colaborador. "Sem salário, haverá insatisfação. E é muito mais difícil motivar um funcionário que está insatisfeito do que aquele que está satisfeito com a empresa", ressalva Kamia.

Estudos


O coach Alexandre Nakandakari, consultor em recrutamento e seleção, avalia que a remuneração é um grande influenciador do desempenho, mas não decisivo. "Há pesquisas que indicam que nem sempre a recompensa externa financeira é o que determina a qualidade da performance profissional, podendo se tornar até um fator que mais atrapalha do que ajuda", afirma. Uma dessas pesquisas, cita Nakandakari, foi feita pelo autor Daniel Pink, estudioso do tema motivação. E o resultado apontou que o dinheiro é um motivador para tarefas simples, mecânicas. "Quando a atividade envolve criatividade, soluções inovadoras, conceitos, esse tipo de recompensa parece não funcionar e até piora o desempenho das pessoas por conta da acomodação", esclarece o coach.

Missão definida


Meiry Kamia pontua que por ser intrínseca a cada indivíduo, a motivação não pode ser manipulada, mas as empresas são capazes de despertá-la em seus funcionários. "Quando o funcionário compreende qual é o seu papel e sua importância na empresa e como isso repercute na sociedade, ele entende a sua missão, ou seja, cria-se um sentido pelo qual realizar determinado trabalho", observa a psicóloga.

Para Alexandre Nakandakari, mais importante do que identificar a desmotivação é descobrir o que motiva as pessoas. O que não impede que as empresas façam um controle de danos com os aspectos negativos evidenciados no ambiente profissional. Só não pode ser o foco principal dos gestores, diz o coach. "Desenvolver atividades que promovam o autoconhecimento de seus funcionários é a melhor maneira de se descobrir quais são os fatores motivadores, tanto os extrínsecos (como ambiente e salário) quanto os intrínsecos (valores pessoais e propósito de vida). Nesse caso, o papel do líder é fundamental, pois é ele quem está mais próximo aos colaboradores e tem condições de identificar os fatores motivadores e incentivá-los", argumenta.
Diego Prazeres
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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