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ESPORTE - O dono da bola

Título paranaense é o ápice da parceria do Londrina com a SM Sports, de Sérgio Malucelli, o gestor que entrou no futebol ‘por acaso’

Saulo Ohara
Sérgio Malucelli reclama de falta de apoio de empresários e da prefeitura de Londrina
Sérgio Malucelli, de 56 anos, é o personagem central do futebol londrinense desde 2011, quando assumiu a gestão do Londrina Esporte Clube, o nome mais conhecido nacionalmente do esporte local. No domingo passado, a parceria atingiu o seu ápice até o momento, com a conquista do Campeonato Paranaense, glória que o LEC não alcançava há 22 anos.

O título deu sequência a um ano positivo para a SM Sports, empresa de Malucelli, que em fevereiro havia vendido o lateral Wendell, do Grêmio (eleito o melhor lateral-esquerdo do Paranaense de 2013, quando estava no Londrina), para o Bayer Leverkusen, da Alemanha. Este ano, a empresa pode receber no seu CT, localizado na zona sul de Londrina, a seleção da Nigéria durante a Copa do Mundo – a equipe africana cogita trocar seu local de estadia de Campinas (SP) para o Norte do Paraná.

Integrante de uma das famílias mais tradicionais do Paraná, casado, pai de dois filhos, Malucelli nasceu em Irati (Centro-Sul), onde morou até os 15 anos. Mudou-se para Curitiba e na capital paranaense trabalhou com o primo, o empresário Joel Malucelli, na J. Malucelli Corretora, até os 25 anos. Depois, trabalhou com venda de automóveis importados.

Ele conta que entrou no futebol "por acaso", em 1993, no Iraty Sport Club, do qual foi gestor até 2012. "O clube estava parado há 20, 30 anos. Começamos na Terceira Divisão, fomos campeões, subimos para a Segunda, fomos campeões também", diz Malucelli. "Sou da cidade, sempre gostei de futebol, aí o pessoal me pediu para ajudar. Eles disputavam a Taça Paraná, torneio amador, eu acabei gostando e fiquei. No primeiro ano na Primeira Divisão, fiz o meu primeiro negócio, que foi a venda do Arinélson para o Santos. Comecei a pegar gosto."

Malucelli abriu mão de outros negócios e hoje só trabalha com futebol. A SM Sports assumiu a gestão do futebol do Londrina no final de 2010, após uma parceria malsucedida do clube com o grupo paulista Universe que quase levou o LEC à Terceira Divisão estadual.

"Comprei aqui (a área do CT, onde ficava o antigo Horto Tropical) em 2007 e em 2010 (ano em que o centro de treinamentos ficou pronto) disputei o Estadual sub-18 e o sub-20 aqui com o Iraty. O prefeito da época, o Barbosa Neto, me convidou para entrar no Londrina. Ele fez toda a negociação, inclusive assumiu que a Sercomtel ficaria comigo (como patrocinadora) o tempo que ele ficasse na prefeitura. Tinha esse apoio, tinha o apoio da prefeitura, aí eu entrei. Assinei no final de 2010 e assumimos o Londrina em 1° de janeiro de 2011", lembra o empresário.

Desde o início da parceria, que tem validade por uma década, o Tubarão ressuscitou dentro de campo e em três anos e meio conquistou três títulos: da Divisão de Acesso do Paranaense em 2011, o de campeão do interior na Primeira Divisão do ano passado e o Estadual de 2014.

Nesse caminho, o LEC voltou a participar de campeonatos nacionais em 2013, o que não conseguia desde a Copa do Brasil de 2010. Na Série D do Brasileiro do ano passado, foi eliminado na segunda fase. Este ano, está na segunda fase da Copa do Brasil, após eliminar o Criciúma, e garantiu de novo vaga na quarta divisão nacional.

"A meta desde o começo é no mínimo devolver o Londrina à Série B do Brasileiro. Mas eu acho que a campanha tem sido surpreendente. Estamos no quarto ano e já ganhamos três títulos aqui. Está até acima das expectativas", diz Malucelli, que espera que este ano o Tubarão seja campeão da Série D.

QUEIXAS


Apesar dos bons resultados dentro de campo, o gestor reclama de falta de apoio. "Estávamos com a Sercomtel, depois o Barbosa acabou saindo, houve problemas e a Sercomtel nunca mais nos apoiou", afirma. "A torcida apoia, comparece. Mas há uma grande falta de apoio de empresários e principalmente da prefeitura. A prefeitura tinha que estar mais do lado do time porque é divulgação para a cidade. Quem mais divulga o nome de Londrina é o clube."

Quanto à pressão por títulos, Malucelli destaca um ponto positivo. "No Iraty não tinha cobrança nenhuma. Era fazer jogador, revelar e vender. Aqui tem cobrança maior, tem que ir atrás de títulos, mas se conseguir aliar os dois é bom. Para venda, negociação de jogadores, é melhor. Se você ganha um título, o seu time valoriza mais", explica.

Ele aponta, entretanto, que o lado negativo da pressão o faz pensar em não renovar a parceria com o LEC ao fim do contrato. "A princípio, eu não tenho interesse. A ideia é completar os dez anos e parar. É muito cansativo, muita coisa que tem que fazer. A cobrança é muito grande, o apoio é muito pequeno. E em Londrina há um problema seríssimo com a imprensa. Eu acho que ela está mal acostumada e acha que manda em tudo. Quer trocar de treinador toda hora, essas coisas incomodam. Você não trabalha sossegado nunca aqui", diz Malucelli.

A intenção é voltar a trabalhar exclusivamente com revelação e negociação de jogadores. "Era o que eu queria desde o começo. Acabei entrando no Londrina por acaso. A minha ideia ao vir para cá era só trabalhar com formação de jogadores", justifica. Entretanto, o empresário acena com a possibilidade de a família dar continuidade à parceria. Um de seus filhos, Luiz Felipe, já trabalha como empresário (é procurador de Wendell e Arthur, artilheiro do Londrina na campanha do título estadual e que foi emprestado ao Flamengo). "Se eu sair ao fim dos dez anos, ele pode dar continuidade", cogita Malucelli.
Fábio Galão
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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