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LONDRINA - Famílias enfrentam frio em moradias improvisadas

Situação é preocupante em áreas de ocupação na zona norte; apenas 20% das doações da Campanha do Agasalho são roupas de frio

Fotos: Anderson Coelho
Nas noites frias, o espaço mais disputado da ocupação é um sofá ao lado da fogueira em meio ao terreno alto e descampado
Na moradia de Elza de Paula, não há nenhuma proteção nas paredes. Debaixo de um cobertor "corta-febre", ela enumera as incontáveis frestas, inclusive no telhado de amianto
Sandra e Ilson Acelino pregam cobertores e tapetes nas paredes do barraco de madeira compensada para tapar os buracos, mas estratégia pouco adianta
Londrina – Ainda faltam três semanas para o início do inverno, mas o frio já chegou forte a Londrina. Os termômetros chegaram a 10º C na semana passada e a previsão para amanhã é que a temperatura mínima caia para 6º C. Os órgãos de assistência social reforçam a atenção com a população mais vulnerável. A situação é crítica entre os moradores de rua e nas moradias improvisadas a condição não é muito diferente. Nos barracos das áreas de ocupação na zona norte, o frio é a maior provação. "Só fica aqui quem não tem mesmo onde ir. Você acha que alguém com alguma alternativa suportaria isso?", questiona a zeladora Sandra Balbino Messias, de 37 anos.

Sandra faz parte de uma das 120 famílias que há quatro meses ocuparam um terreno da Cohab no Conjunto João Paz. O barraco de lona já deu lugar a um mais resistente, de compensado. Porém, a madeira empenou com as chuvas. Nas frestas, o vento gelado encontra espaço para tornar a noite ainda mais angustiante. Cobertores e tapetes são pregados nas paredes para tapar os buracos, mas a estratégia pouco adianta. "Entra vento por cima, por baixo. Não há pano que resolva", conta. Sem piso, é possível sentir a umidade da terra vermelha através do tapete fino.

Nas noites frias, o espaço mais disputado é um sofá ao lado da fogueira em meio ao terreno alto e descampado. Um tronco robusto alimenta o fogo por toda a noite. "Quando o frio aperta, corremos pra cá. Tem noite que o cobertor não dá conta, não", relata o pintor Ilson Acelino, de 44. Ele menciona que em um barraco vizinho, um casal de amigos se vira para dar conta de manter sete crianças aquecidas. "Falta cobertor, agasalho. É uma vida sofrida, viu", lamentou. Eles aguardam ansiosos na esperança de conseguir uma moradia pelo programa municipal de habitação.

Na moradia de Elza de Paula, de 46, não há nenhuma proteção nas paredes. Debaixo de um cobertor "corta-febre", ela enumera as incontáveis frestas na parede e no telhado de amianto. Na chaleira, o café forte e bem quente ajuda a mascarar o frio. Entre os homens, o velho hábito de "tomar uma pra esquentar" é frequente. Cientes da situação irregular, eles temem uma desapropriação durante o inverno. "Toda vez que passa uma viatura já ficamos em alerta. Não gosto nem de pensar em ficar desabrigado com esse frio", cogita Carlos da Silva, de 19, assustado com a aproximação da reportagem.

ABRIGO
Nas ruas, a equipe de trabalho do Centro Pop - Serviço Especializado para Pessoas de Rua -, órgão ligado à Secretaria Municipal de Assistência Social, tem foco nas abordagens nos dias frios. A Operação Noite Fria busca identificar pessoas em situação de risco. Odair dos Santos, de 51, foi um dos 148 moradores de rua que conseguiu uma vaga de acolhimento. No Abrigo Serviço de Obras Sociais (SOS), localizado na Vila Nova (área central), ele comemorou a blusa de lã que conseguiu encontrar no meio da pilha de roupas, doação da Campanha do Agasalho. "Já estava preocupado com a chegada do inverno. Essa blusa vai me ajudar muito", comemorou. O abrigo tem 21 vagas e, nos últimos dois meses, trabalha com a lotação máxima. "Nos dias mais frios a procura aumenta muito. É uma pena não podermos atender mais gente", comentou a assistente social Marilza Cardoso Yoshinaga.

Segundo Marilza, um erro comum é as pessoas deixarem para buscar uma vaga de acolhimento durante a noite. "O contato antecipado aumenta consideravelmente as chances de se encontrar uma vaga em abrigos", aconselhou. Além do SOS, Londrina conta com outros quatro abrigos: Albergue Noturno, Casa do Bom Samaritano, Pão da Vida e Casa do Caminho. Ao todo, são 148 vagas de acolhimento, pouco para as cerca de 300 pessoas que vivem nas ruas, segundo o levantamento do Centro Pop.

CAMPANHA DO AGASALHO
O Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar) já recebeu cinco mil peças de roupas desde o início da Campanha do Agasalho, há um mês, porém apenas 20% das doações são realmente trajes de inverno. De acordo com a gerente do Provopar em Londrina, Ana Lúcia Conde, toda peça é bem-vinda, mas a maior carência é de blusas, casacos e jaquetas. A doação de roupas masculinas e femininas também é desproporcional, cerca de 70% do total arrecadado são vestimentas para mulher, limitando assim a distribuição.

A três semanas do início do inverno, Ana Lúcia reforça o apelo para as doações, que seguem até 30 de julho. "É importante deixar claro que não estamos reclamando, mas gostaríamos de orientar a população sobre nossas demandas. As roupas mais quentes e masculinas são nossas prioridades no momento", explicou. As doações recebidas são distribuídas entre 190 entidades parceiras do Provopar. Ana Lúcia explica que o programa não faz distribuição direta às famílias.

SERVIÇO
Informações sobre pontos de arrecadação no Provopar – Avenida Juscelino Kubitschek, 2.882, tel. (43) 3324-2397.

Para acionar abordagem para moradores de rua, ligar no Centro Pop – (43) 9991-4568 (atende à cobrar) ou 3378-0417. A abordagem prossegue até as 22h30.
Celso Felizardo
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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