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Tensão marca negociação após motim

Presos e autoridades chegam a acordo, mas reféns não haviam sido liberados até as 21h45

Fotos: Marcos Zanutto
Detentos amotinados destruíram presídio de Cascavel
Cascavel - A maior rebelião no sistema penitenciário paranaense em quatro anos havia completado 34 horas ontem à noite sem que tivesse sido encerrada pelos presos da Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC). Com 80% das instalações destruídas e um número de mortes certamente superior às quatro anunciadas oficialmente pelas autoridades de segurança pública, o motim parecia encaminhar para um desfecho por volta das 19h20. Nesse horário, sob um frio de 12 graus e muita expectativa por parte dos dezenas de familiares que desde domingo fazem campana em frente ao acesso à PEC, saiu a primeira leva dos 800 presos que a Secretaria de Justiça e Cidadania (Seju) pretende transferir para unidades penitenciárias de Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão e Maringá. Saíram cerca de 150 detentos em micro-ônibus do Departamento Penitenciário (Depen) e escolares, sob forte escolta policial. Era o indicativo de que a rebelião seria encerrada, embora o clima permanecesse sempre tenso na área, como tem sido desde que o motim teve início, às 6h30 do último domingo.

Até o fechamento da edição, os dois agentes penitenciários feitos reféns seguiam em poder dos detentos, o que indicava que, mesmo com o processo de remoção tendo sido iniciado, não era possível cravar se e quando o motim teria fim. Pouco depois da primeira remoção dos presos, o detento Washington Presence de Oliveira, de 28 anos, em contato feito por um aparelho celular com um membro da imprensa disse por volta das 19h40 que as negociações com o comitê de gestor de crises da Polícia Militar teriam que ser retomadas porque os policiais teriam ameaçado invadir o presídio. Entre relatos de maus-tratos e críticas à alimentação fornecida na unidade, Oliveira garantiu que "apenas" quatro presos foram mortos desde o último domingo. Dois deles, degolados. Os quatro seriam "duques", que na gíria dos internos é a alcunha dos condenados por estupro. "Só que se a polícia invadir, vamos matar mais", ameaçou.

O temor de que mais mortes teriam ocorrido partiu do próprio juiz da Vara de Execuções Penais de Cascavel (PEC), Paulo Damas, que participou das negociações com os detentos. "Infelizmente, acreditamos que possa ter havido mais mortes, porque no decorrer da noite de ontem [domingo] teve muito fogo e foi sentido o cheiro de corpo carbonizado", relatou. Um agente que não quis se identificar afirmou à reportagem que também acreditava em mais mortes do que o divulgado. "O cheiro de carnificina lá dentro é terrível", disse.

Minutos depois da "entrevista" do detento pelo celular, a relações-públicas da PM, tenente Márcia Bilbio, foi até a barreira policial formada para impedir o acesso da imprensa e dos familiares dos presos até a entrada do presídio, informar aos jornalistas que a Polícia Militar em nenhum momento cogitou invadir a PEC e que as negociações caminhavam para um desfecho da rebelião. "Não iremos invadir o interior da unidade. Estamos em processo de negociação, já foram transferidos 150 presos e só poderemos dizer que a situação está resolvida quando retomarmos o controle da unidade", afirmou a tenente, reiterando que não tinha informações sobre número de mortos e feridos. "Só teremos condições de fazer o levantamento dos presos que estão sendo transferidos e das vítimas quando fizermos a quantificação nominal. É um processo moroso", disse. A tenente Bilbio foi a única oficial a se pronunciar para a imprensa, que assim como os familiares dos presos, ficou isolada cerca de 1 quilômetro da entrada principal do presídio.

Ela confirmou que tanto o secretário da Segurança Pública, Leon Grupenmacher, quanto a secretária da Justiça e Cidadania, Maria Tereza Uille Gomes, estavam entre as 15 autoridades que durante o dia permaneceram no interior da PEC participando das negociações juntamente com o comitê gestor de crises da PM. Nenhum dos dois apareceu para a imprensa.

Quando deixou o presídio, por volta das 16h20, o juiz da VEP, Paulo Damas, garantiu que há vagas disponíveis nas penitenciárias de Foz, Francisco Beltrão e Maringá para receber os 800 presos que serão transferidos da PEC. "Tanto a secretária da Justiça quanto o de Segurança Pública estão na unidade agora e afirmaram que já foram disponibilizadas todas essas vagas para as remoções desde ontem (domingo). Vai ser feito um levantamento total, mas a gente acredita que existam 150 vagas úteis aqui na PEC que vão ser aproveitadas."

Só que a informação dele foi contestada logo depois, às 17 horas, pelo presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen), Anthony Johnson, que deixou a PEC para conceder entrevista em que chamou de "caos" a situação no sistema penitenciário do Paraná.

As transferências são consideradas paliativas pelo Sindarspen, para quem o sistema penitenciário do Paraná vive um "caos" que vai além da superlotação em suas principais unidades. "Os presídios todos estão superlotados, vai ser outra medida paliativa, não existem vagas. As outras unidades também vão ficar prejudicadas", criticou.
Diego Prazeres
Reportagem Local-folha de londrina
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