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O medo da rebelião

Agentes relatam ameaças diárias de presos que querem tomar a PEL 2; tensão no Estado também preocupa familiares dos detentos

Londrina – Os agentes penitenciários de Londrina estão apreensivos. Eles receberam uma mensagem pelo telefone celular de que existe a possibilidade de uma rebelião na Penitenciária Estadual de Londrina 2. Caso os detentos não obtenham sucesso nessa empreitada, existe a ordem para que um agente penitenciário seja morto fora dos presídios de uma maneira que pareça um acidente ou um latrocínio. Um dos agentes, que pediu para não se identificar, afirmou que todos estão redobrando os cuidados dentro e fora dos presídios. "Está todo mundo trabalhando com resignação, com mau humor e descontentes com as más condições de trabalho para realizar o serviço. Faltam algemas, rádio- comunicadores e bastões de segurança".

Em frente a PEL 2 a aglomeração de mulheres com grandes sacolas nas mãos anuncia mais um dia de visitas. O agito de carros, mototaxistas e visitantes, que começa na sexta-feira e segue até domingo, quebra o marasmo dos outros dias da semana no trecho da Rodovia João Alves da Rocha Loures, na zona sul da cidade. Nas últimas semanas, mães e mulheres de presos, que correspondem a maioria das visitas, carregam algo além das sacolas: o semblante de preocupação. O medo é o risco iminente de rebelião nas unidades penitenciárias de Londrina.

Do lado de dentro da tela que separa a frente do prédio da rodovia, três agentes conversam em tom de inquietude. Segundo eles, "virar" a PEL 2 é questão de honra para parte dos presos da unidade. Na linguagem vigente entre as grades de ferro, virar significa tomar a penitenciária por meio de rebelião. "Eu digo todo dia que eles podem tentar, mas aqui eles não vão conseguir", assegura o agente. "A situação é muito tensa, rapaz. Só não tomaram isso aqui ainda porque fazemos o serviço bem feito", orgulha-se.

Na quarta-feira, os agentes encontraram 17 celulares, carregadores, serras, e outras ferramentas artesanais em uma das alas. Eles expõem que o problema da PEL 2 é a fragilidade da estrutura. "Muita coisa é arremessada aqui para dentro. Damos a cara para bater na linha de frente para depois ouvirmos que nós facilitamos a entrada dos objetos. Pelo menos aqui isso não ocorre", defende-se, criticando o governo pela falta de investimentos. "Quando algo dá errado, a culpa sempre é do mais fraco".

Somente neste ano, foram registrados 22 motins nas penitenciárias do Paraná. De todas as cidades que abrigam as unidades prisionais, apenas Cruzeiro do Oeste, Foz do Iguaçu (Oeste) e Londrina continuam incólumes a ação dos presos. A migração dos detentos rebelados pelo Estado é considerada pelos agentes um dos motivos propagadores das rebeliões. "Quando há a negociação pela transferência, os presos consideram uma vitória. Assim que chegam onde querem estar, incentivam os outros a fazer o mesmo", denuncia.

De acordo com o Departamento Penitenciário do Paraná (Depen), a PEL 2 abriga 1.152 detentos e a capacidade é de 1.108. Na PEL 1, a superlotação é ainda maior. São 671 presos onde cabem apenas 484. As autoridades consideram o excesso dentro do limite de aceitável.

Colaborou Vítor Ogawa/Reportagem Local

FOLHA DE LONDRINA
Celso Felizardo
Reportagem Local
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