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TRANSPORTE AÉREO - Os brasileiros querem voar

A exemplo da aviação comercial, aviação executiva apresenta ritmo de crescimento sem precedentes no País. Setor conta com 14,6 mil aeronaves, a maioria comprada de americanos que tiveram que abrir mão de seus bens depois da crise de 2008

Gina Mardones
"Hoje o custo do uso de avião como veículo de transporte se aproximou do custo de uma viagem de carro, e ninguém tem tempo a perder na estrada", diz José Morandi, piloto agrícola e diretor de escola
Nos últimos anos o brasileiro conheceu a comodidade de se locomover de um lado para o outro voando e, o que é melhor, no dia e hora que lhe for mais conveniente. Assim como a aviação comercial vive um crescimento sem precedentes, também a aviação executiva encontra terreno fértil no País. Segundo dados da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), atualmente o setor conta com 14,6 mil aeronaves. A maioria destes aviões não é nova e foi comprada de americanos que, com a crise financeira de 2008, viram-se obrigados a abrir mão de seus bens. Enquanto no hemisfério norte empresários bem-sucedidos e outros bem nascidos tiveram que abandonar a comodidade de usar o próprio avião, por aqui só aumenta o número de brasileiros que vão, literalmente, voando para seus compromissos.

O 4º Anuário Brasileiro da Aviação Geral, publicado pela Abag, mostra que o setor cresceu 4,9% em 2013, totalizando mais de 800 mil voos. Só no ano passado foram adicionadas à frota brasileira 756 aeronaves. Destas, 283 foram compradas novas e 473 já usadas. Em horas voadas, o País ficou próximo a 1,9 milhão.

O levantamento da Abag mostra ainda que quatro Estados brasileiros detêm 51% das aeronaves registradas no País destinadas à aviação executiva: São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. O Paraná está em quinto lugar, com 951 aviões. O levantamento mostra também que as frotas de aeronaves turboélices e helicópteros foram as que registraram o maior crescimento percentual em 2013, com 16% e 13%, respectivamente, em relação à frota de 2012. A frota de aviões convencionais, no mesmo período, cresceu 4%. Os Estados que mais ganharam helicópteros foram São Paulo (725), Rio de Janeiro (456) e Minas Gerais (245).

Já a aviação comercial do País, de acordo com dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), conta atualmente com uma frota de 21 mil aeronaves. Destas, 4,9 mil são aeronaves experimentais. No total, estão em operação 14,6 mil aeronaves.

A Anac informou que a demanda doméstica do transporte aéreo de passageiros foi recorde em 2012 (último ano com números já computados pela agência) e mais do que triplicou nos últimos dez anos, em termos de passageiros-quilômetros pagos transportados (RPK). Foi registrada alta de 234% entre os anos de 2003 e 2012, com crescimento médio de 14,35% ao ano no período. A demanda no mercado internacional para voos com origem ou destino no Brasil, por sua vez, mais do que dobrou no mesmo período, com alta de 128% e crescimento médio de 9,59% ao ano.

No mesmo período (de 2003 a 2012), o crescimento médio da economia brasileira foi de 3,85% ao ano e o da população foi de 1% ao ano. Em outras palavras, o crescimento médio anual do transporte aéreo doméstico representou mais de 3,5 vezes o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e mais de 14 vezes o crescimento da população.

Ganhar tempo

Para quem está aderindo a aviões e helicópteros como principal veículo de transporte, a grande vantagem está em ganhar tempo. "Hoje o custo do uso de avião como veículo de transporte se aproximou do custo de uma viagem de carro, e ninguém tem tempo a perder na estrada. Tempo é caro e escasso", defende o piloto agrícola e diretor da AMP Escola de Aviação Civil, de Londrina, José Marcelo Morandi.

Ele revela que tem vários alunos na faixa dos 40 anos ou mais, que compraram o próprio avião e estão aprendendo a pilotar. "O mercado dos ultraleves avançados (categoria experimental), que têm manutenção mais simples, cresceu muito. Há uns 20 anos em Londrina havia de 30 a 40 aviões particulares, que ficavam hangarados no Aeroporto José Richa. Hoje só no 14 Bis há uns 70. Ao todo, Londrina deve ter pelo menos 120 aeronaves particulares", calcula o piloto.

Assim como a maioria dos profissionais envolvidos com aviação ouvidos pela FOLHA, Morandi afirma que, embora a importação de aeronaves e peças tenha sido facilitada, ainda há muita burocracia, altos impostos e carência de infraestrutura aeroportuária.

"A estrutura do Aeroporto de Londrina (operado pela Infraero) é a mesma de 30 anos atrás, só o terminal de passageiros foi reformado. Cabem umas cinco aeronaves no pátio, é complicado. Se a gente quiser deixar um avião ali tem que fazer reserva e mesmo assim tem que tirar rapidamente. Em compensação, no 14 Bis (particular) o número de hangares cresceu de três para 14 nos últimos três anos, e há mais três em construção", exemplifica, lembrando que o aeroporto localizado na Zona Norte de Londrina ganhou pista asfaltada há cerca de dois anos e em breve será equipado com estrutura para balizamento noturno.

Em várias regiões do País, de acordo com o piloto, iniciativas privadas tentam suprir as necessidades do crescimento da aviação executiva. "Como o governo não investe o suficiente, o negócio está crescendo na marra, com a construção de pistas particulares." Ele acrescenta que são cada vez mais comuns os condomínios aeronáuticos, em que particulares adquirem os terrenos para construção de hangares e podem usufruir de pista construída com recursos privados. "É uma tendência forte nos Estados Unidos que está se tornando comum por aqui também. São estruturas mais tranquilas, que operam com taxas menores e menos burocracia."

FONTE - FOLHA DE LONDRINA
Silvana Leão
Reportagem Local
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