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Ato lembra as várias faces do preconceito

Alunos do Colégio Paulo Freire, em Londrina, debatem racismo e outras discriminações

Saulo Ohara
Homicídio de um jovem foi lembrado durante passeata; alunos participarão de audiência sobre Genocídio da Juventude Negra
Londrina – O combate às diversas formas de discriminação é tema da 2ª Semana da Diversidade e Culturas, promovida pelo Colégio Estadual Professor Paulo Freire, no Jardim Piza, zona sul de Londrina. A programação começou na segunda-feira, com oficinas e apresentações artísticas. Ontem, cerca de 400 alunos saíram em passeata contra o racismo pelas ruas do bairro. A caminhada também faz parte das comemorações do Dia da Consciência Negra, celebrado hoje em todo o país. A atividade foi antecipada pois não haverá aula hoje nas redes municipal e estadual de ensino.

A diretora do colégio, Maria Conceição da Costa Matos, relembrou do ex-aluno Alessandro Araújo dos Santos, assassinado a tiros aos 19 anos, em dezembro de 2011. O estudante teria sido confundido com um irmão mais velho que tinha envolvimento com drogas. "O Alessandro sofreu discriminação antes e depois de morto. Muitas pessoas julgaram sem saber. Ele não tinha qualquer envolvimento com drogas", rechaçou.

O assassinato de Alessandro confirma a alarmante estatística do Mapa da Violência 2014, divulgado em julho deste ano pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela). Os dados indicaram uma "crescente seletividade social". Entre 2002 e 2012, enquanto o número de brancos assassinados diminuiu, passando 19.846, em 2002, para 14.928, em 2012, as vítimas negras aumentaram de 29.656 para 41.127, no mesmo período.

O "Genocídio da Juventude Negra" foi abordado nos trabalhos produzidos pelos alunos. Luana Generoso Oliveira e Wellington Garcia, de 17 anos, confeccionaram um cartaz com a foto de Alessandro. "Ele era da minha sala. Na época a morte dele chocou a todos", lembrou. Os dois alunos do 2º ano do Ensino Médio vão participar da audiência pública "Genocídio da Juventude Negra: Devemos mudar esta realidade", às 8 horas de sábado, na Câmara de Vereadores de Londrina.

LUTA DA SOCIEDADE
O líder do Movimento Negro em Londrina, José Mendes Sousa, elogiou a iniciativa do colégio e destacou que a luta por igualdade não deve se restringir à população negra. "A questão racial tem que ser uma luta de toda a sociedade. A conscientização é o primeiro passo", disse. Luciane dos Santos, integrante do Núcleo de Estudos Afro-brasileiro (Neab), da Universidade Estadual de Londrina (UEL), também comentou sobre a Semana da Diversidade. "Ações como esta, que batem de frente contra o racismo e o preconceito, são imprescindíveis para um futuro melhor."

A aluna Ana Carolina Martins, de 15 anos, é uma garota branca de cabelos loiros. Nunca sofreu na pele a discriminação que o colega Anderson Ferreira Gomes, da mesma idade, enfrenta quase todos os dias. A pele escura e o boné verde-limão de aba reta com óculos espelhados entregam logo de cara: Anderson é fã de hip-hop. Para ele, a combinação é como imã para atrair as batidas policiais. "Sou tratado como bandido por causa do meu estilo. Direto sou parado nas ruas. O preconceito é muito grande", denunciou. "Temos que fazer algo para acabar com isso. O racismo é muito grave", solidarizou-se Ana Carolina.

A passeata também teve a presença de alunos da Escola Municipal Carlos da Costa Branco, do Núcleo Regional de Ensino de Londrina, Grupo da Terceira Idade da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Jardim Piza, Grupo de Trabalho de Combate ao Racismo, e secretarias da Educação e Políticas para as Mulheres.

Além do preconceito racial, os alunos abordaram o combate ao bullying e a valorização do idoso, povos indígenas e Direitos Humanos. Todo o trabalho produzido pelos alunos, como cartazes e ilustrações, estará à mostra amanhã em uma exposição aberta ao público no próprio colégio.

SERVIÇO
A Exposição de cartazes e ilustrações produzidos para a 2ª Semana da Diversidade e Culturas acontecerá amanhã, no Colégio Estadual Professor Paulo Freire (Rua Veneza, 115, Jardim Piza), fone (43) 3341-7767
Celso Felizardo
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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