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Utilizando a água de forma responsável - A IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTO

Uso da irrigação por gotejamento é alternativa para olericultores e fruticultores enfrentarem os períodos de seca

A irrigação por gotejamento atinge diretamente a raiz das plantas
Fotos: Saulo Ohara
"Antes desperdiçava muita água e hoje a utilizo bem", diz o produtor João da Silva Neto, de Guaravera
Diante de uma das maiores secas já registradas na região Centro-Sul do Brasil, usar a água de forma sustentável passou a ser um dever e um desafio para a população urbana e rural. Em produções agrícolas que necessitam da irrigação, como a olericultura e a fruticultura, a estiagem pode trazer prejuízos incalculáveis.

A irrigação por gotejamento, muito utilizada no Oriente Médio, uma das regiões mais secas do planeta, pode ser uma alternativa para aqueles agricultores que necessitam da água para continuar produzindo mesmo em período de seca. O sistema não é novo, mas devido à abundância de água que tínhamos até pouco tempo, não era prioridade para o setor, sendo utilizado apenas em casos pontuais.

Hoje, o cenário mudou. Aproveitar a água de forma responsável é uma obrigação do agricultor que utiliza ou não a irrigação. No Paraná, o uso da irrigação por gotejamento não é muito difundido, avalia o engenheiro agrônomo Luiz Marcos Feitosa dos Santos, do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). O motivo, alega ele, se deve porque o Estado é um grande produtor de commodities como milho e soja. Essas culturas, garante ele, não necessitam de irrigação.

Mas para agricultores que precisam de água para continuar produzindo, o sistema de irrigação por gotejamento alcança bons resultados, como na propriedade de João Pereira da Silva Neto. O produtor de tomate e pepino do distrito londrinense de Guaravera utiliza a irrigação por gotejamento em sua propriedade há anos. "Antes desperdiçava muita água e hoje a utilizo bem", diz o produtor. Além disso, ele observa que a eficiência do gotejamento é maior se comparado à irrigação por aspersão.

O agrônomo Luiz Marcos Santos, do Emater, explica que além de não haver desperdício de água, já que a irrigação por gotejamento atinge diretamente a raiz das plantas, o agricultor pode adicionar fertilizantes nos tubos de irrigação, ação denominada de fertirrigação.

O especialista afirma que uva, mate, pepino, tomate e algumas folhosas utilizam muito este sistema. Ele avalia que os investimentos iniciais são altos. Porém, existem inúmeras opções de equipamentos que são recomendadas de acordo com a necessidades agronômicas de cada propriedade. Cada uma delas tem um valor.

O produtor de Guaravera afirma que a ferramenta não dá muita manutenção. João da Silva Neto explica que o trabalho maior é a limpeza dos filtros utilizados para purificar a água retirada do rio que corta a sua propriedade. Ao todo, o agricultor produz por safra 800 caixas de 20 quilos cada uma de tomate e 700 caixas por safra de pepino. Silva Neto possui oito estufas, sendo que cinco estão em plena produção.

Ele comenta que para aqueles produtores que têm algum tipo de lago represado perto da propriedade, o gotejamento é ainda mais vantajoso. Por não ter uma correnteza forte, há poucos sedimentos diluídos na superfície da água, por isso o índice de manutenção dos filtros do sistema de gotejo é menor.

Benefício agronômico
Muitas vezes a irrigação por aspersão em áreas cobertas pode resultar na proliferação de fungos nas folhas das plantas. Luiz Marcos Santos, do Emater, avalia que é muito comum acontecer na produção de tomate. Para esse tipo de produção, a irrigação por gotejamento evita o problema de forma eficaz e por completo. O especialista orienta também aos produtores interessados na ferramenta que procurem a assistência técnica para se informarem sobre o sistema.
Ricardo Maia
Reportagem Local-folha de londrina



Gotejamento reduz incidência de pragas e doenças

Celso Helbel Junior, pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) especializado em sistemas de irrigação, destaca que as vantagens da irrigação por gotejamento são inúmeras. Além da fertirrigação e da economia de água, o especialista aponta uma redução no uso da mão de obra e a possibilidade de irrigar áreas com declividade acentuada.

O especialista do Iapar aponta que outro benefício do gotejamento é a redução da incidência de pragas e doenças, a exemplo das ervas daninhas. Helbel Junior explica que como não há umidade no entorno das plantas, já que a irrigação é localizada, fica mais difícil a emergência de plantas invasoras que também necessitam de água.

O pesquisador salienta que antes de adotar qualquer tipo de sistema é necessário fazer um projeto que supra as necessidades do agricultor. O investimento em um sistema de irrigação por gotejo, completa o especialista, pode variar em média de US$ 1 mil a US$ 4 mil por hectare. Ele observa que o investimento neste sistema está muito ligado ao retorno econômico.

Em culturas anuais, a exemplo do milho e da soja, Helber Junior destaca que ainda há muitos questionamentos a respeito da irrigação por gotejamento, principalmente em relação às questões econômicas e ambientais. Já quanto ao meio ambiente, caso o sistema de gotejo seja subterrâneo nessas duas culturas, os tubos são feitos de materiais que contém substâncias tóxicas. Em outras culturas, observa ele, o uso do sistema de gotejo é altamente recomendável.

A irrigação por gotejamento traz o crescimento vertical da produção. Contudo, salienta o pesquisador do Iapar, esse tipo de irrigação não faz milagre. Segundo ele, o sistema deve ser utilizado junto a um pacote de tecnologias. (R.M.)
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