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MENSAGEM DO BISPO

Reflexão da semana – “Antífonas do ó”
Por Dom Manoel João Francisco – Bispo da Diocese de Cornélio Procópio

         Como a Páscoa, o Natal também é precedido por uma Semana Santa que vai do dia 17 até o dia 23 de dezembro. Os textos litúrgicos da Semana Santa do Natal como os da Semana Santa da Páscoa são muito ricos em seu conteúdo teológico. Por isso, só podem ser substituídos por outros textos, em situações muito extraordinárias.
         Um dos elementos mais tradicionais e destacados desta riqueza da Semana Santa do Natal são as chamadas antífonas do ó, cantadas, durante este período, nas missas, como aclamação ao Evangelho e, nas vésperas da liturgia das horas, como antífona do Cântico de Maria. São assim chamadas porque começam com a exclamação “ó”. O grande liturgista Dom Guéranger, em seu tratado sobre o ano litúrgico escreveu que estas antífonas são “a medula da liturgia do Advento”, ou seja, elas contêm toda a substância do mistério da vinda de Cristo, desde a sua mais longínqua preparação até o seu completo acabamento.
         Não se conhece a data exata da composição destas antífonas. A maioria dos estudiosos diz que são do século VII, no tempo do Papa São Gregório Magno. Desde esta época já eram conhecidas na Inglaterra, provavelmente introduzidas pelo grande missionário, Santo Agostinho de Cantuária, com os livros da liturgia romana. Na França passaram a ser cantadas a partir do século VIII. Conta-se que o santo monge, Alcuíno que contribuiu de forma extraordinária na reforma da liturgia romana na França, três dias antes de morrer, cantou, em sua cela, “com uma voz cheia de gozo”, uma destas antífonas.
         A primeira antífona é um apelo à Sabedoria. “Ó sabedoria, que saístes da boca do altíssimo...”. A sabedoria invocada nesta antífona, não é outra senão a pessoa do Verbo de Deus, Jesus Cristo, por quem tudo, inclusive nós, seres humanos, foi criado.
         A segunda antífona, como a primeira se dirige também ao Filho de Deus. Desta vez, usa um termo hebraico. “Ó Adonai, guia e casa de Israel...”. Evoca em seguida dois acontecimentos importantes da história da salvação: a sarça ardente e a entrega da Lei e o estabelecimento da aliança no monte Sinai. No alto do Calvário, Cristo sela com seu sangue uma nova e eterna aliança, com um povo que deverá proclamar as maravilhas do Senhor (1Pd 2,9).
         A terceira e a quarta antífonas “Ó Raiz de Jessé.., e “Ó Chave de Davi..., dão um passo à frente na história da salvação. Elas invocam Cristo como verdadeiro rei do novo Israel, prefigurado pelo ilustre antepassado, o rei Davi.
         A quinta antífona invoca Cristo como verdadeira luz do mundo. “Ó sol nascente justiceiro, resplendor da luz eterna...” A imagem de Jesus como sol nascente era muito forte entre os primeiros cristãos. Suas igrejas eram construídas com o altar na direção do Oriente. Jesus é de fato, como lembra o evangelista Lucas, “o Sol nascente que ilumina a todos que jazem nas trevas”.
         A sexta e a sétima antífonas: “Ó Rei das nações...” e “Ó Emanuel...’ lembram que a salvação trazida por Cristo é universal, ou seja, é para todos, pois é da vontade de Deus que não se perca nenhum de seus filhos.

         Em nossos dias, as antífonas do ó não são tão valorizadas quanto eram em tempos passados. Já não se percebe a beleza nelas contida. É preciso uma catequese litúrgica mais eficaz. Seria também muito interessante se os músicos se empenhassem em compor boas músicas para estes textos. Com estas duas ações, em breve as antífonas do ó haverão de voltar a ter o lugar que merecem na Semana Santa do Natal.
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