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Após ajuste fiscal, analistas esperam por corte de gastos

Aumento de impostos promovido pelo governo desagrada setor produtivo e elevam cobrança por incentivos ao setor empresarial e pela economia de dinheiro público

 
Theo Marques/28-10-2014
Maior parte da arrecadação virá com o aumento do valor do PIS e da Cofins sobre os combustíveis e do retorno da Cide
O pacote de elevação de tributos anunciados na noite de segunda-feira pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é encarado por analistas como importante para recuperar os cofres públicos. No entanto, existe a cobrança para que o governo corte gastos e incentive a produção, para evitar a recessão.

De acordo com Levy, o objetivo é arrecadar R$ 20,6 bilhões extras neste ano com o pacote. A maior parte dos impostos atingirá a classe média, dizem economistas, e devem servir para conter a inflação. O problema é que estão aliados a outros reajustes de tributos e de taxas de juros, além da própria pressão inflacionária, que corroem o acesso ao crédito e o poder de compra também das classes mais baixas.

A maior parte da arrecadação virá com o aumento do valor do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre os combustíveis e do retorno da Contribuição para Intervenção no Domínio Econômico (Cide), estimada em R$ 12,2 bilhões. Juntos, representarão alta de R$ 0,22 para cada litro de gasolina e de

R$ 0,15 para o diesel. A mudança passa a valer em 1º de fevereiro e a Petrobras já divulgou que repassará a variação ao preço nas refinarias.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Paraná (Sindicombustíveis-PR), Rui Chichella, afirma que a estatal poderia absorver o custo, já que o preço do barril de petróleo no mercado internacional caiu quase pela metade. Para os donos de postos, ele vê como difícil evitar o reajuste na bomba, já que outros aumentos ocorrerão. "É importante lembrar que o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) é cobrado sobre tudo e vai subir com esse imposto extra", diz. "E, a partir de abril, teremos o aumento da alíquota do ICMS sobre a gasolina, anunciado pelo governo estadual no fim do ano passado", completa.

O economista Carlos Magno Bittencourt, do Conselho Regional de Economia (Corecon) do Paraná, lembra ainda que o encarecimento do diesel se estenderá a outros produtos. "Grande parte do modal de transporte brasileiro é rodoviário e o diesel tem impacto no custo de quase tudo, o que mexe com a inflação."

Outras mudanças são a elevação de 1,5% para 3% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para pessoas físicas, na tomada de crédito de até 12 meses. Conforme a Receita Federal, a medida deve garantir

R$ 7,4 bilhões aos cofres públicos no ano. O governo também promoverá o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os atacadistas de cosméticos, para elevar a arrecadação em R$ 381 milhões no ano. Por fim, subiu de 9,25% para 11,75% o PIS/Cofins sobre produtos importados, o que deve gerar R$ 700 milhões.

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Valter Orsi, afirma que o problema é que o governo apenas tem elevado impostos e cortado benefícios, ao contrário do que foi dito na campanha presidencial. Ele considera que, em vez de aumentar os tributos, é preciso cortá-los. "Por que não dá para fazer o inverso e reduzir gastos para que fiquemos mais competitivos? É o que a dona de casa e o empresário precisam fazer no seu dia a dia."

Professor de economia na Universidade Estadual de Londrina (UEL), Azenil Staviski diz que elevar impostos é o caminho mais fácil, mas não o mais adequado para o momento. "Não condiz com a conjuntura atual, porque já se está em recessão e essas medidas causam um repique sobre a inflação e sobre os custos para empresas, além de corroer a renda do consumidor."

Para o presidente do Instituto Fractal, Celso Grisi, não havia outra saída para recuperar as contas públicas, mas diz que é preciso outras mudanças que fortaleçam o setor produtivo. "É um saco de maldades que depois deve gerar a possibilidade de o País voltar a crescer no próximo ano, quando será preciso privilegiar as classes de renda mais baixa, punidas por esse rastro recessivo." (Com Agência Brasil)

FOLHA DE LONDRINA
Fábio Galiotto
Reportagem Local
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