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Depressão afeta mercado de trabalho e motiva afastamentos

Transtornos psíquicos atingem milhares de brasileiros e são a terceira causa de afastamento no mundo corporativo; insatisfação e falta de reconhecimento são principais gatilhos

Ilustração: Marco Jacobsen
Depressão, ansiedade, forte estresse e até mesmo a raiva são alguns dos transtornos que acometem diariamente milhares de trabalhadores brasileiros e chegam até mesmo a incapacitá-los para o trabalho. Conforme levantamento da Previdência Social, os chamados transtornos mentais e comportamentais foram a terceira causa de concessão de auxílio-doença em 2013, ficando atrás apenas das lesões, envenenamentos e outras consequências de causas externas e as chamadas doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo.

A discussão sobre a incidência de tais transtornos no mercado de trabalho foi reacesa nos últimos dias, após a queda de um avião da companhia alemã Lufthansa, provavelmente por ação intencional do copiloto da aeronave, causando a morte de 150 pessoas. O noticiário internacional especula que o rapaz teria recebido tratamento - em alguma fase da vida - para depressão e transtorno de ansiedade generalizado, o que poderia justificar o ato. Segundo o Ministério Público francês, que investiga o fato, ainda não há pistas concretas sobre o que teria motivado o copiloto.

No Brasil, existe a certeza que os transtornos mentais acometem muita gente. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013 – e divulgada no final do ano passado - estimou que 7,6% (11,2 milhões) das pessoas de 18 anos ou mais de idade receberam diagnóstico de depressão por profissional de saúde mental. Entre os brasileiros que referiram diagnóstico, 11,8% disseram possuir grau intenso ou muito intenso de limitações nas atividades habituais por causa da doença. O mesmo estudo revelou que os moradores do Sul do Brasil são mais deprimidos que a população das outras regiões. Rio Grande do Sul concentra 13,2% de pessoas com diagnóstico de depressão, seguido por Santa Catarina (12,9%) e Paraná (11,7%).

Uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association (Isma-BR) com trabalhadores brasileiros detectou que 47% dos pesquisados sentem-se eventualmente deprimidos e 12% possuem depressão recorrente. Com relação à ansiedade, 39% declararam vivenciar o transtorno eventualmente e 10% disserem sentir-se incapacitados por ele. Além disso, 57% dos entrevistados referiram sentir raiva e, entre eles, 18% seriam incapacitados pelo sentimento. "Quando a pessoa não consegue se concentrar nas funções, desenvolve pensamentos obsessivos de vingança e pensa em fazer mal ao outro, é sinal que a raiva está incapacitando", explica a presidente da Isma-BR, Ana Maria Rossi.

Segundo ela, cabe ao empregador e ao próprio trabalhador avaliar a necessidade de afastamento das funções para o tratamento. "Uma pessoa comprometida pela doença vai sofrer queda de performance, pode cometer erros importantes e causar problemas. Alguém profundamente deprimido ou com ansiedade generalizada dá sinais não verbais claros de que não está bem", alertou Ana Maria, que criticou ainda o excesso de diagnósticos sobre os possíveis problemas do copiloto alemão. "As declarações de que ele teria depressão ou ansiedade podem gerar preconceito contra quem realmente sofre destes transtornos", acrescenta.

A presidente do Isma destaca que a insatisfação e a falta de reconhecimento no trabalho estão entre os principais gatilhos das doenças. Profissionais das áreas financeira, de informática, educação e segurança pública seriam os mais suscetíveis aos transtornos mentais e comportamentais motivados pelo estresse. "Os empregadores exigem a execução de tarefas que o trabalhador não tem condições de fazer, submetem à pressão exagerada. Além disso, muita gente se desloca do foco de interesse profissional e sente-se insatisfeito. Quem é mais frágil acaba sofrendo com maior intensidade", diz. A superação, segundo ela, depende da capacidade de reação de cada um. "Se a pessoa sente-se incapacitada, precisa buscar ajuda."

FOLHA DE LONDRINA
Carolina Avansini
Reportagem Local
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