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Norte tem área de segurança com maior aumento de roubos

Crescimento dos crimes contra o patrimônio foi quase o triplo do índice estadual na 19a Aisp, que abrange Rolândia e outros 16 municípios

Lis Sayuri
"É um sentimento terrível. É brabo para alguém que viu esse sino na capela a vida toda, ver uma coisa assim acontecer", lamenta Alfredo Pires
Sertanópolis - Em uma manhã de setembro do ano passado, o trabalhador rural aposentado Alfredo Teodoro Pires, de 82 anos, chegou para fazer a limpeza e a manutenção da Capela Nossa Senhora de Fátima, no distrito da Água do Cerne, em Sertanópolis (Região Metropolitana de Londrina). "Cheguei, vi uma escada encostada e pensei: ‘Isso é aí é novidade’. Olhei para cima e vi que não tinha mais o sino", relata.

A peça de bronze, de aproximadamente 60 quilos, estava na comunidade havia mais de 80 anos. Entre 1930 e 52, ficou em outra capela, e quando foi feita a Nossa Senhora de Fátima, foi transferida para a edificação. "O curioso é que, na outra capela, o sino ficou mais de 20 anos em uma armação de madeira, exposto, e ninguém tentou roubar", diz o aposentado.

Apesar de a Polícia Civil afirmar que mantém as investigações, Pires não tem esperança de que o sino seja recuperado. "Quem roubou com certeza derreteu no dia seguinte", lamenta. "Falaram que iam colocar outro sino. Mas até agora nada. Além disso, sobrou pouca gente na Água do Cerne. Hoje, deve ter no máximo umas 20 famílias."

Pires nasceu na Água do Cerne e viveu na região a vida toda. Ele manifesta mágoa por ter visto um símbolo da comunidade ser roubado. "É um sentimento terrível. Eu fiquei sentado, ali do lado, pensando: ‘Como é que pode?’. É brabo, para alguém que viu esse sino na capela a vida toda, ver uma coisa assim acontecer", explica.

O roubo do sino na Água do Cerne reflete um fenômeno: a falta de segurança não tem perdoado sequer as médias e pequenas cidades paranaenses. Segundo estatísticas divulgadas recentemente pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), a 19ª Área Integrada de Segurança Pública (Aisp), que tem Rolândia como referência e abrange Sertanópolis e outros 15 municípios, foi a que teve o maior aumento no número de crimes contra o patrimônio de 2013 para 2014 entre as 23 Aisps. No ano passado, foram 7.749 furtos, roubos ou tentativas registrados na região, um crescimento de 11,64% em relação ao ano retrasado, quase o triplo da variação verificada no Paraná inteiro no mesmo período (4,20%).

O advogado Osvaldo Damião Veiga Filho, presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Arapongas, cidade mais populosa da 19ª Aisp, acredita que na Cidade dos Pássaros está faltando a população fazer sua parte. "Uma coisa que temos observado é o problema da segurança primária. O cidadão acha que tem que ‘jogar’ tudo para a polícia. Se ele tivesse mais cuidado, acredito que aconteceriam menos roubos. Por exemplo, entregas de malotes: fazem tudo sempre no mesmo horário, mesmo trajeto. Na segurança em casa: se a pessoa vai viajar, não avisa o vizinho, ou quando chega em casa à noite, não verifica as redondezas para ver se há alguém suspeito por perto. O cidadão não faz a parte dele", avalia.

Apesar dessa crítica, Veiga argumenta que o Estado também está devendo. "O policiamento não é suficiente. O efetivo está extremamente defasado. A Polícia Militar não tem estrutura para fazer trabalho preventivo e a Polícia Civil, para fazer investigação", aponta o advogado.

Lupércio Guandeline, diretor comercial da Associação Comercial e Empresarial de Porecatu (Acep), diz que a comunidade do município tem se preocupado com a maior frequência de assaltos a banco. "Os roubos e furtos aqui eram uma coisa mais ‘doméstica’, (praticados por) ladrões, usuários de drogas da cidade. Eu moro em Porecatu há 40 anos, e nos últimos anos tem acontecido pelo menos um assalto a banco por mês. São bandidos de fora, que têm a estratégia de reter a família do responsável pelo banco e a manter sob ameaça para praticar o roubo. É preocupante porque (esses ladrões) estão numa escala superior", diz Guandeline, que aponta que a polícia local "não tem a mínima estrutura".


Fábio Galão
Reportagem Local-folha de londrina
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