DESESTÍMULO - Obstetrícia atrai menos jovens médicos
Maioria dos titulados em residência na área, já menos procurada do que outras especialidades, tem optado pela ginecologia. Razões seriam baixa remuneração e receio de processos

Daniela de Moura, médica residente em ginecologia e obstetrícia no HU em Londrina, justifica sua escolha: "Na medicina, quase sempre se trabalha com a doença, muitas vezes com a morte, e na obstetríci
Daniela Cristina de Moura, de 27 anos, está no segundo dos três anos de residência médica em ginecologia e obstetrícia no Hospital Universitário (HU) de Londrina. Pretende fazer carreira como obstetra. "É uma área da qual eu sempre gostei, com a qual tinha afinidade. Na medicina, quase sempre se trabalha com a doença, muitas vezes com a morte, e na obstetrícia, trabalha-se com a vida. O nascimento do filho é o momento mais feliz na vida de um casal", diz a médica, ao justificar sua escolha pela área.
O interesse de Daniela não parece ser muito comum entre jovens médicos. Nos programas de residência médica das principais universidades públicas das duas maiores cidades do Paraná, a procura pela especialização em ginecologia e obstetrícia tem se mantido muito atrás do verificado em outras áreas (leia mais nesta edição). E, segundo especialistas, entre os jovens que buscam a residência, é minoria quem opta por se tornar obstetra.
Almir Antônio Urbanetz, presidente da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Paraná (Sogipa) e da Comissão de Residência Médica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), aponta que a procura pela especialidade se mantém estável nos programas de residência médica brasileiros e paranaenses.
"Houve um período de queda, em que a procura caiu, lá por 2008, 2009, em que a concorrência diminuiu cerca de 30%. Mas hoje já estamos de volta ao patamar de 15 anos atrás, dentro da média histórica, de seis a oito candidatos por vaga. Dependendo da cidade e do serviço de saúde, é até mais, 12 candidatos por vaga", relata.
Entretanto, Urbanetz alerta que jovens médicos que fazem essa residência têm optado mais pela ginecologia – ao contrário do passado, em que os titulados trabalhavam nas duas áreas. "Eu diria que, entre dez pessoas que fazem essa residência, de seis a sete optam pela ginecologia", estima. Ele afirma que a obstetrícia tem sido desprezada porque não é atrativa financeiramente.
Segundo números do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) do Ministério da Saúde, nos últimos cinco anos o número de leitos de internação obstétricos no Paraná diminuiu 11,4%, e no Brasil, 7,8%. Os números dizem respeito tanto a leitos credenciados no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto aos não credenciados.
"Muitos leitos têm sido fechados porque na área hospitalar a remuneração (na área de obstetrícia) é baixa. No SUS, é um serviço que dá prejuízo para os hospitais. Na saúde suplementar, os valores também são baixos", diz Urbanetz. "Os obstetras são atacados no Brasil, porque se diz que fazem muitas cesáreas. Mas é difícil fazer uma assistência ao parto de seis, oito horas por R$ 300. E muitas mães têm preferido a cesárea. Não querem nem ouvir falar de parto normal."
O presidente da Sogipa teme que essas condições desfavoráveis provoquem uma falta de obstetras. "Se não houver uma ação no futuro, é uma área que a longo prazo pode ver diminuído o número de especialistas", alerta.
Maurício Marcondes Ribas, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná (CRM-PR), diz que a entidade tem percebido "uma fuga" da obstetrícia. "Uma gestação pode parecer tranquila, mas pode se tornar de alto risco, o que gera complicações e receio (de sofrer processos) para o profissional. Além disso, existe muita cobrança da sociedade, hoje se fala muito em parto humanizado, diminuição do número de cesáreas", diz Ribas.
Reportagem publicada pela FOLHA em fevereiro mostrou que a especialidade de ginecologia e obstetrícia foi a que mais gerou processos por erros médicos no Paraná de 2001 a 2014, conforme pesquisa do advogado Raul Canal, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem): 30% dos casos locais estavam relacionados à área.
A reportagem apontou ainda que no CRM-PR a área de ginecologia e obstetrícia também foi a que mais motivou sindicâncias (17 ao todo) e processos (15) no ano passado. O médico Roberto Issamu Yosida, corregedor geral do CRM-PR, comentou à época que, quando ocorre algum problema grave com a mãe ou o bebê durante a gravidez ou o parto, é comum a família "culpar" o serviço de saúde.
FOLHA DE LONDRINA
O interesse de Daniela não parece ser muito comum entre jovens médicos. Nos programas de residência médica das principais universidades públicas das duas maiores cidades do Paraná, a procura pela especialização em ginecologia e obstetrícia tem se mantido muito atrás do verificado em outras áreas (leia mais nesta edição). E, segundo especialistas, entre os jovens que buscam a residência, é minoria quem opta por se tornar obstetra.
Almir Antônio Urbanetz, presidente da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Paraná (Sogipa) e da Comissão de Residência Médica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), aponta que a procura pela especialidade se mantém estável nos programas de residência médica brasileiros e paranaenses.
"Houve um período de queda, em que a procura caiu, lá por 2008, 2009, em que a concorrência diminuiu cerca de 30%. Mas hoje já estamos de volta ao patamar de 15 anos atrás, dentro da média histórica, de seis a oito candidatos por vaga. Dependendo da cidade e do serviço de saúde, é até mais, 12 candidatos por vaga", relata.
Entretanto, Urbanetz alerta que jovens médicos que fazem essa residência têm optado mais pela ginecologia – ao contrário do passado, em que os titulados trabalhavam nas duas áreas. "Eu diria que, entre dez pessoas que fazem essa residência, de seis a sete optam pela ginecologia", estima. Ele afirma que a obstetrícia tem sido desprezada porque não é atrativa financeiramente.
Segundo números do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) do Ministério da Saúde, nos últimos cinco anos o número de leitos de internação obstétricos no Paraná diminuiu 11,4%, e no Brasil, 7,8%. Os números dizem respeito tanto a leitos credenciados no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto aos não credenciados.
"Muitos leitos têm sido fechados porque na área hospitalar a remuneração (na área de obstetrícia) é baixa. No SUS, é um serviço que dá prejuízo para os hospitais. Na saúde suplementar, os valores também são baixos", diz Urbanetz. "Os obstetras são atacados no Brasil, porque se diz que fazem muitas cesáreas. Mas é difícil fazer uma assistência ao parto de seis, oito horas por R$ 300. E muitas mães têm preferido a cesárea. Não querem nem ouvir falar de parto normal."
O presidente da Sogipa teme que essas condições desfavoráveis provoquem uma falta de obstetras. "Se não houver uma ação no futuro, é uma área que a longo prazo pode ver diminuído o número de especialistas", alerta.
Maurício Marcondes Ribas, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná (CRM-PR), diz que a entidade tem percebido "uma fuga" da obstetrícia. "Uma gestação pode parecer tranquila, mas pode se tornar de alto risco, o que gera complicações e receio (de sofrer processos) para o profissional. Além disso, existe muita cobrança da sociedade, hoje se fala muito em parto humanizado, diminuição do número de cesáreas", diz Ribas.
Reportagem publicada pela FOLHA em fevereiro mostrou que a especialidade de ginecologia e obstetrícia foi a que mais gerou processos por erros médicos no Paraná de 2001 a 2014, conforme pesquisa do advogado Raul Canal, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem): 30% dos casos locais estavam relacionados à área.
A reportagem apontou ainda que no CRM-PR a área de ginecologia e obstetrícia também foi a que mais motivou sindicâncias (17 ao todo) e processos (15) no ano passado. O médico Roberto Issamu Yosida, corregedor geral do CRM-PR, comentou à época que, quando ocorre algum problema grave com a mãe ou o bebê durante a gravidez ou o parto, é comum a família "culpar" o serviço de saúde.
FOLHA DE LONDRINA
Fábio Galão
Reportagem Local
Reportagem Local

