UM MÊS DEPOIS - Marcas de uma batalha sem vencedores
Enquanto manifestantes buscam cicatrizar feridas, órgãos públicos dão prosseguimento a inquéritos para apurar responsabilidades

Batalha do Centro Cívico deixou como saldo mais de 200 feridos e desgaste para servidores e o governo

As cicatrizes da professora Elaine Antunes: "Ninguém que estava lá vai conseguir esquecer da barbárie"
Curitiba - Um mês depois, as marcas da batalha campal verificada no Centro Cívico, em Curitiba, seguem firmes na memória e nos corpos dos manifestantes. Enquanto o Ministério Público (MP), a Polícia Militar (PM) e a Polícia Civil dão continuidade aos três inquéritos instaurados para apurar eventuais excessos cometidos pelas forças de segurança do Estado, os mais de 200 feridos, a maioria professores, buscam superar os traumas físicos e psicológicos. Um grupo de dez defensores públicos também ingressou com uma ação civil contra o Executivo, como forma de responsabilizar a gestão do governador Beto Richa (PSDB) pelos danos causados à sociedade.
Para Elias Bulhões, de 55 anos, as cenas do fatídico 29 de abril jamais serão esquecidas. Cadeirante, ele estava próximo ao portão da Assembleia Legislativa (AL), na Praça Nossa Senhora de Salete, quando a PM soltou as primeiras bombas e balas de borracha. Foi atingido por alguns projéteis, nas pernas, mas, na hora, acabou não percebendo. "Tinha muita fumaça. Quando sentia que eu ia desmaiar, recuava. Os professores então me enchiam de vinagre, eu cheirava, porque cortava o efeito, respirava e voltava", relembrou. "Sou lesado medular e não sinto do quadril para baixo. Só quando cheguei em casa e tirei a roupa que vi as marcas. Elas pegaram abaixo da cintura; ainda estão cicatrizando", completou.
Além dos projéteis e do gás, os policiais utilizaram spray de pimenta e cães da raça pit bull para conter os ânimos. Pai de um químico, que é também professor, e de um advogado, Bulhões falou que, apesar do trauma, não se arrepende de ter participado da mobilização contra a reforma na Paranaprevidência. "É uma questão de ser politizado. Se a gente abraça a causa, para mudar esse País, cheio de corrupção e cheio de governantes que só pensam no lado deles, não do coletivo, tem de ir para a linha de frente. E foi o que fiz. Faria tudo de novo, para defender uma categoria tão nobre".
Em Santo Antônio da Platina (Norte Pioneiro), a professora Elaine Antunes carrega no braço e no rosto as cicatrizes de uma bala de borracha que a atingiu durante a ação do Batalhão de Choque. "Estava bem próxima à barreira da polícia. Não havia tumulto. De repente, os soldados abriram passagem para o Choque, que disparou contra os professores. A reação truculenta pegou todo mundo de surpresa", lembrou.
Um mês depois, o nervosismo ainda é evidente na fala de Elaine. "Fiquei três dias sem conseguir dormir. Hoje, ainda tenho pesadelos. Ninguém que estava lá vai conseguir esquecer dessa barbárie", comentou. Elaine contou que teve rebaixamento de audição no ouvido direito, além da necessidade de suturas no supercílio. Ela entrou com ação contra o Estado. "Vou participar de uma manifestação na minha cidade. É um dia que nunca poderá ser esquecido".
Com o objetivo de relembrar a data, o Fórum das Entidades Sindicais (FES) espera reunir hoje mais de 100 mil pessoas, em atos espalhados por todos os 399 municípios paranaenses. A ação faz parte do Dia Nacional de Manifestações e Paralisações, convocado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). Por aqui, contudo, o foco será na "descomemoração do massacre". A concentração na capital será às 9 horas, na Praça 19 de Dezembro, de onde os participantes seguirão em direção do Palácio Iguaçu.
De acordo com o advogado popular Fernando Prioste, da Terra de Direitos, é possível fazer duas análises sobre os acontecimentos de abril: uma do desrespeito à efetividade do que se reivindicava no Estado e outra da situação política, que não mudou significativamente. "O governo não soube compreender, e a Assembleia também não, os anseios da população", afirmou. Por outro lado, segundo ele, o incremento da mobilização popular, fruto da batalha campal, e da compreensão acerca dos acontecimentos representam um salto qualitativo. "A tragédia, nessa situação, ajudou a despertar nas pessoas a consciência dos problemas".
Chefe da Casa Civil e um dos homens de confiança do governador, Eduardo Sciarra (PSD) disse à FOLHA que lamentou muito o ocorrido, no entanto, preferiu não apontar culpados. "Foi um sofrimento para todos que estão trabalhando em busca de equacionar os problemas do Estado do Paraná. Não era desejado, aconteceu e, com certeza, serve de experiência", opinou. (Colaborou Celso Felizardo)
Para Elias Bulhões, de 55 anos, as cenas do fatídico 29 de abril jamais serão esquecidas. Cadeirante, ele estava próximo ao portão da Assembleia Legislativa (AL), na Praça Nossa Senhora de Salete, quando a PM soltou as primeiras bombas e balas de borracha. Foi atingido por alguns projéteis, nas pernas, mas, na hora, acabou não percebendo. "Tinha muita fumaça. Quando sentia que eu ia desmaiar, recuava. Os professores então me enchiam de vinagre, eu cheirava, porque cortava o efeito, respirava e voltava", relembrou. "Sou lesado medular e não sinto do quadril para baixo. Só quando cheguei em casa e tirei a roupa que vi as marcas. Elas pegaram abaixo da cintura; ainda estão cicatrizando", completou.
Além dos projéteis e do gás, os policiais utilizaram spray de pimenta e cães da raça pit bull para conter os ânimos. Pai de um químico, que é também professor, e de um advogado, Bulhões falou que, apesar do trauma, não se arrepende de ter participado da mobilização contra a reforma na Paranaprevidência. "É uma questão de ser politizado. Se a gente abraça a causa, para mudar esse País, cheio de corrupção e cheio de governantes que só pensam no lado deles, não do coletivo, tem de ir para a linha de frente. E foi o que fiz. Faria tudo de novo, para defender uma categoria tão nobre".
Em Santo Antônio da Platina (Norte Pioneiro), a professora Elaine Antunes carrega no braço e no rosto as cicatrizes de uma bala de borracha que a atingiu durante a ação do Batalhão de Choque. "Estava bem próxima à barreira da polícia. Não havia tumulto. De repente, os soldados abriram passagem para o Choque, que disparou contra os professores. A reação truculenta pegou todo mundo de surpresa", lembrou.
Um mês depois, o nervosismo ainda é evidente na fala de Elaine. "Fiquei três dias sem conseguir dormir. Hoje, ainda tenho pesadelos. Ninguém que estava lá vai conseguir esquecer dessa barbárie", comentou. Elaine contou que teve rebaixamento de audição no ouvido direito, além da necessidade de suturas no supercílio. Ela entrou com ação contra o Estado. "Vou participar de uma manifestação na minha cidade. É um dia que nunca poderá ser esquecido".
Com o objetivo de relembrar a data, o Fórum das Entidades Sindicais (FES) espera reunir hoje mais de 100 mil pessoas, em atos espalhados por todos os 399 municípios paranaenses. A ação faz parte do Dia Nacional de Manifestações e Paralisações, convocado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). Por aqui, contudo, o foco será na "descomemoração do massacre". A concentração na capital será às 9 horas, na Praça 19 de Dezembro, de onde os participantes seguirão em direção do Palácio Iguaçu.
REFLEXOS
De acordo com o advogado popular Fernando Prioste, da Terra de Direitos, é possível fazer duas análises sobre os acontecimentos de abril: uma do desrespeito à efetividade do que se reivindicava no Estado e outra da situação política, que não mudou significativamente. "O governo não soube compreender, e a Assembleia também não, os anseios da população", afirmou. Por outro lado, segundo ele, o incremento da mobilização popular, fruto da batalha campal, e da compreensão acerca dos acontecimentos representam um salto qualitativo. "A tragédia, nessa situação, ajudou a despertar nas pessoas a consciência dos problemas".
Chefe da Casa Civil e um dos homens de confiança do governador, Eduardo Sciarra (PSD) disse à FOLHA que lamentou muito o ocorrido, no entanto, preferiu não apontar culpados. "Foi um sofrimento para todos que estão trabalhando em busca de equacionar os problemas do Estado do Paraná. Não era desejado, aconteceu e, com certeza, serve de experiência", opinou. (Colaborou Celso Felizardo)
Mariana Franco Ramos
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA

