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Quase 20 milhões de consumidores ainda compram pelo crediário

Eles fazem parte do contingente de 55 milhões de brasileiros que não têm conta em banco

Marcos Zanutto
Sem conta bancária, o marceneiro Juan Carlos Gimenes diz não se importar de ir todo mês pagar as parcelas de suas compras na loja
Mais de 19 milhões de brasileiros ainda fazem suas compras por meio de crediário. É o que revela o cruzamento de duas pesquisas, uma do Instituto Data Popular, e outra do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e do portal Meu Bolso Feliz. A primeira estimou que, em 2013, havia 55 milhões de brasileiros sem conta em banco. A segunda calculou que, mesmo assim, 84% deles, ou 46,2 milhões, compram em parcelas.

De acordo com o SPC e o Portal Meu Bolso feliz, 42% deste universo, 19,4 milhões, fazem suas compras por crediário, 18,4 milhões (40%) utilizam cartão de crédito sem ter conta em banco, e 6,3 milhões (15%) fazem financiamento.

O marceneiro londrinense Juan Carlos Gimenes, 30 anos, não tem conta bancária. E diz não se importar de ir todo mês pagar as parcelas de suas compras na loja. "Eu estava com uma restrição e, por isso, não tenho conta. Vou deixar para abrir mais para frente", conta.

Segundo o educador financeiro do portal, José Vignoli, há outros motivos, além das restrições, que mantêm os consumidores longe dos bancos. Ele afirma que muitas pessoas ainda têm vergonha de entrar em uma agência. "Elas não acham que vão ser bem atendidas. E às vezes ganham tão pouco que não faz sentido estar no sistema bancário", afirma.

Vignoli diz ainda que as pessoas que atuam na informalidade não querem ter conta em banco. "Não querem que o sistema bancário saiba que elas existem. E com o aumento do desemprego, a tendência é de aumentar a informalidade", declara.

De acordo com ele, os "carnezinhos" ainda são muito fortes, mesmo nos grandes centros. "Com os juros mais altos, essa forma de pagamento vai voltar a crescer porque, por meio dela, é mais fácil negociar juros, por exemplo", afirma.

Na loja de calçados Humanitarian, no Calçadão, o gerente Ricardo Estevam estima que 75% dos clientes compram com o cartão da própria loja. Mas diz que não é possível saber quantos não têm conta bancária. "Tem gente que tem cartão de crédito de banco e, mesmo assim, usa o nosso para não gastar o crédito do outro."

Segundo ele, para fazer o cartão da loja não há burocracia. O cliente paga R$ 0,99 por parcela. E o limite é dado conforme o credit score – sistema que pontua várias características do consumidor. "Às vezes, ele tem uma pequena restrição, mas sua pontuação é boa", explica. Ele salienta que o crediário é bom para a loja porque o cliente, quando vai pagar a parcela, acaba comprando mais. "Mas o cliente também tem a opção de imprimir o boleto pela internet e pagar no banco ou no correspondente bancário", conta.

O diretor comercial da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Fernando Maurício Moraes, diz que fazer os clientes voltarem às lojas é um dos objetivos do sistema de crediário. "Para a loja isso é muito importante. O cliente vem todo mês", declara. Ele afirma que não é apenas a parcela mais pobre da população que utiliza essa forma de pagamento. "As pessoas veem vantagem em comprar no crediário. Uma delas é que os juros são mais baixos e é mais fácil de negociar."
Nelson Bortolin
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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