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DIFÍCIL SOLUÇÃO - Mortalidade neonatal desafia Saúde

Do total das mortes de crianças até 1 ano no Paraná, 73% se concentram nas quatro primeiras semanas de vida; aumento do número de bebês prematuros justifica o índice

Os mais de 25 quilômetros de trilhos de
 
 
 
A maioria das mortes de crianças até um ano no Paraná ocorre antes mesmo que os bebês deixem o hospital após o nascimento. Com grande avanço na redução da mortalidade infantil até os 5 anos de idade, o Estado ainda enfrenta o desafio de reduzir o índice das chamadas mortes neonatais, que ocorrem até os 28 dias. Em 2014, entre todos os bebês que vieram a óbito antes de completar 1 ano, 73% faleceram no primeiro mês de vida.

A realidade é a mesma em todo o Brasil. O país conseguiu cumprir uma das Metas do Milênio estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), que previa a redução em dois terços da mortalidade de crianças até 5 anos. Entre as mortes neonatais, entretanto, a situação continua preocupante. Em 2012, conforme estudo da Unicef divulgado no ano passado, estes óbitos representavam 64% de todos os registrados antes dos 5 anos, o maior índice entre todos os 75 países em desenvolvimento pesquisados.



Márcia Uçulak, superintendente de atenção à saúde da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa)do Paraná, explica que o aumento no nascimento de bebês prematuros, cujo parto ocorre antes de 38 semanas de gestação, justifica o índice. No ano passado, 11% dos partos realizados no Estado foram prematuros, contra o índice de 8% registrado em 2011. As causas da prematuridade, segundo a superintendente, estão ligadas à qualidade do acompanhamento pré-natal, mas se associam também a problemas sociais como baixa escolaridade das mães e gravidez na adolescência.

"Um dos fatores é a hipertensão na gravidez, que a gestante desenvolve e não percebe", destaca. Outra causa comum é a infecção urinária, cujos sintomas se confundem com os da gestação. Por fim, ela cita as infecções vaginais, muitas vezes desvalorizadas pela gestante ou pela equipe que a atende. Este grupo de doenças, conforme explicou, são as principais causas de prematuridade no Estado.

Márcia afirma que os três problemas são possíveis de serem solucionados, mas para que sejam diagnosticados a gestante precisa, no mínimo, estar em acompanhamento regular na unidade de atendimento primária (conhecida como unidade básica de saúde). "Os municípios centralizam o atendimento em ginecologia e obstetrícia em apenas um dia, o que é um erro, pois o atendimento pela equipe precisa ser constante", defende.

Atenção primária

Sem profissionais disponíveis, as mulheres acabam recorrendo às unidades de pronto atendimento que, segundo Márcia, não são as mais qualificadas para esse acompanhamento. "Tem uma questão que temos de assumir, que é a qualidade da atenção primária. Os municípios, em tempos de crise, tendem a aumentar o pronto atendimento e reduzir atenção primária. Mas precisamos justamente do contrário, pois o cuidado com a gestante precisa de continuidade. Quem atende precisa conhecer a paciente, saber se é adolescente, se tem companheiro", opina.

A superintendente lembra que os fatores de risco para o óbito neonatal são conhecidos, o que ajuda a prevenir as mortes. "Sempre digo que algumas gestantes já chegam com um carimbo na testa, onde está escrito: 'cuide de mim, pois meu bebê tem risco de morrer'. Por isso é importante que a equipe crie vínculos com a paciente. Onde há vinculação, não há mortes", reforça, lembrando que filhos de mães com até três anos de estudo têm até 2,5 vezes mais chances de integrar as estatísticas da mortalidade infantil.



Adolescência

A gravidez na adolescência, que atinge em média 18% das gestantes do Paraná e pode chegar a quase 40% em alguns municípios, é outro fator de risco. "A adolescente muitas vezes nega ou esconde a gravidez e faz poucas consultas de pré-natal, o que aumenta os riscos de doenças que levam à prematuridade", aponta.

Márcia considera que combater a mortalidade neonatal é muito mais difícil que solucionar as mortes de crianças até 5 anos, pois as causas não são relativas a doenças como diarreia ou falta de alimentos. "Quando o índice de mortalidade infantil é alto, as soluções são mais simples. O problema é que 73% das crianças até 1 ano morrem sem deixar o hospital".

Por isso, ela destaca que o programa Mãe Paranaense tem investido na capacitação das equipes de atenção primária, para que sejam capazes de criar vínculos com as gestantes e observar a existência dos fatores de risco. "As unidades precisam conhecer seu território e cadastrar a comunidade. É preciso fazer a captação precoce das gestantes, para que passem por pelo menos sete consultas pré-natais, o que ajuda a identificar os riscos."
Carolina Avansini
Reportagem Local
FOLHA DE LONDRINA
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