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CRISE MIGRATÓRIA - O drama de quem foge da própria terra

No Brasil, Paraná é o terceiro Estado que mais acolhe os sírios, que já perfazem mais de 20% dos refugiados oficialmente reconhecidos no País

 
Movidos pelo medo e pelo desespero, milhões de pessoas têm partido de seus lares em busca de segurança e a esperança de uma vida melhor em outros países. São os refugiados que, no ano passado, somaram 19,5 milhões de pessoas no mundo que deixaram suas terras para fugir de guerras civis, conflitos armados, perseguições por conta de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política.

Em 2014, conforme informações do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), as migrações em busca de refúgio atingiram números recordes. Há alguns dias, a foto do corpo de uma criança síria resgatada morta no litoral da Turquia, onde tentava com sua família chegar à Europa para fugir da guerra que assola o país natal, chamou a atenção do mundo para a crise migratória na Europa, onde a maioria dos sírios tenta chegar.

A constante violação dos direitos humanos na Síria também reflete no Brasil. Conforme o último levantamento do Comitê Nacional de Refugiados (Conare), as pessoas desta nacionalidade já constituem o maior número de refugiados que conseguiram visto de permanência no País. Dos 8,8 mil refugiados oficialmente reconhecidos pelas autoridades brasileiras, 2.077 são sírios. O órgão acumula ainda 12,6 mil solicitações para julgamento e um total de 30.571 solicitantes de refúgio.

A Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Seju) do Paraná não tem dados atualizados sobre o número de pessoas na mesma situação no Estado. Estimativa do programa "Política Migratória e Universidade Brasileira", da Universidade Federal do Paraná (UFPR), aponta, porém, que haja pelo menos 500 refugiados vindos da Síria vivendo no Estado.

"Geralmente eles chegam por redes familiares ou de amizade. Quem tem um conhecido chama o outro e vão estabelecendo uma rede", relata o professor José Antônio Peres Gedeal, coordenador do programa. No País, o maior destino desses refugiados é São Paulo, seguido por Rio Grande do Sul e Paraná em terceiro lugar. O Estado atrairia muitos refugiados principalmente porque Foz do Iguaçu tem uma comunidade árabe bem estabelecida.

Grande parte dos sírios que chegam à UFPR são profissionais liberais com dificuldade de revalidar o diploma no Brasil. "Eles acabam indo trabalhar no negócio de parentes e amigos ou então trabalham como profissionais, mas ganham salário como técnicos. Eu mesmo conheço três médicos, dois arquitetos e um engenheiro que não têm diploma validado", exemplifica.

Muita gente, conforme o professor, tem alta qualificação técnica e trabalhava em empresas multinacionais cujos contratos foram rompidos em função da guerra. "Atendemos dois casos de pessoas que estavam em países da África e do Oriente Médio cujas firmas encerraram as atividades por causa do conflito. Estas pessoas não podiam voltar para a Síria, mas ficaram sem trabalho e acabaram vindo para o Brasil. É uma situação muito difícil, pois elas tinham uma vida muito confortável. Há também profissionais liberais que trabalhavam em bancos, firmas de construção e hospitais que não existem mais", lamenta.

Angola, República Democrática do Congo, Colômbia e Líbano são outros países cujos habitantes mais pedem refúgio no Brasil, conforme o Conare. No Paraná, mais especificamente na região de Londrina, chama a atenção a grande presença de bengaleses que também solicitam visto de refúgio alegando perseguição política. Conforme dados da Cáritas de Londrina, que é habilitada a fazer o encaminhamento de refugiados na cidade, 193 bengaleses entraram com pedido de refúgio apenas através da instituição desde 2013.

APOIO

Em Curitiba, o programa "Política Migratória e Universidade Brasileira" oferece apoio para imigrantes e refugiados em diversas áreas. Um dos projetos, realizado pelo curso de Letras, promove atividades de educação em língua portuguesa para estrangeiros. "Hoje temos 300 alunos haitianos e 50 sírios. A metodologia foi desenvolvida pela universidade e pretende dar uma capacitação em língua portuguesa para estrangeiros", explica o professor José Antônio Peres Gedeal, coordenador do programa. Ele esclarece que os haitianos somam pelo menos 9 mil pessoas no Estado, conforme estimativa dos órgãos que trabalham com imigrantes, mas não são considerados refugiados e sim portadores de visto humanitário em função do terremoto que assolou o País.

O programa da UFPR também oferece, através do curso de Direito, um serviço que dá orientações e encaminhamentos para refugiados e imigrantes em geral. A ajuda inclui desde o preenchimento de formulários para pedido de refúgio até orientações de cunho trabalhista ou para realizar contratos de locação.

Gedeal explica que o programa também tem se concentrado em prover a ocupação de vagas ociosas da universidade por refugiados que já cursavam ensino superior em seus países de origem. "Também temos um projeto que trabalha a revalidação de diplomas, um processo bem complicado", diz. Apoio a atividades artísticas e culturais, acolhimento dos imigrantes através do curso de Psicologia e uma pesquisa que pretende mapear o trabalho dos haitianos no Paraná, através do curso de Sociologia, são outras frentes de atuação.
Carolina Avansini
Reportagem Local-folha de londrina
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