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Tem parte de mim que desconheço', diz acusado de canibalismo em PE

'Fui buscar em reportagens para saber o que tinha acontecido', revelou Jorge.
Defesas do trio acusado alegam coações e trabalham de forma independente.

Do G1 Caruaru
Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, um dos acusados (Foto: Kamylla Lima/ G1)Jorge Beltrão, um dos acusados de ter cometido os crimes (Foto: Kamylla Lima/ G1)
Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, integrante do trio acusado de canibalismo conversou com oG1 durante o intervalo da audiência de instrução em Garanhuns, Agreste de Pernambuco. Ele alegou que não lembra de ter cometido nenhum dos crimes pelos quais está sendo julgado. "Eu só tenho flashes das coisas que tinham acontecido. Fui buscar em vídeos e reportagens para saber o que tinha acontecido. Tem parte de mim que eu desconheço", disse.

As defesas do trio alegam coações e falha em laudo, e trabalham de forma independente. Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, Isabel Cristina Torreão Pires e Bruna Cristina Oliveira da Silva são acusados de duplo homicídio triplicamente qualificado, vilipêndio (violação) e ocultação de cadáver, segundo o promotor Jorge Dantas.
"Eu queria saber o que eu tinha feito. Eu não falava coisa com coisa porque não tinha certeza das coisas que eu tinham acontecido. Quando eu saio do surto e vejo as coisas que eu fiz, me arrependo muito. Não reconheço fatos que foram relatados aqui na audiência", explicou um dos acusados.

Jorge Beltrão ainda contou ao G1 que se arrepende das coisas que fez e que as duas mulheres envolvidas nos casos apenas seguiam o que ele falava. "Elas sempre concordavam com o que eu dizia, achanado que aaquilo era o certo. A Bruna escrevia tudo em um diário. Tenho um grande arrependimento de ter nascido com problemas mentais. Não sou eu. Pode me colocar na prisão para o resto da vida. Eu quero é ser tratado", ressaltou.
Depoimentos dos acusados
Jorge Beltrão foi o primeiro a depor. Ele confirmou que é divorciado e que não tem filhos. Ele contou que trabalhou com professor de edução física em academias e que é ex-marido de Isabel e companheiro de Bruna, ambas envolvidas no caso. Durante o depoimento, Jorge disse que havia sido processado uma vez por homicídio, mas foi inocentado. Confirmou que foi condenado pela morte de Jéssica Pereira, em Olinda. Ao ser questionado sobre os crimes deGaranhuns, o acusado ficou em silêncio.
A segunda a prestar depoimento foi Isabel Cristina. Ela disse que é divorciada e que não tem filhos. A acusada falou da vida pessoal, contou que trabalhava vendendo doces e salgados, mas preferiu manter silêncio quando questionada sobre os detalhes dos crimes. Por não responder nenhuma pergunta do processo, as pessoas que estavam no Fórum de Garanhuns começaram a rir de Isabel. Por causa desta atitude, a juíza recomendou que o plenário fosse esvaziado. No local só ficaram os réus, os funcionários do fórum e a imprensa.
Bruna Cristina foi a última a depor. Ela disse que é natural de Natal, no Rio Grande do Norte, e que veio para Pernambuco para morar com Isabel e ser companheira de Jorge. Ela e o acusado mantém um relacionamento há 13 anos, desde que ela tinha 16. Bruna contou que Isabel, ex-mulher de Jorge, não atrapalhada o relacionamento dos dois, nem tinha ciúmes. Ela também ressaltou que não tinha nada contra as vítimas e que usava os documentos de Jéssica Pereira antes de ser presa.

Depoimentos das testemunhas
Um total de dezessete testemunhas foram ouvidas na audiência de instrução. Entre elas, psicólogos do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), uma amiga, uma irmã e uma prima de Giselly Helena da Silva, vítima do trio. Dois policiais civis que acompanharam o caso desde o início também foram ouvidos.

O primeiro policial a depor esclareceu que após as investigações, a polícia foi até a casa na qual o trio morava. No local, eles encontraram os acusados e uma criança. "Um dos policiais mostrou a foto de Giselly à criança e perguntou se ela sabia quem era. A menina respondeu que 'era a mulher má' e apontou para o local onde restos mortais da vítima estavam. Também encontramos um livro chamado 'Memórias de um Esquizofrênico', no qual Jorge contava os detalhes do que tinha feito com as vítimas", disse.
Ele ainda acrescentou que encontrou o diário de Bruna, outra acusada de cometer o crime. "Ela contava toda a vida dela no diário. Lá estava escrito: 'Caso a gente seja descoberto e preso, alegaremos insanidade mental, porque é mais fácil fugir do manicômio'", detalhou o policial.
O segundo policial civil revelou que o trio sempre buscava pessoas com o mesmo perfil. "Eram sempre pessoas que reclamavam da vida. Inclusive, eles tinham mas duas potenciais vítimas. Uma delas era do Caps", contou. Por questões de segurança, o policial não revelou a identidade destas pessoas.

O advogado Rômulo Lira está defendendo Bruna Cristina Oliveira da Silva. "Nós não vamos bater na parte da insanidade mental, porque isso aí vai ficar na defesa do Jorge. A defesa da Bruna será no coação moral irresistível, porque ela era coagida pelo Jorge a participar de tudo que eles fizeram".
Defesa
Os advogados de defesa dos integrantes do trio acusado de canibalismo conversaram com o G1antes da audiência de instrução começar.
"O que tem que ser analisado de Bruna não é apenas o que ela fez. Lógico que é abominável, ninguém pode dizer que é uma coisa normal. O ato de ceifar a vida de um ser humano não é normal. O crime foi bárbaro. O crime é abominável. Mas o que queremos mostrar é que todos têm direito a uma defesa", diz Rômulo.
O defensor de Isabel Cristina Torreão Pires, Paulo Sales, também alega que houve coação moral irresistível. "A tese de defesa da Isabel é de coação moral irresistível - quando alguém pratica um crime sob coação de terceiros. No caso de Isabel, ela sofria coação do esposo Jorge, que é esquizofrênico, paranóico e é um cara violento. E a ameçava fisíca e psicologicamente para cometer esse delito", relata.
Já o advogado de Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, Giovanni Martinovich de Araújo Calábria, aborda possíveis falhas no laudo psiquiátrico realizado no cliente. "Nós vamos demonstrar e rebater as falhas que existem nos autos. Os advogados anteriores nada fizeram em defesa de Jorge. Vamos provar que o laudo psiquiátrico se encontra inválido. Jorge é beneficiado ao INSS [Instituto Nacional do Seguro Social]. O INSS afirma que ele é esquizofrênico e paranóico. Quero mostrar que podemos fazer justiça", declara.
Audiência
O trio acusado de canibalismo participa de uma audiência de instrução nesta quinta-feira (29) em Garanhuns, no Agreste de Pernambuco. Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, Isabel Cristina Torreão Pires e Bruna Cristina Oliveira da Silva são acusados de duplo homicídio triplicamente qualificado, vilipêndio (violação) e ocultação de cadáver, segundo o promotor Jorge Dantas.

Ainda segundo o promotor, cada um teve "uma participação bem clara nos crimes". A audiência é aberta ao público e realizada no Fórum Eraldo Gueiros Leite. São 27 testemunhas e nesta quinta-feira (29) devem ser ouvidas 18, incluindo os três acusados. Uma testemunha não foi encontrada e algumas serão ouvidas em outras comarcas.

Entenda o caso
O inquérito relata que Jéssica Pereira era moradora de rua, tinha 17 anos, uma filha de um ano e aceitou viver com os acusados. Eles planejaram ficar com a criança depois de matar a mãe. Em Garanhuns, as vítimas foram Giselly Helena da Silva, 31 anos, e Alexandra Falcão da Silva, 20 anos, mortas, respectivamente, em fevereiro e março de 2012.
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Trio é acusado de crimes de canibalismo (Foto: Luna Markman/ G1)Trio é acusado de crimes de canibalismo
(Foto: Luna Markman/ G1)
De acordo com a polícia, a carne dos corpos das vítimas era fatiada, guardada na geladeira e consumida pelo trio. A criança, inclusive, também teria comido da carne da mãe. Eles teriam até utilizado parte da carne das vítimas para rechear coxinhas e salgadinhosque vendiam em Garanhuns.
Os acusados afirmam fazer parte da seita Cartel, que visa a purificação do mundo e o controle populacional. A ingestão da carne faria parte do processo de purificação. O caso veio a público depois que parentes de Giselly Helena da Silva denunciaram o seu desaparecimento. Os acusado usaram o cartão de crédito da vítima em lojas de Garanhuns e foram localizados. Uma publicação contendo os detalhes dos crimes - registrada em cartório - foi encontrada na casa dos réus.
FONTE - GLOBO.COM
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