PMs são condenados por morte de estudante obrigado a beber solvente
Marcos de Souza tinha 18 anos quando morreu em 2008 na Zona Leste.
Penas dos seis policiais variam de 14 a 18 anos por homicídio qualificado.
Seis policiais militares foram condenados na noite desta quarta-feira (4) por matar um estudante em novembro de 2008, após obriga-lo a beber solvente. Marcos Paulo Lopes de Souza tinha 18 anos de idade quando teve um mau súbito após ingerir o produto químico numa rua da comunidade carente onde morava, na região de Itaquera, Zona Leste de São Paulo. Cabe recurso da decisão.
Segundo o 4º Tribunal do Júri da Capital, as penas variam de 14 a 18 anos de reclusão por homicídio duplamente qualificado – por motivo torpe e envenenamento. Segundo a denúncia do Ministério Público, dois jovens foram abordados pelos PMs, que os obrigaram a beber solvente. Um morreu e o outro conseguiu se salvar, pois fingiu ter ingerido o líquido.
De acordo com a sentença da juíza Liza Livingston, “dois dos réus praticaram crimes mais graves, por ação e não omissão como os demais. Por isso os efeitos da condenação com relação a eles devem ser diferenciados”. Ela senteciou pela perda dos cargos de dois dos policiais.
Um dos militares foi condenado a 18 anos de reclusão, 1 ano e 1 mês de detenção e ao pagamento de 60 dias-multa, e o outro a 18 anos de reclusão, 1 ano de detenção e 40 dias-multa.
Segundo a sentença, “a ordem dos réus para que as vítimas ingerissem substância entorpecente revelou total falta de compaixão e sensibilidade. Mesmo sabendo que se tratavam de vítimas primárias, de 18 e 19 anos de idade, decidiram impor-lhes sofrimento atroz por ingestão de tricoletileno. Agiram com crueldade e de forma ilegal, deixando de efetuar a prisão para dar vazão aos instintos agressivos.”
Os outros quatro policiais terão de cumprir pena de 14 anos de reclusão, 6 meses de detenção e 20 dias-multa. A pena privativa de liberdade será cumprida inicialmente em regime fechado.
Sobrevivente
O amigo de Marcos, que fingiu beber o produtor químico, sobreviveu e foi a principal testemunha do caso. Laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que Marcos teve insuficiência respiratória aguda e edema pulmonar em decorrência da ingestão da substância cloroetileno.
O amigo de Marcos, que fingiu beber o produtor químico, sobreviveu e foi a principal testemunha do caso. Laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que Marcos teve insuficiência respiratória aguda e edema pulmonar em decorrência da ingestão da substância cloroetileno.
O crime, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), Polícia Civil e Corregedoria da Polícia Militar (PM), ocorreu em 10 de novembro de 2008. O julgamento ocorrerá no 4º Tribunal do Júri, no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste da capital, e está previsto para começar às 12h30.
Os policiais militares respondem em liberdade ao processo. Durante as investigações, os agentes negaram as acusações de que obrigaram Marcos e seu amigo a tomar solvente.
O G1 apurou que foram julgados os policiais militares Carlos Dias Malheiros, 46, Claudio Bonifazi Neto, 36, Jorge Pereira dos Santos, 52, Rafael Vieira Junior, 37, Rogério Monteiro da Silva, 39, e Edmar Luiz Silva Marte, 36. A equipe de reportagem não conseguiu localizar a defesa dos réus para comentar o assunto.
O nome do sobrevivente não foi divulgado porque ele é tratado como testemunha protegida.
Ingestão do solvente
De acordo com peritos, o solvente pode acelerar a frequência cardíaca se for tomado. E se a pessoa for submetida a esforço físico após a ingestão sofre efeitos potencializados. Segundo a acusação, na madrugada do dia 10 de novembro de 2008, Marcos foi obrigado pelos policiais militares a correr após beber o líquido.
De acordo com peritos, o solvente pode acelerar a frequência cardíaca se for tomado. E se a pessoa for submetida a esforço físico após a ingestão sofre efeitos potencializados. Segundo a acusação, na madrugada do dia 10 de novembro de 2008, Marcos foi obrigado pelos policiais militares a correr após beber o líquido.
Testemunhas contaram aos investigadores que Marcos estava acompanhado de outro rapaz. Os dois cheiravam lança-perfume e se preparavam para fumar maconha perto do 103º Distrito Policial (DP), na Cohab 2 Itaquera, quando um carro Blazer da PM, com a inscrição "Tático Móvel", os abordou.
Marcos e o amigo foram parados pelos policiais militares no cruzamento da Rua Giulio Ferro com a Avenida Salim Farah Maluf. Ainda de acordo com testemunhas, o amigo de Marcos gritava que os policiais do 39º Batalhão da PM haviam os obrigado a beber solvente, encontrado em frascos próximos a uma viela, o ameaçaram de morte e os fizeram correr.
Os policiais militares foram embora em seguida sem relatar a abordagem nos documentos da corporação, segundo a acusação. Marcos ainda chegou a ser socorrido por policiais civis do 103º DP, mas chegou sem vida ao hospital da região. O corpo do jovem não tinha sinais de agressões.
FONTE - GLOBO.COM