A força das águas do Paranapanema
Chuvas elevam vazão na Usina Chavantes; grande ‘caixa de acumulação’ contribui para amenizar riscos de enchentes ao longo do rio
Em novembro a vazão do Paranapanema para o reservatório Chavantes foi três vezes maior (314%) do que a vazão natural histórica para o mês, e em dezembro quase duas vezes maior (197%)
Chavantes - O excesso de chuvas no Paraná, ainda sob efeito do fenômeno climático El Niño, também provoca o aumento da vazão natural dos rios e eleva o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas. E embora as chuvas sejam positivas para atender à demanda do sistema elétrico brasileiro – que hoje contempla 1.750 usinas (entre hidrelétricas, pequenas centrais hidrelétricas e termoelétricas) -, esse maior volume de água demanda uma logística detalhada do controle de vazão para tentar amenizar os efeitos das chuvas ao longo do rio.
Exemplo disso é a Usina Chavantes, há 16 anos sob a concessão da empresa norte-americana Duke Energy, cujo reservatório possui 400 quilômetros quadrados e ontem registrou 85,5% de seu volume normal de operação. Como vem chovendo muito sobre a Bacia do Paranapanema, em novembro a vazão do rio Paranapanema para o reservatório Chavantes foi três vezes maior (314%) do que a vazão natural histórica para este mês e em dezembro, quase duas vezes maior (197%). Para controle do nível, ontem a Duke Energy praticou, em Chavantes, o vertimento de 1.313 metros cúbicos por segundo. Volume parecido foi registrado em 2013.
"Esse total envolve desde o volume de água que passa pelas quatro turbinas, gerando energia, e pelas comportas, que seguirão o fluxo do rio, atendendo à demanda que for necessária por outras usinas que estiverem pelo curso do rio até desembocar em Itaipu", explica o gerente adjunto do Centro de Operação da Duke Energy, Marcos Antonio Galera, por telefone.
Em um processo detalhado e complexo, esse controle do reservatório onde o volume de água liberada é geralmente menor do que o volume que chega – contribui para reduzir o impacto das chuvas nas comunidades ribeirinhas, visto que sem o reservatório, a vazão natural do rio seria ainda mais elevada. "Temos condições de prever com uma semana de antecedência o aumento de volume de água em decorrência das chuvas. Dessa forma, temos condições de planejar os impactos da vazão que será necessária e comunicar aos órgãos competentes, como a Defesa Civil, dos 74 municípios banhados pelo Paranapanema, em caso de risco de alagamento de áreas de várzea ocupadas irregularmente", informa.
Recentemente, Galera cita que foi necessário a desocupação em Jacarezinho e Ourinhos (SP). "As áreas de várzea são naturalmente alagáveis e o ideal é que esses locais não fossem ocupados. De qualquer forma, com o trabalho que realizamos conseguimos amenizar os efeitos, que provavelmente seriam maiores se não houvesse esses compartimentos de retenção, que são fundamentais também na época de estiagem para manter a perenidade do rio e a normalidade das operações", reitera.
O gerente adjunto também explica que o controle adequado de vazão em Chavantes também exige atenção redobrada por causa de algumas edificações, que acabam de certa forma limitando esse processo: É o caso de uma ponte férrea, entre Ourinhos e Jacarezinho, e a ponte pênsil de Ribeirão Claro, que não suportam cheias acima de 2 mil metros. "Em maio de 1983, devido ao excesso de chuvas, não foi possível respeitar esse limite de vazão e esses pontos foram parcialmente destruídos e depois reconstruídos", lembra o Galera.
"No caso da Usina de Jurumirim, a primeira usina da cascata, também não podemos ter uma vazão acima de 1.200 metros cúbicos por segundo, pois isso inviabilizaria a capacidade de operação da Usina de Paranapanema, na sequência, localizada em Piraju (SP), que também foi prejudicada em 1983, ano em que, ‘estatisticamente’, consideramos que ocorreu um tipo de vazão denominada de ‘década milenar’, que aconteceria a cada dez mil anos", destaca.
Galera também ressalta que o sistema é bastante seguro e que as pessoas não devem temer situações como a do rompimento da barragem de resíduo da Samarco, em Mariana (MG). "É um outro tipo de barragem. No nosso caso, o reservatório é feito de terra compactada e sua vida útil é indeterminada. No caso dos equipamentos mecânicos, a vida útil é em torno de 50 anos. Em 2014, investimos R$ 85 milhões para a troca de turbinas e geradores em Chavantes. Para este ano já está previsto o investimento de R$ 100 milhões para reformar a Usina de Capivara, que está em atividade desde 1977", complementa.
A Duke Energy tem concessão de oito usinas hidrelétricas no Paranapanema: Jurumirim, Chavantes, Salto Grande, Canoas I, Canoas II, Capivara, Taquaruçu e Rosana. Todas estão operando normalmente.
Em relação a alagamentos ou enchentes, tais informações podem ser divulgadas, com maior propriedade, por órgãos como a Defesa Civil dos municípios, visto que cada localidade tem suas especificidades. Em períodos de vazões elevadas, a Duke Energy envia boletins diários a pessoas e instituições cadastradas. Para manter a comunidade informada, a companhia também mantém o Telecheia (0800-7702428), um serviço 24 horas para atender ribeirinhos, produtores rurais e autoridades.
Em números
Usina de Chavantes
Localização: próxima de Chavantes (SP) e Ribeirão Claro (PR)
Conclusão: 1971
Turbinas: 4 (tipo Francis)
Potência: 414 MW (produz energia suficiente para atender 2,9 milhões de pessoas)
Área do Reservatório: 400 Km²
Perímetro: 1.085 Km (no total, a Bacial do Paranapanema tem 103.000 Km²)
Barragem: consegue armazenar 9,4 bilhões de metros cúbicos de água
Royalties
Mensalmente, a Duke Energy encaminha cerca de R$ 5 milhões em royalties para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que distribui o recurso aos municípios, proporcionalmente às áreas inundadas para a formação do reservatório.
Ana Paula Nascimento
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA