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Estudo questiona uso de maconha como causa de declínio de inteligência

Jovem fuma maconha em manifestação no México (Foto: AP)
Um estudo que reavaliou dados de dois dos maiores testes clínicos realizados até hoje sobre a influência da maconha na inteligência sugere que a droga pode não ser culpada pelos efeitos vistos anteriormente.
O trabalho, publicado nesta segunda (18) na revista "PNAS", da Academia Nacional de Ciências dos EUA, investigou fatores que poderiam estar comprometendo o resultado de trabalhos anteriores, e achou vários.
Um dos estudos avaliados pelos cientistas, realizado pela USC (Universidade do Sul da Califórnia), em Los Angeles, acompanhou 2.277 jovens dos 9 até 20 anos de idade, e encontrou correlação entre o uso da droga e mau desempenho em testes de QI.
A ligação, porém, não permite afirmar que a primeira é causa da outra, mas sim que ambas estão ligadas a fatores de confusão, afirma Nicholas Jackson, da USC, que publica agora uma análise mais cuidadosa dos dados junto com oito colegas.
Segundo ele, o fator que mais joga desconfiança sobre os resultados preliminares do estudo, é que pares de gêmeos com hábitos diferentes no consumo da droga pareciam imunes às conclusões iniciais.
"Gêmeos usuários de maconha deixaram de demonstrar declínio de QI significativamente maior em relação a seus irmãos abstêmios", escreveram os autores do estudo. A inclusão de pares de gêmeos em testes clínicos é normalmente usada para levar em conta a influência de fatores genéticos, já que gêmeos idênticos possuem DNA virtualmente idêntico.
Dose
Além disso, nenhum dos estudos pareceu exibir um padrão de declínio cognitivo relacionado à dose da droga. Em outras palavras, esperava-se ver que usários de maconha mais frequentes exibissem uma queda de desempenho relativo maior que a dos menos frequentes, mas isso não ocorreu. Não havia relação de "dose-resposta", afirmam os Jackson e seus colegas.
E o último fator confundente, dizem os cientistas, é justamente o fator temporal. Esperava-se que os adolescentes usuários de maconha só apresentassem declínio cognitivo relativo depois de começarem a usar a droga, mas muitos deles já estavam abaixo da média antes de começarem a fumar a droga.
Analisando um outro estudo clínico de longo prazo feito no estado do Minesotta (EUA), acompanhando 789 adolescentes, Jackson encontrou o mesmo problema. Segundo o cientista, é provável que o problema esteja ligado a fatores socioambientais externos que fazem com que os mesmos voluntários desenvolvam menos habilidades cognitivas e ao mesmo tempo exibam tendência a se tornarem usuários de maconha.
Não é possível, porém, dizer se são condições econômicas ou problemas educacionais que causam isso -- em vez de um efeito neurotóxico da maconha -- porque as pesquisas não acompanharam esses dados.
Pouca evidência
"Encontramos pouca evidência para sugerir que o uso de maconha na adolescência tenha um efeito direto no declínio intelectual", escreveram os cientistas. Jackson e seus colegas, porém, reconhecem que o trabalho ainda não põe um ponto final na questão, que deve ser abordada por outras pesquisas.
"Pesquisas sobre esse tópico são escassas e com frequência exibem resultados conflitantes", disse. Segundo ele, como não é possível submeter adolescentes a experimentos clínicos com maconha, é preciso usar abordagens "quase experimentais", como a exibida por ele agora.
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