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Diferentes nas metas mas parecidos nas ações

Escolha de líderes investigados e reunião com sindicalistas são semelhanças entre Temer e Dilma na forma de estruturar presidencialismo de coalização

Lula Marques/Agência PT
Temer permanecerá, assim como Dilma, refém de um sistema político marcado pelo poder de veto
 

Com a meta de desconstruir o legado do governo anterior, o presidente interino Michel Temer (PMDB) e os seus ministros aproveitaram estes primeiros dez dias da gestão para encampar o discurso da "herança maldita" deixada pela presidente afastada Dilma Rousseff (PT), tentando abafar as críticas, principalmente do PT e de movimentos sociais ligados aos partidos de esquerda, de que a gestão dele é resultado de um "golpe" contra a democracia. A própria Dilma tem se encarregado, em várias entrevistas concedidas à imprensa internacional neste período, de reforçar a tese que tem incomodado peemedebistas e aliados.
Entretanto, nem tudo é divergência entre os dois neste momento. A composição dos ministérios, com nomes conhecidos nos dois governos, a escolha de líderes investigados para a articulação política com o Congresso e a reunião com sindicalistas logo no início da gestão marcam semelhanças no estilo e na forma de estruturar o chamado presidencialismo de coalização.
Dilma escolheu, no início do primeiro mandato em 2011, como chefe da Casa Civil, o ex-ministro Antonio Palocci, para ser o seu principal articulador entre os partidos que sustentavam o governo. Porém, ele deixou o cargo depois de apenas seis meses, envolvido em denúncias de enriquecimento ilícito. De acordo com o professor de ética e filosofia política da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Clodomiro Bannwart, "isso fragilizou seu diálogo com o sistema político e, sobretudo, com uma base inflacionada de interesses regionalizados". Os substitutos, todos do PT, Gleisi Hoffmann, Ideli Salvatti, Mirian Belchior e Aloisio Mercadante, não foram bem na relação com o Congresso.
Naquele início do mandato, Dilma demitiu sete ministros citados em investigações por supostos atos de corrupção e cunhou o termo "faxina ética" no governo. "Só que, pouco depois, outros políticos dos mesmos partidos já ocupavam os mesmos cargos daqueles que haviam saído", lembra o sociólogo da Faculdade Mackenzie, de São Paulo, Rodrigo Augusto Prando. "Isso deixou claro que, mais do que problemas com os indivíduos, havia um problema de caráter mais estrutural."
Agora, na gestão Temer, o principais representantes do governo junto ao parlamento são Romero Jucá (PMDB), no Planejamento, cujos sigilos fiscal e bancário foram quebrados anteontem pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto envolvimento na Operação Lava Jato, e o deputado federal André Moura (PSC), como líder do governo, que responde a três inquéritos no STF. "Além de Temer não deixar transparecer a face do gestor, suas ações iniciais corroboram para sinalizar a permanência da prática da velha política fisiológica, aumentando a desconfiança da sociedade e, até mesmo, a sua própria rejeição, como já demonstrada em pesquisas de opinião", comentou Bannwart. Os índices de rejeição a Dilma superavam os 90% nos seus últimos dias na presidência.
Na economia, a reforma da Previdência Social é um dos principais objetivos da nova equipe. O tema foi tratado por Dilma, porém sem avanços. O aumento de impostos, como a volta da CPMF e a desvinculação de receitas, dando maior liberdade nos gastos do Executivo, estão na mira de Temer e também foram almejados pela petista. O governo interino provavelmente não seguirá a linha do anterior quanto à desoneração seletiva de impostos concedidos a setores da produção.
Segundo Bannwart, recai sobre Temer o compromisso com o mercado por meio da equalização das contas públicas, o que pode desagradar muitos setores da sociedade. "Em que pese ele obtenha êxito nessa empreitada econômica, poucas são as chances, em curto espaço de tempo, para aplainar o sistema político, a menos que consiga levar adiante a reforma política, objetivo que sequer se apresenta no horizonte. Temer permanecerá, assim como Dilma e os governos anteriores, refém de um sistema político marcado pelo poder de veto, pelo pragmatismo e pelo deficit programático da gestão do poder", disse Bannwart.
Para o sociólogo Rodrigo Prando, Temer tem – da mesma forma que Dilma teve no seu primeiro mandato – um tempo para mostrar o sentido que o governo seguirá. "Ela teve mais tempo e Temer tem bem menos e pouca possibilidade de erro, pois, além da questão temporal, existe a aguerrida oposição do PT e PCdoB, por exemplo." O afastamento de Dilma pelo Senado vence no mês de novembro.
Edson Ferreira
Reportagem Local
FOLHA DE LONDRINA

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