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(04-06-2016)País sai da crise energética e vira potencial exportador




O fim da escassez hídrica?

Chuva e redução do consumo mudam em um ano o status do País em relação à produção de energia elétrica


O Brasil passou de uma crise energética que beirou a necessidade de racionamento, como ocorreu no início dos anos 2000, para potencial fornecedor internacional em um período de cerca de um ano. O motivo, entretanto, não é 100% benéfico: as chuvas ajudaram a encher os reservatórios das hidrelétricas, mas parte das sobras é derivada da queda no consumo provocada pela alta dos preços.
De janeiro do ano passado até março deste ano, o consumidor ainda pagava os custos de acionamento das usinas termelétricas com as chamadas bandeiras tarifárias vermelha e amarela – a verde, que não aumenta o custo dos boletos, voltou a vigorar em abril. O sistema foi criado para custear as termelétricas, que produzem energia elétrica por um valor mais elevado, em momentos de escassez hídrica.
O grande volume de chuvas já provocou o desligamento das termelétricas, mas o aumento nos custos no ano passado, aliado à crise econômica, fez com que a indústria reduzisse o consumo de energia elétrica. O cenário de sobras levou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a cogitar vender as sobras para a Argentina, no futuro, por contratos firmes entre os dois países, que têm os sistemas interligados.
Atualmente, os sistemas são interligados e há uma espécie de "escambo": quando há uma falta de abastecimento pontual, a energia gerada no Brasil é transferida para a Argentina e vice-versa. Isso ocorreu, por exemplo, nos picos de temperatura no verão de 2015, quando os aparelhos condicionadores de ar exigiram mais energia elétrica, que foi fornecida pela rede argentina.
Porém, a proposta do diretor-geral da ONS, Luiz Eduardo Barata, é firmar contratos de venda nos próximos anos. A assessoria do órgão informou que a ideia ainda depende de estudos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Ministério de Minas e Energia para análise da viabilidade para, só depois, avaliar como será feita a transação.

Sobras
Mateus Tolentino Gonçalves, sócio da Prime Energy, empresa do ramo de comércio de energia elétrica no mercado livre, afirma que a diferença entre o consumo previsto para 2016 e o que realmente foi consumido, até o momento, resulta em uma sobra de 5 mil megawatts médios (MWm) - para efeito de comparação, a produção da hidrelétrica de Belo Monte é de 4 mil MWm.
De acordo com ele, há vários fatores que levam ao quadro atual. Há um ano, o Brasil se preocupava com a possibilidade de racionamento de energia elétrica, devido a dois anos seguidos de poucas chuvas de verão e reservatórios vazios.
Porém, desde o agravamento do processo de recessão no ano passado, houve redução forte da produção industrial, o que resulta em redução do consumo de energia elétrica. Junto com isso, a elevação das tarifas das distribuidoras desestimulou o consumo tanto da indústria quanto nas residências.
Gonçalves diz que isso gerou uma retração no consumo sem precedentes históricos. "De certa forma, o que ocorreu foi parecido com o que houve em 2001, quando houve racionamento, com a diferença de que, naquela ocasião, a queda no consumo foi algo decretado, enquanto o quadro atual é resultado de fatores econômicos", afirma.
Ao mesmo tempo, desde julho de 2015 o El Niño elevou o volume de chuvas, principalmente na Região Sul, aliviando o sistema energético como um todo. Além disso, o mês de janeiro teve registro de chuvas torrenciais em todo o País, o que também elevou os reservatórios. "Isso gerou uma redução do preço de curto prazo, ou seja, possibilitou o processo de desligamento das termelétricas."
Esse conjunto de fatores provocou a sobra de energia no sistema, que beneficia a grande indústria que permite migrar do mercado cativo para o mercado livre de energia elétrica.
Alternativas
Ainda assim, o volume disponível faz com que o governo busque alternativas para reduzir as sobras, já que isso preocupa o gerador, que se preparou para um consumo mais alto. "Provavelmente, esse assunto da venda de energia para a Argentina é pegar os contratos que vão sobrar e passar para quem está precisando", avalia.
Gonçalves acredita que a proposta levaria tempo a se concretizar, já que não há um trâmite regulatório. Se for necessário criar um, deve passar pelo Congresso Nacional antes de passar a vigorar.
Luís Fernando Wiltemburg Reportagem Local
FOLHA DE LONDRINA

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