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Paraná chega a cem escolas ocupadas; nove em Londrina

Colégio Maria José Balzanelo Aguilera, na zona sul, é um dos nove ocupados em Londrina


Estudantes secundaristas do Paraná seguem com as ocupações de colégios estaduais em protesto contra a Medida Provisória (MP) 746/2016 - que propõe reformas no ensino médio - e também contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, que prevê limitar os gastos públicos para os próximos 20 anos. A segunda-feira (10) começou com 36 escolas ocupadas em todo o Estado. No início da noite, de acordo com o Movimento Ocupa Paraná, os estudantes já haviam se instalado em cem instituições de ensino.
São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), cidade onde as mobilizações começaram na segunda-feira passada (3), concentra 19 escolas ocupadas. Curitiba tem o segundo maior número de colégios com o cronograma oficial suspenso: 14. Londrina aparece na sequência, com nove escolas ocupadas: Maria José Balzanelo Aguilera (zona sul); Hugo Simas (área central); Willie Davids (área central); Vani Ruiz Viessi (zona sul), Margarida de Barros Lisboa (zona sul), Colégio Aplicação (área central), Polivalente (zona norte) e o Instituto de Educação Estadual de Londrina (IEEL), na área central.
Na primeira instituição ocupada em Londrina, o Colégio Estadual Albino Feijó Sanches, no Parque das Indústrias Leves, desde sexta-feira os estudantes se revezam na ocupação. Apenas os estudantes são autorizados a entrar. O presidente do Grêmio Estudantil, L.A.O., de 15 anos, relata que a insatisfação com a medida provisória é geral no colégio. "Estamos muito preocupados com a falta de estrutura dos nossos colégios para receber mudanças tão drásticas, que não foram discutidas, como o ensino integral. Não somos contra, mas é preciso saber como isso será adotado", comenta.
G.G.S., de 16 anos, conta que uma programação alternativa às aulas foi montada e já foi colocada em prática no colégio. "Estamos organizando oficinas, aulões e diversas atividades culturais, sempre consultando os alunos, sobre o que eles querem, como deve der", opina. Com um cadeado no portão, eles controlavam o acesso ao colégio. "Só os alunos entram, até porque temos responsabilidade com o patrimônio público. Estamos cuidando muito bem do que é nosso", garante.
No Colégio Hugo Simas, no centro, o dia começou com uma explicação geral para todos os estudantes sobre as questões abordadas pela MP e pela PEC 241. "Depois da nossa assembleia, fizemos questão de detalhar para todos os motivos da ocupação, pelo que estamos lutando. Enfrentamos graves problemas estruturais, de atraso de merendas. Nós sabemos bem o que estamos reivindicando", argumenta o estudante V.M., de 16 anos.
Durante a tarde, uma equipe da Polícia Militar requisitou um estudante maior de idade para o registro de um boletim de ocorrência. De acordo com a Secretaria de Estado de Educação (Seed), além do boletim, o Ministério Público e o Conselho Tutelar foram acionados diante da "situação de risco" dentro das escolas, como definiu a superintendente em Educação da Seed, Fabiana Gomes. "Em algumas instituições, universitários estão engrossando as ocupações. Há uma preocupação nesse convívio de faixas etárias diferentes, com menores sem o acompanhamento dos pais", expõe.
Ao contrário do governador Beto Richa (PSDB), que declarou que os estudantes não sabem pelo que protestam e que são manipulados por sindicatos e partidos de esquerda, Fabiana diz considerar o protesto válido, mas, segundo ela, a ocupação não é a melhor solução. "Nós temos espaços específicos para uma discussão saudável. Recebemos representantes dos estudantes e nos próximos dias vamos promover um seminário. Esperamos avanços. Ocupar não é a solução", critica. "Uma atitude dessas causa muitos prejuízos para todos. Temos pais de alunos ligando para as escolas o tempo todo, preocupados com o futuro dos filhos", completa.
O vendedor autônomo Claudenilson Silva Nascimento, de 43 anos, é um dos descontentes. Ele teve que buscar mais cedo a filha, uma estudante do 7º ano do ensino fundamental no IEEL, por conta da interrupção das aulas. "Eu acho certo protestar, mas não aqui. Vão lá em Brasília cobrar dos cabeças. Aqui não adianta nada. Ficar sem aula só prejudica as crianças", irrita-se. Já a aluna do 1º ano do ensino médio no IEEL, F.C.C., de 16 anos, discorda. "O que estamos fazendo não é brincadeira. É preciso desenvolver o senso crítico nas escolas, já que hoje esses conteúdos são escassos. Os governantes pensam que não temos cérebro, mas estão enganados. Sabemos o que queremos e não é uma questão partidária", garante.
A Seed informou que solicitou à Procuradoria Geral do Estado (PGE) um termo de reintegração de posse. Os núcleos de educação estão responsáveis por entrar com os pedidos e não há prazos específicos para as decisões judiciais. Além dos cem colégios paranaenses, outros 19 colégios seguiam ocupados em nove Estados.
Celso Felizardo
Reportagem Local/folha de londrina

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