ROTINA DE MEDO - Escolas do PR registram mais de 11 mil crimes de janeiro a setembro
Curitiba - A morte de um adolescente de 16 anos no Colégio Estadual Santa Felicidade, em Curitiba, no final de outubro, acirrou o debate em torno da violência nas escolas. Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp), o jovem foi esfaqueado por um colega, também menor de idade, após ambos terem usado drogas sintéticas nas dependências da instituição, que estava na lista das mais de 800 ocupadas no Paraná, durante movimento dos estudantes secundaristas que começou em 3 de outubro e durou pouco mais de um mês. Levantamento da própria Sesp, ao qual a FOLHA teve acesso, mostra que a incidência de crimes graves no ambiente escolar e no entorno das instituições de ensino não é novidade.
Entre janeiro e setembro deste ano, antes, portanto, das ocupações, os estabelecimentos de ensino do Estado registraram 11.165 delitos. Os dados constam dos boletins de ocorrência encaminhados pelo Batalhão de Patrulha Escolar Comunitária (BPEC), cujo objetivo é prevenir e combater a violência nos 2,1 mil colégios estaduais. Conforme a pasta, cada boletim de ocorrência pode tratar de mais de uma situação. Tanto o BPEC como a Secretaria de Estado da Educação (Seed), no entanto, reiteram que a maioria dos casos ocorre nos arredores e não dentro das escolas.
As principais infrações reportadas são ameaça (1.793), furto qualificado (1.291), lesão corporal (1.211), furto simples (1.129), vias de fato (835), dano (704), desacato (638) e injúria (612). Há também registros de roubo (188), porte ilegal de arma branca (62), estupro de vulnerável (52) e atentado violento ao pudor (16). As denúncias chegam por meio do telefone 190 ou diretamente no BPEC.
Em 2015, foram 13.962 situações, incluindo um homicídio qualificado perto de um colégio em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). No ano anterior, foram 15.226, sendo dois assassinatos: um em Araucária, também na RMC, e outro no bairro Sítio Cercado, na capital. As circunstâncias dos crimes não foram divulgadas.
Para o tenente-coronel Ronaldo de Abreu, comandante do BPEC, é preciso tomar o cuidado de "não promover alarmismo com os números", a ponto de "rotular determinada comunidade como um espaço inseguro". "Salienta-se que os atendimentos destas ocorrências correspondem a menos de 3% e são ações de cunho repressivo. Em oposição a esse índice, 97% das atividades aplicadas pelo BPEC nas comunidades escolares são preventivas", argumenta, em entrevista por e-mail. De acordo com Abreu, os delitos nas escolas costumam ser de menor gravidade, enquanto os de maior potencial ofensivo ocorrem em locais próximos. O policial pondera que os crimes nem sempre têm relação direta com os estudantes.
Segundo o comandante, os fatores da criminalidade nesses locais estão relacionados "à falta de compreensão da dimensão do outro", na maioria das vezes ocasionada pela "ausência de diálogo". "Diferentemente do que o senso comum indica, o consumo de drogas por estudante, por exemplo, tem diminuído com o trabalho realizado por intermédio de palestras e de programas de prevenção, como o PEC [Patrulha Escolar Comunitária] e o Proerd [Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência]", comenta.
A secretária educacional do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), Walquíria Mazeto, também diz que é preciso distinguir os delitos registrados dentro e fora das escolas. "Vivemos em uma sociedade que tem como uma das características a utilização da violência. A escola não está imune a esta realidade", pondera. Por outro lado, aponta, os educadores costumam identificar problemas relacionados à geração de violência dentro e fora dos estabelecimentos, incluindo instalações inadequadas, como "salas quentes no calor, geladas no inverno, prédios adaptados ou construídos em locais inadequados, ausência de ambientes educativos diversificados, como laboratórios, bibliotecas, aparelhos esportivos, áreas de convivência e lazer e descuido com a alimentação escolar".
DIFICULDADES
Conforme a APP-Sindicato, as 2,1 mil escolas da rede estadual do Paraná dispõem de 100 mil profissionais e atendem 1 milhão de alunos. "Apesar das condições, muito vem sendo feito pelos trabalhadores da educação, o que deveria ser seguido pelas autoridades do Estado, eleitas ou nomeadas, e por muitos setores da sociedade, em especial os mais abastados. Não tratar problemas relacionados à escola e à educação como caso de polícia já seria um grande passo", defende Walquíria. Algumas medidas indicadas são garantir mais equipamentos, abrir concurso público e investir em espaços para debater e construir soluções mais eficientes.
Por meio de nota, a Seed informa que desenvolve iniciativas que visem à prevenção e ao enfrentamento de todas as formas de violência no âmbito escolar, por meio de práticas pedagógicas. Tais atividades, articuladas e acompanhadas pelos 32 Núcleos Regionais de Educação (NREs), consideram "a legislação vigente e a política educacional de formação integral dos educandos".
De acordo com a Sesp, o uso de drogas motivou o assassinato do estudante no Colégio Santa Felicidade. Segundo o secretário Wagner Mesquita, o inquérito policial poderia responsabilizar apoiadores da ocupação. "Foi solicitado que se encontrassem os articuladores, inclusive os pais. Temos notícia de coma alcoólico de menores [de idade] e outras situações que denotam que eles [pais] falharam no seu dever de tutela", afirmou, à época, em entrevista coletiva.
A Sesp também informa que abriu um canal de denúncia para concentrar informações sobre a movimentação. Em seis dias, a pasta teria recebido mais de 60 notificações de crimes. Em nota, o governador Beto Richa afirmou que as ocupações ultrapassaram "os limites do bom senso". "[O homicídio] É ainda mais gravíssimo e lamentável, porque aconteceu no interior de uma escola ocupada, que deveria estar cumprindo a sua missão de irradiar a luz do conhecimento e a formação da cidadania", escreveu.
A União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e Associação Nacional dos Pós-graduandos (ANPG) criticam a "tentativa de utilizar um acontecimento trágico como forma de criminalização dos movimentos sociais". O Ocupa Paraná informa que a família perdeu um dos seus "para o ódio, para a intolerância e para a violência". O movimento dos estudantes protesta contra a reforma do ensino médio, com flexibilização de currículo, proposta pelo governo federal.
Entre janeiro e setembro deste ano, antes, portanto, das ocupações, os estabelecimentos de ensino do Estado registraram 11.165 delitos. Os dados constam dos boletins de ocorrência encaminhados pelo Batalhão de Patrulha Escolar Comunitária (BPEC), cujo objetivo é prevenir e combater a violência nos 2,1 mil colégios estaduais. Conforme a pasta, cada boletim de ocorrência pode tratar de mais de uma situação. Tanto o BPEC como a Secretaria de Estado da Educação (Seed), no entanto, reiteram que a maioria dos casos ocorre nos arredores e não dentro das escolas.
As principais infrações reportadas são ameaça (1.793), furto qualificado (1.291), lesão corporal (1.211), furto simples (1.129), vias de fato (835), dano (704), desacato (638) e injúria (612). Há também registros de roubo (188), porte ilegal de arma branca (62), estupro de vulnerável (52) e atentado violento ao pudor (16). As denúncias chegam por meio do telefone 190 ou diretamente no BPEC.
Em 2015, foram 13.962 situações, incluindo um homicídio qualificado perto de um colégio em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). No ano anterior, foram 15.226, sendo dois assassinatos: um em Araucária, também na RMC, e outro no bairro Sítio Cercado, na capital. As circunstâncias dos crimes não foram divulgadas.
Para o tenente-coronel Ronaldo de Abreu, comandante do BPEC, é preciso tomar o cuidado de "não promover alarmismo com os números", a ponto de "rotular determinada comunidade como um espaço inseguro". "Salienta-se que os atendimentos destas ocorrências correspondem a menos de 3% e são ações de cunho repressivo. Em oposição a esse índice, 97% das atividades aplicadas pelo BPEC nas comunidades escolares são preventivas", argumenta, em entrevista por e-mail. De acordo com Abreu, os delitos nas escolas costumam ser de menor gravidade, enquanto os de maior potencial ofensivo ocorrem em locais próximos. O policial pondera que os crimes nem sempre têm relação direta com os estudantes.
Segundo o comandante, os fatores da criminalidade nesses locais estão relacionados "à falta de compreensão da dimensão do outro", na maioria das vezes ocasionada pela "ausência de diálogo". "Diferentemente do que o senso comum indica, o consumo de drogas por estudante, por exemplo, tem diminuído com o trabalho realizado por intermédio de palestras e de programas de prevenção, como o PEC [Patrulha Escolar Comunitária] e o Proerd [Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência]", comenta.
A secretária educacional do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), Walquíria Mazeto, também diz que é preciso distinguir os delitos registrados dentro e fora das escolas. "Vivemos em uma sociedade que tem como uma das características a utilização da violência. A escola não está imune a esta realidade", pondera. Por outro lado, aponta, os educadores costumam identificar problemas relacionados à geração de violência dentro e fora dos estabelecimentos, incluindo instalações inadequadas, como "salas quentes no calor, geladas no inverno, prédios adaptados ou construídos em locais inadequados, ausência de ambientes educativos diversificados, como laboratórios, bibliotecas, aparelhos esportivos, áreas de convivência e lazer e descuido com a alimentação escolar".
DIFICULDADES
Conforme a APP-Sindicato, as 2,1 mil escolas da rede estadual do Paraná dispõem de 100 mil profissionais e atendem 1 milhão de alunos. "Apesar das condições, muito vem sendo feito pelos trabalhadores da educação, o que deveria ser seguido pelas autoridades do Estado, eleitas ou nomeadas, e por muitos setores da sociedade, em especial os mais abastados. Não tratar problemas relacionados à escola e à educação como caso de polícia já seria um grande passo", defende Walquíria. Algumas medidas indicadas são garantir mais equipamentos, abrir concurso público e investir em espaços para debater e construir soluções mais eficientes.
Por meio de nota, a Seed informa que desenvolve iniciativas que visem à prevenção e ao enfrentamento de todas as formas de violência no âmbito escolar, por meio de práticas pedagógicas. Tais atividades, articuladas e acompanhadas pelos 32 Núcleos Regionais de Educação (NREs), consideram "a legislação vigente e a política educacional de formação integral dos educandos".
De acordo com a Sesp, o uso de drogas motivou o assassinato do estudante no Colégio Santa Felicidade. Segundo o secretário Wagner Mesquita, o inquérito policial poderia responsabilizar apoiadores da ocupação. "Foi solicitado que se encontrassem os articuladores, inclusive os pais. Temos notícia de coma alcoólico de menores [de idade] e outras situações que denotam que eles [pais] falharam no seu dever de tutela", afirmou, à época, em entrevista coletiva.
A Sesp também informa que abriu um canal de denúncia para concentrar informações sobre a movimentação. Em seis dias, a pasta teria recebido mais de 60 notificações de crimes. Em nota, o governador Beto Richa afirmou que as ocupações ultrapassaram "os limites do bom senso". "[O homicídio] É ainda mais gravíssimo e lamentável, porque aconteceu no interior de uma escola ocupada, que deveria estar cumprindo a sua missão de irradiar a luz do conhecimento e a formação da cidadania", escreveu.
A União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e Associação Nacional dos Pós-graduandos (ANPG) criticam a "tentativa de utilizar um acontecimento trágico como forma de criminalização dos movimentos sociais". O Ocupa Paraná informa que a família perdeu um dos seus "para o ódio, para a intolerância e para a violência". O movimento dos estudantes protesta contra a reforma do ensino médio, com flexibilização de currículo, proposta pelo governo federal.

Mariana Franco Ramos
Reportagem Local - FOLHA DE LONDRINA
Reportagem Local - FOLHA DE LONDRINA