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Como a criança escolhe o time que torcerá por toda a vida.

A pesquisa mais recente do Datafolha sobre tamanhos de torcidas na cidade de São Paulo tem um dado preocupante, em particular para o torcedor santista. Na faixa etária de pessoas com mais de 60 anos, o Santos tem 7% da população paulistana. Os percentuais afunilam conforme as idades diminuem. Na faixa mais jovem, de 16 a 24 anos, o clube da Baixada Santista tem só 3%. A pesquisa indica que, apesar de ter pelo menos duas gerações vitoriosas nos últimos 15 anos, o Santos não conseguiu formar torcedores em número suficiente para compensar os que envelhecem. Isso tem implicações financeiras. Clubes com mais fãs vendem mais ingressos, valem mais para patrocinadores e fornecedoras de materiais esportivos têm maior visibilidade na televisão. A pergunta-chave para um dirigente que queira formar novos fãs para o futuro, então, é: o que faz um torcedor escolher o seu time? Um acadêmico tem as respostas.
Rodolfo Ribeiro, professor de administração e marketing, pesquisou sobre o processo de formação de novos torcedores para a tese de doutorado que concluiu na Universidade de São Paulo (USP). Um trecho do trabalho envolveu entrevistas mais aprofundadas, feitas pessoalmente, com 30 pessoas. A pesquisa qualitativa. Outra parte consistiu nas respostas de 350 pessoas a um questionário sobre como e por que torciam. A pesquisa quantitativa. Há no mercado e na academia um consenso de que as crianças decidem para que clube torcerão pelo resto da vida entre 6 e 10 anos de idade. O acadêmico chegou à conclusão de que, neste período de escolha, três fatores são determinantes: (1) o time para que os familiares torcem, (2) a intensidade da torcida dos parentes e (3) os títulos conquistados – grandes ídolos, exposição na televisão, entre outros fatores, entram nesse terceiro item, que engloba a “performance” dos clubes.
O professor trabalhou com as estatísticas obtidas a partir das pesquisas para determinar, mais especificamente, qual o peso de cada uma dessas variáveis na escolha. O nome da técnica é regressão logística. É com ela que seguradoras definem os preços de seguros para automóveis com base em estatísticas sobre os riscos que correm, por exemplo. Ribeiro montou, a pedido de ÉPOCA, simulações para determinados contextos. A maneira correta de ler os dados é a seguinte. Se o pai é fanático pelo Corinthians, a mãe torce para o São Paulo e o irmão não tem nenhum time de preferência, num período em que o Palmeiras tem ganhado títulos, para quem a criança torceria? A probabilidade de ser o Corinthians é de 66%, contra 22% do Palmeiras e 12% do São Paulo. Isso porque o pai, se for fanático, tem uma influência maior do que a mãe, não tão engajada quanto o homem, e do que a performance palmeirense em alta.
As probabilidades mudam conforme o contexto (confira algumas simulações no gráfico). Se numa família os parentes não torcerem para ninguém, a chance de a criança pender para o time que está vencendo chega a 88%. Se todos os membros da família torcem para o mesmo clube, a probabilidade vai a 95%, mesmo que outro seja campeão. Tudo depende dos incentivos que o garoto ou a menina recebem entre os seis e os dez anos de idade. É isso que o clube de futebol precisa compreender para, estrategicamente, aumentar as próprias chances de formar uma torcida maior. A performance importa, claro, mas não há cartola que consiga ser campeão todo ano. Há dois ou três títulos relevantes por temporada para todos os clubes do país. Também está fora do alcance, hoje, o tamanho da torcida que as gerações passadas formaram. Mas há uma saída. Se o dirigente for bem sucedido na missão de engajar o torcedor que já tem, ao trazê-lo para perto do clube, não só alavanca o faturamento de imediato, porque o faz gastar com produtos e ingressos, como aumenta as chances de que seus filhos sejam conduzidos a torcer pelo mesmo time. Engajar pais e mães é essencial para o futuro.
Em tempo: os três clubes citados nas simulações são meramente ilustrativos. Ribeiro concentrou seu estudo em Corinthians, Palmeiras e São Paulo porque restringiu o alcance da pesquisa à cidade de São Paulo, mas os resultados valem para outras praças.
Por que você torce (Foto: ÉPOCA)

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