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NORTE PIONEIRO - Após morte de paciente, população contesta sistema de triagem

Método que classifica o grau de prioridade no atendimento por meio de cores que indicam a gravidade do problema tem gerado muitos questionamentos em Santo Antônio da Platina

A implantação do Protocolo de Manchester nas unidades de pronto-socorro de todo o País tem sido recomendada aos gestores municipais pelo Ministério da Saúde já há algum tempo, e tem por objetivo garantir eficiência e qualidade nos serviços prestados à população. Em Santo Antônio da Platina, no entanto, o método que classifica o grau de prioridade no atendimento aos pacientes por meio de cores que indicam a gravidade do problema foi intensificado somente a partir do mês passado, e desde então tem gerado muitos questionamentos em relação ao sistema de triagem realizado pelos profissionais. Há poucos dias, uma professora diagnosticada com amigdalite morreu em consequência de uma infeção generalizada provocada por um abcesso no ovário. Em outro caso, o vereador Genivaldo Marques (PSDB), que preside a Comissão de Saúde no Legislativo, e o vice-prefeito Francisco Monteiro, quase partiram para a agressão física por conta do problema, que acabou virando caso de polícia.

Na semana passada, um abaixo-assinado criado pela professora Amanda Nogueira Rosa reuniu 700 assinaturas em apenas duas horas de mobilização no centro da cidade. O documento pede a interdição da médica responsável pelo atendimento à também professora Thaís Hamada Tinto, que segundo Amanda Rosa, acabou morrendo em consequência da fragilidade no processo de triagem realizado pelos profissionais na unidade.

"A Thaís foi diagnosticada com amigdalite e morreu por conta de uma infeção generalizada na cavidade abdominal. Isso é um absurdo! Se o protocolo (de Manchester) é obrigatório e visa melhorar o atendimento prestado à população, a Secretaria da Saúde precisa antes de qualquer coisa qualificar o processo de triagem dos pacientes para evitar outras mortes", adverte.

O caso envolvendo a morte da professora Thaís Hamada Tinto foi denunciado pela professora Amanda Rosa ao Conselho Regional de Medicina (CRM), e o abaixo-assinado que pede a interdição da médica responsável pelo atendimento da paciente deve ser protocolado ainda esta semana na Prefeitura, na Câmara de Vereadores e no Ministério Público Estadual.

Confusão

A médica envolvida no caso foi procurada pela reportagem e negou as acusações. A profissional evitou comentar a denúncia, e disse que irá provar sua inocência na Justiça.

Para o vereador Genivaldo Marques (PSDB), o Pronto-Socorro Municipal não oferece estrutura para a implantação do Protocolo de Manchester. "Infelizmente ainda há muitas dúvidas quanto à capacidade técnica dos profissionais responsáveis pela triagem. Recentemente fui até a unidade durante a noite para avaliar o atendimento e me deparei com uma confusão enorme provocada pela falta de preparo da equipe médica. Crianças vomitando na recepção, idosos em situações críticas sentados nas calçadas e os plantonistas agindo como se tudo aquilo fosse normal por conta da implantação do tal protocolo. Aí chega o vice-prefeito (Francisco Monteiro) me chamando de oportunista, disposto a partir para a agressão física ao invés de resolver o problema. Será tão difícil assim enxergar que está tudo completamente errado?", questiona.

O parlamentar avalia ainda que para implantar o Protocolo de Manchester no pronto-socorro, primeiro é preciso garantir serviço médico à população nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), principalmente no período noturno. "A população só vai ao PS porque não encontra médico nas UBS. A unidade da Vila Ribeiro, por exemplo, é a única do município que oferece atendimento noturno, mas raramente se encontra médico trabalhando depois das 21 horas. Aí o cidadão vai até o Pronto-Socorro e é obrigado aguardar até quatro horas pelo atendimento por incompetência do poder público", pondera.

Saúde afirma que os problemas são pontuais

O vice-prefeito Francisco Monteiro não quis comentar as declarações do vereador Genivaldo Marques após a confusão que o envolveu no Pronto-Socorro, e disse apenas que o problema seria de competência da Secretaria Municipal de Saúde.

A responsável pela pasta, Ana Cristina Micó da Costa, disse que os problemas ocasionados por conta da implantação do Protocolo de Manchester no Pronto-Socorro são pontuais e servirão como parâmetro no processo de avaliação do novo sistema de atendimento aos pacientes.

"Houve uma mudança nos serviços prestados no pronto-socorro por recomendação do Ministério da Saúde, e a reação dos moradores seria algo natural e totalmente compreensível, principalmente nesta fase inicial. O método prioriza casos de urgência e emergência, e a classificação do atendimento é feita por profissionais qualificados. Acontece que o processo não tem sido compreendido por parte da população acostumada a procurar o PS para consultas de menor gravidade que deveriam ocorrer nas unidades básicas de saúde, onde há médicos disponíveis para atendimento em horários estabelecidos pela Secretaria Municipal de Saúde, conforme já é de conhecimento dos pacientes", adverte.

Em relação ao suposto erro médico que teria provocado a morte da professora Thaís Hamada Tinto, a secretária disse que a avaliação compete ao Conselho Regional de Medicina (CRM) e à Justiça. Entretanto, Ana Cristina orienta que em casos envolvendo questões éticas o paciente deve formalizar a denúncia contra o profissional junto à Secretaria Municipal de Saúde. (L.G.B.)
Luiz Guilherme Bannwart
Especial para a FOLHA DE LONDRINA

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