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Projeto da Embrapa investiga possível relação entre produtividade da soja e a atuação das abelhas

Entender a relação entre as abelhas e a soja e como esses insetos podem auxiliar no incremento da produtividade. Esses são objetivos de um projeto desenvolvido pela Embrapa Soja, de Londrina. A pesquisa é desenvolvida em parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a Universidade Estadual de Maringá (UEM). Teve início em 2016 e deve ser concluída em três anos. Os estudos são desenvolvidos em Passo Fundo (RS), Dourados (MS), Sorriso (MT), Campo Novo de Parecis (MT) e Luiz Eduardo Magalhães (BA).
"É preciso estudar o impacto da presença do inseto na lavoura de soja dentro da realidade brasileira e das variedades modernas que estão em uso. Vamos, por hipótese, supor que a quantidade de abelha aumente em 10% a produtividade. Se o produtor produz, por exemplo, 50 sacos por hectare, são cinco sacos que ele ganhou de graça. Às vezes, isso representa o lucro dele", comenta o engenheiro agrônomo Décio Luiz Gazzoni, pesquisador em entomologia da Embrapa Soja e autor do livro "Soja e abelhas".
O livro, lançado em inglês, em Berlim (Alemanha), durante a 9ª Conferência de Ministros de Agricultura do Fórum Global para a Alimentação e a Agricultura (GFFA), reúne uma ampla revisão bibliográfica. A versão em português foi lançada em Brasília, nas comemorações dos 44 anos da Embrapa. "A ideia do livro é ser uma linha base das informações sobre o assunto. Pretendemos ao final do projeto fazer uma publicação ampliada com os resultados das pesquisas", afirma o autor.
O livro foi o primeiro resultado do projeto, que pretende confirmar uma série de hipóteses sobre o comportamento das abelhas e a relação com a cultura. No Brasil, há mais de 2 mil espécies de abelhas-domésticas que produzem mel e os pesquisadores querem entender quais as espécies que visitam as plantações. Também vão estudar a distribuição das populações, e como as diferenças regionais podem influenciar, a hora do dia e o tamanho dessas populações, as suas relações com a temperatura e umidade. "São informações que não dispomos. Vamos começar um programa para analisar a relação genética delas", diz o pesquisador.

Reprodução/Livro "Soja e Abelhas"/Embrapa

Detalhe de uma abelha com o pólen da flor da soja, em flagrante do pesquisador Décio Gazzoni


ATRAÇÃO E FIDELIDADE
A soja não é uma planta polimerífera por natureza, mas com o avanço da cultura de repente a planta passou a ser uma opção de néctar interessante. Hoje, o País está chegando aos 35 milhões de hectares de soja. Os pesquisadores também estão estudando os fatores envolvidos na atratividade e fidelidade das abelhas. Como a flor da soja é muito pequena, eles querem entender qual o peso da flor na atração do inseto.
"Existem substâncias voláteis que a flor emite e que servem de orientação para a abelha. Queremos identificar essas voláteis e testá-las", explica Gazzoni. Algumas plantas só produzem sementes com polinização como por exemplo o maracujá, maçã e morango. O milho, por sua vez, se beneficia do vento.
"Os estudos clássicos dizem que, no caso da soja, quando a flor abre a maioria delas já está polinizada, mas fica uma determinada porcentagem a ser polinizada. Então, precisamos descobrir isso, qual porcentagem, e se por acaso qual o maior número de abelhas tem maior número de óvulos fecundados e mais sementes, por consequência, e maior produção. O benefício seria que as abelhas polinizariam as flores que não foram autopolinizadas, ajudando na produtividade. Mas tudo isso ainda são hipóteses", comenta o engenheiro agrônomo.
Há estudos, principalmente nos Estados Unidos, que apontam que quando a variedade é de baixa produtividade, a existência do inseto na lavoura não tem grande influência; mas em condições de produção adequadas, com tendência de produtividade alta, então a presença ou ausência de abelhas faria diferença.
O estudo pretende, ainda, identificar os fatores que fidelizam as populações em determina lavoura. Serão pesquisados a composição química e concentração de açúcar do néctar, as variações dessas contrações nas diversas variedades e a influência das condições climáticas.

SERVIÇO 
O livro está à venda na Livraria Embrapa (www.embrapa.br/livraria) e o E-book está disponível gratuitamente no www.embrapa.br/en/soja/abelhas.

Agricultores recebem orientação sobre manejo
A simbiose entre a soja e as abelhas é ameaçada pelo uso de agrotóxicos, por isso, os pesquisadores da Embrapa Soja vêm orientando os agricultores sobre o manejo correto. "Se não for aplicado de acordo com as boas práticas de manejo pode contribuir para a mortalidade das abelhas", adverte o engenheiro agrônomo Décio Luiz Gazzoni, pesquisador em entomologia da Embrapa Soja e autor do livro "Soja e Abelhas".
A orientação tem sido para o agricultor evitar ao máximo a aplicação de inseticida no período de florescimento, de preferência não utilizá-lo. Mas quando for impossível evitar o uso, procurar produtos com menor impacto, utilizar na menor dose possível, não aplicar com vento acima de 2 ou 3 km/hora.
Ainda, aplicar no fim de tarde ou à noite quando as abelhas não estão no campo e ter cuidado para evitar que o produto atinja as áreas de deriva (de mata ou capoeira). Os agricultores também são instruídos a fazer uso do controle biológico e de material resistente a pragas. "Estamos aprendendo algumas coisas do ano passado para cá, que já servem de recomendação", afirma o pesquisador.
Uma das fases do projeto visa estudar os modelos de negócios que a interação entre abelhas e soja podem render. Segundo Gazzoni, inicialmente, enxerga-se duas oportunidades: primeiro, o produtor colocar caixas de abelha para produção de mel para consumo da família ou venda. Mas como o período da floração da soja é pequeno, uns 30 dias, é preciso ter outras fontes para abastecer a colmeia.
E o segundo, seria uma parceria entre produtor de soja e apicultor. O apicultor poderia colocar caixas próximas da lavoura. Ele ganha com o mel, e o produtor, com a polinização da soja. "Estamos fazendo estudos para ver qual modelo de negócio é mais indicado. Mas essas são pesquisas mais demoradas", comenta o pesquisador. (A.M.P)
Aline Machado Parodi
Reportagem Local/folha de londrina

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