Vovô de 90 anos entra na universidade. “Estava acomodado”
Sem limites para aprender. É o que
mostra um vovô de 90 que fez vestibular, foi aprovado e se matriculou na
universidade para cursar arquitetura e urbanismo no centro
universitário Barão de Mauá, em Ribeirão Preto, São Paulo.
O desenhista de projetos Carlos Augusto
Manço decidiu voltar a estudar este ano e no primeiro dia de aula
despertou tanto a curiosidade dos colegas, que passou a ser o aluno mais
querido da classe e também o mais presente.
“Aqueles meninos me tratam bem também,
molecada boa. Eu fiquei meio esquisito no meio da turma, porque você vê
tudo meninos com cerca de 20 anos. Todos queriam conversar comigo,
cumprimentavam. Agora o negócio está indo bem, estou mais relaxado. As
matérias que eles estão aprendendo eu já sei. Eu consigo me adiantar um
pouco mais”, disse ao G1.
A convivência e os anos de experiência
levaram o vovô a se tornar uma espécie de consultor, quando o assunto
debatido em sala é conhecido dele. Ele oferece ajuda quando um colega ou
outro precisa.
”Eu tenho paciência com eles, eles não
me tiram do sério, não. De vez em quando eu dou uma ajudinha sim. Eu até
perguntei para a direção se eu podia ensinar algumas coisas se
precisassem e eles disseram que não tinha problema e que eu poderia
ensinar. Eu não posso é fazer para eles, mas ajudar sim.”
O idoso não pretende voltar mercado de trabalho ele quer apenas aprender mais.
“Até posso abrir um escritório de
associados com outras pessoas, mas eu não vou ocupar o lugar deles. Já
está difícil para eles [jovens], mais um ocupando fica mais complicado
ainda”, diz.
“Acomodado”
Carlos Augusto Manço trabalhou mais de
35 anos no Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto como desenhista
de projetos e está há quase 25 anos aposentado. Foi ele quem ajudou a
projetar grande parte da estrutura do hospital que existe até hoje.
“Eu já vinha ensaiando, eu não sei
explicar. Eu estava acomodado. ‘Por que eu vou esquentar a minha cabeça
se não precisa?’ Agora, tomei coragem e fui. Vamos ver se aguento
completar esses cinco anos. Eu achei que podia fazer, que ia saber
fazer, eu achei que ia ser fácil, mas dancei”, brinca.
“A cabeça está aprendendo a aprender.
Você para de estudar e a cabeça fica meio dura, mas o cérebro funciona
bem. Se não funcionar, você está morto”, diz.
Após servir no Exército e voltar a
Ribeirão, o idoso aprendeu a desenhar e conseguiu um emprego no
Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daerp), lugar onde
conheceu a mulher, com quem teve dois filhos.
“Como eu saí do Exército com 19 anos e não tinha uma profissão, eu consegui uma vaga no Daerp e aprendi a desenhar lá.”
Na universidade, ele conta que teve
dificuldades em algumas matérias da grade, como ‘Tecnologia das
Construções’ e ‘Metodologia Científica’. Em uma das provas que fez,
errou quase todas as questões.
“A primeira prova que eu fiz de material
reciclável errei todas as perguntas. Eu não tinha pegado o papel onde
tinha a matéria e depois eu fiz uma prova oral com a professora. Quando
eu estava no começo, eu perguntei se tinha errado tudo e eles disseram
que sim, eu tinha errado tudo.”
Ao saber dos erros, ele redobrou os
estudos, pegou o texto indicado pela professora e refez a prova. “A
professora me disse ‘ainda bem que você estudou, Augusto’”, lembra.
Amor
O volume de conteúdo é grande, mas Manço
estabeleceu uma rotina de estudos para não deixar nada pendente. No
entanto, alguns trabalhos ainda passam batido e os professores não fazem
corpo mole.
“Eu já tomei bronca, tomo bronca toda
hora. Eles falam ‘você deixou para amanhã, né, Augusto?’. Se você deixa
para amanhã, você não faz. Antes os desenhos eram feitos a mão com uma
‘canetinha especial’ e hoje é tudo no computador. Me parece que isso vai
ser eterno, ninguém vai voltar a fazer desenho em papel vegetal.”
Amor é a palavra que move o estudante.
“Se eu vou fazer uma casa para quem quer
que seja, eu tenho que colocar meu amor, meus sentimentos, minhas
vibrações. As paredes vão refletir aquilo para os novos proprietários.
Não adianta você fazer uma casa que a pessoa não se sinta bem dentro”,
conclui.
Com informações do G1 -SP / VIA ODAIR MATIAS