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Ex-mulher doa rim 12 anos após divórcio

Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, 79% das doações de rim feitas em vida são de parentes e 14,64% de cônjuges

Nem sempre quando um relacionamento termina significa que a história de amor chegou ao fim. Esse amor pode se transformar em uma grande amizade. No caso do mecânico Claus Ziegelmaier, 46, pode-se dizer ela permanece viva em seu rim, já que recebeu um deles da ex-mulher Elizabeth Caper Claro, 44, com quem namorou por oito anos e ficou casado por nove anos. Eles não tiveram filhos e estão divorciados há 12 anos. O caso é bastante raro. Segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), 79% das doações de rim feitas em vida são de parentes; 14,64% de cônjuges e somente 6,27% não possui parentesco algum.

Segundo a mulher do mecânico, Amanda Ziegelmaier, 33, tudo começou quando a família estava viajando e ele passou mal. "Ele estava com muita febre, mas não queria ir ao médico. No quarto dia depois desse episódio, ele foi ao hospital, fizeram uma biópsia e detectaram que tinha glomeruloesclerose segmentar e focal", lembra ela, informando que isso aconteceu há quatro anos. Trata-se de uma doença renal caracterizada por cicatrização (esclerose) e endurecimento de um segmento de alguns glomérulos renais. Os glomérulos filtram o sangue para remover substâncias indesejadas pela urina. "É uma doença autoimune. O organismo do Claus estava rejeitando o próprio rim. No fim do ano passado, a médica pediu para mobilizar toda a família, porque ele teria de fazer hemodiálise e logo o transplante seria necessário", relembrou.

Ziegelmaier afirmou que o processo de se submeter à hemodiálise era muito desgastante. "Embora filtre o sangue, traz problemas para o coração, para o fígado e para o pâncreas. Quanto mais tempo passa, mas debilita o organismo da gente, já que a hemodiálise tira também as coisas boas do sangue", explicou."Mudou toda a rotina de nossa família. Ele sempre trabalhou e era provedor do lar. Agora eu passei a fazer tudo. Eu não podia doar o meu rim, porque não sou compatível. Desde o princípio foi aquela busca, mas todo mundo que cogitava doar não passava nos exames", declarou Amanda.

Ela relatou que o estado do marido estava piorando, com anemia bem severa. "Se não melhorasse precisaria fazer transfusão, mas se isso acontecesse, ele não poderia fazer o transplante por seis meses. Nesse dia estava muito nervosa. Andava Calçadão, brigando com Deus por não poder fazer nada, quando a Elizabeth me viu", descreveu. Quando soube o que estava ocorrendo, a ex-mulher perguntou a Amanda como poderia fazer os exames. "A Amanda ficou espantada de eu estar propensa a fazer isso. Quando me separei do Claus, foi de forma tranquila. A Amanda frequentava a mesma igreja que minha irmã e tínhamos amigos em comum. Acabamos nos tornando amigas também", explicou. "Chorei. Fiquei bem emocionada. Voltei para casa correndo e dei a notícia para o Claus", disse Amanda.

Além de Claro, outras três pessoas realizaram exames para avaliar a compatibilidade, mas deram negativo. Foram quatro meses de avaliações e exames. A torcida da família foi etapa por etapa. "Quando o médico disse que os exames apontaram 100% de compatibilidade, para falar a verdade eu nem acreditei, porque é uma surpresa. Como disse o médico, só um irmão para dar tão certo", destacou o mecânico.

ALTRUÍSMO
Vencidas todas as etapas, a cirurgia foi realizada no dia 9 de novembro, no Hospital Mater Dei, em Londrina e Ziegelmaier recebeu alta no dia 30 de novembro. Um pouco antes da cirurgia, as macas foram pareadas e eles ficaram cinco minutos conversando. "O que ela fez por mim é um ato de amor que é incalculável. Eu falei para ela que Deus havia nos unido como marido e mulher, mas com o tempo nos separamos. Agora retornamos como irmãos de sangue. Nos colocou no mesmo caminho de novo", destacou o mecânico, dizendo que este será um Natal muito feliz. "Agora espero me recuperar bem."

Elizabeth Claro diz que "a ficha está caindo só agora." "Não fiquei em dúvida por um segundo. E olha que tenho pavor de hospital. Fiquei mais nervosa com os exames. O meu medo era que não desse certo", declarou.

Logo após a cirurgia, Arthur, 7, filho de Ziegelmaier e de Amanda, não pôde visitar o pai na UTI. Agora que ele recebeu alta, fica o tempo todo com ele. "Ele não quer nem sair de casa. Ele é a coisa mais preciosa que tenho", declarou.

Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal - 'Meu filho é a coisa mais preciosa que tenho', afirma Ziegelmaier
"Meu filho é a coisa mais preciosa que tenho", afirma Ziegelmaier


BALANÇO
O nefrologista da Iscal (Irmandade Santa Casa de Londrina), Getúlio Amaral Filho, ressaltou que o caso é bem raro. "A doação entre pessoas que não são parentes e não são casadas é de 2% a 3% dos transplantes. A atitude da Elizabeth é muito bonita. Uma atitude bastante altruísta, sem querer nada em troca, só para ajudar", afirmou o médico, um dos responsáveis pela cirurgia.

De acordo com especialista, o caso tocou o coração de muitas pessoas. "Talvez as pessoas enxerguem que podem ajudar os outros, mesmo que não sejam muitos próximas", destacou. A Santa Casa realizou em 2018 15 transplantes renais, cinco deles de doadores vivos. No acumulado desde 1985 a instituição já realizou 398 transplantes renais. O hospital também é habilitado a fazer transplantes de coração. Foram 59 casos desde 1994 e três deles somente em 2018.

Vítor Ogawa/Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA
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