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Pantanal tem mês de setembro com mais focos de incêndio na história


 G1 – O Pantanal passa pelo setembro com mais focos de incêndio desde o início da série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1998: foram 5.603 focos de calor detectados em apenas 16 dias, contra 5.498 registrados no mês inteiro de setembro em 2007 – o recorde para o mês até este ano.

Em comparação a 2019, quando setembro teve 2.887 focos detectados em 30 dias, o mesmo mês de 2020 já apresenta uma alta de 94%. O número de focos neste mês está 188% acima da média histórica do Inpe para setembro, que é de 1.944 pontos de incêndio.

O fogo já destruiu 85% do Parque Estadual Encontro das Águas, refúgio das onças pintas-pintadas. Com relação à área perdida para os incêndios, o instituto apresenta os dados mensalmente: a última estimativa, contabilizada até 31 de agosto, apontava uma perda de 12% do bioma neste ano – foram 18,6 km².

Para o diretor-executivo da SOS Pantanal, Felipe Augusto Dias, a única perspectiva de melhora na situação é a chuva – e em grande volume.

“Não tem outra perspectiva. O fogo fica queimando por baixo, vai queimando e depois surge de novo na superfície, porque às vezes a água não infiltra o suficiente. Para apagar, o ideal é que chova, e que chova muito”, explica Dias.

Ele explica que, mesmo antes da ocupação da região, o Pantanal já pegava fogo, só que a maioria dos incêndios estava associada a causas naturais, como raios – que costumam ocorrer junto com as chuvas, nos períodos úmidos, o que não é o caso agora. Além das queimadas, a região também enfrenta uma seca histórica – o maior período de estiagem em 47 anos, segundo o diretor. A falta de água contribui para o alastramento das chamas.

“Nessa época, não tem como afirmar, por exemplo, que seja o raio [a causa], a origem é humana. É um descuido, um momento equivocado de pôr fogo”, avalia. “O primeiro fogo é de origem humana; depois pode ter essa característica do Pantanal [em que o fogo queima por baixo do solo]”, diz.

Segundo Felipe Augusto Dias, a vegetação não deve demorar para se recuperar quando voltar a chover na região. Os impactos para a fauna e a economia regional, entretanto, ainda precisarão ser avaliados.

“A vegetação, se chover 15, 20 dias, ela está exuberante novamente. Dependendo do volume da chuva, alguns dias depois o verde começa a retornar. Só que o impacto direto do fogo é muito grande, principalmente na fauna e na questão econômica. O principal é a água, tem lugares que não têm água. O animal precisa de água – são os os ônus pós-fogo”, lembra.

Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace, é “muito difícil” fazer uma previsão sobre melhoras para a região incluindo para o ecossistema.

“Era sabido da ciência que a gente tinha uma estiagem no Pantanal. As contratações dos brigadistas foram atrasadas, que não conseguiram fazer nenhum trabalho de prevenção ao fogo. A melhor maneira de combater as queimadas é evitar o desmatamento e evitar que elas aconteçam”, afirmou.

“Continua queimando, então a gente não sabe até quando essas queimadas vão se estender – qual vai ser o real tamanho da destruição”, diz.

Alta na Amazônia

Amazônia também já registrou mais focos de incêndio até o 16º dia deste mês do que em todo o mês de setembro do ano passado. Em setembro de 2019, foram 19.925 focos de calor; neste ano, até quarta-feira (16), houve 23.277 focos, uma alta de 16,8%.

Há, ainda, uma alta no total anual de focos de incêndio. De janeiro até 30 de setembro de 2019, haviam sido registrados 66.749 pontos de fogo na floresta. Neste ano, de janeiro até o dia 16 deste mês, eram 67.290, aumento de 0,81%.

Somando Amazônia e Pantanal, o Brasil perdeu 53.019 km² de mata nativa devido às queimadas até 31 de agosto. O número é equivalente a 34 cidades de São Paulo, ou quase a soma dos estados de Sergipe Alagoas.

Embates com governo

Os dados do Inpe têm causado embates com membros do governo federal, em especial o vice-presidente, Hamilton Mourão. Na terça-feira (15), Mourão afirmou que “alguém” no instituto que faz “oposição” ao governo do presidente Jair Bolsonaro prioriza a divulgação de dados negativos sobre queimadas na Amazônia. Os dados sobre as queimadas são públicos e podem ser acessados por qualquer pessoa no site do Inpe.

O coordenador da área do órgão que monitora as queimadas respondeu que “jamais faria manipulação de dados”. Na quarta-feira (16), Mourão disse que desconhecia que os dados das queimadas são públicos, e pediu uma análise qualitativa ao instituto.

Os embates começaram quando Mourão declarou, na semana passada, que o Inpe estava “se contradizendo” (veja vídeo abaixo) quanto aos dados de queimadas na Amazônia. Segundo ele, os últimos dados disponíveis para o governo, de janeiro até o dia 31 de agosto, mostravam uma queda no número de focos de queimadas na floresta em relação ao mesmo período de 2019.

O vice-presidente afirmou, ainda, que o dado de setembro só seria fechado no final do mês, apesar de o monitoramento ser diário.

As declarações de Mourão foram feitas após ele ser questionado sobre uma reportagem publicada pelo jornal “O Globo”, que mostrava um aumento no número de queimadas de janeiro a 9 de setembro deste ano em comparação ao ano passado.

Em entrevista ao G1, Alberto Setzer, coordenador do programa de monitoramento de queimadas do Inpe, alertou que não há contradições e que são “períodos diferentes” sendo comparados. (Entenda detalhes neste link). Setembro, ele explica, é o mês em que a floresta mais queima.

“Setembro é o mês que mais queima na Amazônia – concentra em agosto, setembro e outubro, e o pico é sempre setembro. Setembro é o mês que mais tem focos. Temos que esperar o mês de setembro para poder dar uma análise um pouco mais sólida. Não adianta deixar o mês mais marcante de todos fora dos cálculos”, disse Setzer.

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