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Suicídio entre indígenas cresce no Paraná


 O número de suicídios de índios no Paraná tem registrado aumento expressivo nos últimos anos e preocupado autoridades e comunidades. Em 2021, de acordo com a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), 12 indígenas tiraram a vida no estado - a maioria jovens de até 20 anos. 

Imagem ilustrativa da imagem Suicídio entre indígenas cresce no Paraná
|  Foto: iStock
 

Como comparação, o artigo “Violência autoinfligida: jovens indígenas e os enigmas do suicídio”, da antropóloga Lucia Helena Rangel, da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), mostra que 18 suicídios foram registrados entre indíos no território paranaense entre 2013 e 2018. O estudo considerou dados do Cimi (Conselho Missionário Indigenista) e de órgão públicos da área da saúde.

Além dos suicídios e das tentativas de suicídio, estão ocorrendo casos de automutilação entre os jovens das escolas, principalmente entre indígenas Avá-Guarani, na Região Oeste do Paraná. 


Alertado pelo Cimi, o MPF-PR (Ministério Público Federal do Paraná) abriu um procedimento administrativo para agir em relação ao drama das comunidades. Indira Bolsoni Pinheiro, lotada na Procuradoria da República em Francisco Beltrão (Oeste)  e procuradora regional dos Direitos do Cidadão do MPF-PR, explicou que o MPF e o MPPR acompanham as ações desenvolvidas por um grupo de trabalho criado com o objetivo de conscientizar e criar um canal de comunicação com as lideranças e jovens indígenas para prevenir suicídios.


O grupo de trabalho realizou visitas nas aldeias e fez contato com lideranças, professores, grupos de jovens e de mulheres, rezadores e com as equipes dos municípios para saber como as comunidades estão lidando com a questão. Participam representantes do Cimi, da Sesai, do CRP/PR (Conselho Regional de Psicologia do Paraná) e da Funai (Fundação Nacional do Índio).


Segundo o MPF, as possíveis causas para o aumento dos suicídios e das tentativas de suicídios são a perda de território e de áreas para o plantio, racismo, pobreza e falta de assistência social nas áreas de saúde, segurança e educação, o que coloca os índios em situação de vulnerabilidade social.

"Os jovens se deparam com o preconceito e racismo nas escolas e também nas cidades próximas das terras indígenas onde residem. Quem vive nas aldeias dificilmente consegue emprego. São pessoas que são rotuladas de bugres ou selvagens. As comunidades indígenas vivem na miséria, e enfrentam a falta de estrutura. Isso gera agressões, tentativas de assassinato, alcoolismo e drogas”, aponta Pinheiro. 


Para trabalhar as necessidades e vulnerabilidades dos indígenas, acrescenta Pinheiro, é preciso primeiramente ouvi-los e verificar quais as necessidades básicas não atendidas. “E tentar fazer um mapeamento dos casos e suas causas similares”, declarou.


GUAÍRA


O cacique Natalio Ortiz Hite, das aldeias Tekoha Jevy e Tekoha Hite, de Guaíra (Oeste), diz ter preocupações relacionadas ao tema. “Temos muitas dificuldades. É uma preocupação não só minha, mas de meus parentes também. Os suicídios aconteceram aqui e atingiram jovens de 16, 17 e 18 anos. Eles se mataram por diversos motivos. Um parente morreu por não ter uma propriedade para cultivar. Como não temos a terra legalizada, precisamos de cestas básicas para sobreviver. Todo mundo precisa de dinheiro para viver mais tranquilo e a gente não tem garantias na aldeia.” 


Aos críticos que relatam que eles devem trabalhar, Hite explica que "ninguém quer empregar os indígenas". “Nós precisamos de qualquer emprego. Pode ser em um mercado ou outro serviço, mas nós precisamos mesmo. Há meio ano criamos uma associação, a Associação Guarani Hite, em Guaíra, para tentar atrair empregos para dentro da aldeia. Queremos que as pessoas contratem os indígenas para fazer serviços de costura”, diz. Ele também reivindica mais estrutura nas terras indígenas, como escolas estaduais, melhores moradias e serviços públicos de mais qualidade dentro das aldeias.


APUCARANINHA


Um dos suicídios registrados no ano passado ocorreu na Terra Indígena do Apucaraninha, em Tamarana (Região Metropolitana de Londrina). A enfermeira Adriana Fátima da Silva Mita, chefe da UBS local, vinculada à Sesai, relata que o caso foi relacionado a conflitos familiares.  “Foi de uma pessoa do sexo masculino. O marido permanecia o tempo todo na cidade, fazia uso de álcool e espancava a família. Após espancar os filhos e a esposa, as lideranças levaram ele preso na cadeia indígena. Logo após a prisão, ele tirou a vida com o tecido da coberta”, destaca. “Desde quando vim trabalhar aqui na Terra indígena Apucaraninha, em 2014, tivemos dois suicídios. O outro também foi do sexo masculino e também por motivos familiares”, relembra Mita.


FONTE - FOLHA DE LONDRINA

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